Saturday, March 13, 2021

Outro Quinta da Costa das Aguaneiras 2011

Introito

   - Faça assim: coloca na porta na geladeira, pra não ter a sensação de perda agora. Amanhã você joga fora... 
   Dessa maneira Don Flavitxo me aconselhou no final da noite de ontem, quando comentei que ainda tinha um tanto de Marqués de Requena na garrafa. Fui dormir passava da 1:00. Sentia um incômodo na cabeça como não experimentava há muito... "Vai dar PT", pensei... Até sonhei com alguém que queimava nos quintos dos infernos, mas no final não deu ("PT"). Escrevi no meu caderninho de cabeceira que deveria vingar-me de acordo, no dia seguinte. Nem seria difícil de esquecer... e também não precisava ser maligrina,  a vingança... mas teria de vir alguma...

Repetindo vinho

   Já abordei aqui a estória de repetir (ou não) vinho. Sinto que não dei um tratamento adequado à questão, não soube me expressar bem. E não sei se me darei melhor agora... 😖. Nada como insistir no erro, às vezes... 😜.
   Não existem regras absolutas no mundo do vinho. Bem, talvez as legislações... Convenhamos que desfrutar de um bom vinho, mesmo já conhecido, é sempre um prazer gratificante. Algumas vezes - quando a degustação é bem espaçada no tempo - temos o benefício adicional de acompanhar sua evolução. Assim, aquele vinho que você gosta, e você se crê com alguma experiência para escolher, e (é muito conectivo de adição!) tem bala para comprar uma caixa, seja de uma vez ou no curto/médio prazo, compre. Para um vinho relativamente jovem, e com potencial de guarda, será um prazer experimentar uma garrafa a cada seis meses, durante cinco ou seis anos. Na hora em que você fechar o ciclo, e tiver outras cinco caixas de cinco diferentes vinhos, será possível beber uma garrafa por mês de um bom vinho, repetindo cada rótulo a cada seis meses, durante anos! Essa é (não a única!) uma receita básica para ter acesso a um vinho 'legal' uma vez por mês durante um bom tempo. O resto, você preenche com vinhos do cotidiano. São esses que você varia sem dó nem piedade! 😂 E naquele momento especial, onde nada pode falhar, onde tudo saindo 'perfeito' será a coroação de uma noite maravilhosa, bom, para esses momentos você terá o seu 'vinho de confiança'. Pode ser um bom espumante, também!
   Seu gosto vai mudar com o tempo. Espero que sua condição financeira idem! Mas se o vinho for bom o suficiente - em outras palavras, se você estiver maduro(a) para fazer uma boa escolha - verá que o investimento valeu a pena. É preciso ter cuidado para não pagar 'os tubos' pelo vinho...
   Sempre compro vinhos e guardo-os por um tempo, antes de experimentar a primeira garrafa do lote. O transporte não faz bem a vinho. Ele precisa descansar após chegar a você. Dê-lhe tempo. Simples ou com pedigree, vinho é feito para ser respeitado, assim como eleitor vota para não ser enganado. E vinho não gosta de ser sacodido, empurrado, puxado, esquentado, esticado (sic!), e muito menos de 'mal olhado' (cuidado com o vizinho!). Ele se recupera de tudo isso, se não for sacrificado demais no transporte. Repito: dê-lhe tempo, ele precisa. A menos que seja um legítimo Vin de Merde, aí você recebe e bebe - e pow, esse você não precisa comprar na internet e pagar frete, eventalmente... esse você pode comprar na mercearia mais próxima da sua casa... Por isso é bom você comprar vinhos também na sua cidade: o vinho já foi transportado, eventualmente já descansou, e está esperando por você na loja. Pergunte sempre ao lojista quando o vinho chegou. Um mês de descanso é um bom prazo. Eu aguardo por seis meses. Cada louco com sua mania... 😵

Quinta da Costa das Aguaneiras 2011

   Aguaneiras foi um desses vinhos que comprei uma garrafa e guardei. E guardei bem mais de seis meses até experimentar. Hum... comprei mais uma. Foi na época em que o blog estava quase finando (sic). Depois comprei mais umas duas... e de repente o estoque acabou 😖. A postagem da penúltima está aqui. Sem pesar - se fosse para pesar (sic!), não abria - mandei ver a última como vingança sobre o malfadado Marqués de Requena. E que vingança...

Aguaneiras 2011 continua bom. Tá, passaram-se apenas sete ou oito meses desde a última. Mas é assim: continua felicidade engarrafada. Acompanhou bem o bifão ao molho gorgo. Nariz com fruta vermelha bem evidente, couro e alguma complexidade que escapa a este deficiente nasal. Mas a profundidade é evidente. A boca acompanha. Bom equilíbrio entre acidez, taninos e álcool. Nessa safra, é algo assim: se fosse 10% melhor, valeria o dobro! Melhor persistência do que vários concorrentes na faixa de preço; você engole, saliva e ele está lá, bem presente na boca; saliva mais, e lá está ele, acenando de volta, com um sorriso para você. Diga-me que não é a melhor definição de felicidade engarrafada... A safra '11 foi emblemática em Portugal, e esse exemplar demonstra isso de maneira espetacular. Preciso fazer notar que o vinho é tudo isso em sua faixa de preço. Por exemplo, Vallado Reserva Field Blend dá-lhe uma surra de paulada. Mas vejamos: Vallado '17 custa USD 38,00. Aguaneiras '17 custa USD 20,00... Não preciso desenhar, certo?

Uma palavra sobre o importador e outra palavra sobre 'repetição'

   Aguaneiras '11 foi importado sob auspícios do 'representante oficial' da marca no país, disse-me o sr. Oscar, da Enoeventos, de onde comprei minhas garrafas. Isso é comum no mercado. Enoeventos começou como um sítio sobre vinhos, e a algum momento - após anos dedicando-se à divulgação e discussão do mercado nacional - o sr. Oscar achou que era hora de abrir sua importadora. Eu seguia o sítio, e após comparar os preços cá e lá, tornei-me cliente de primeira hora. As compras que fiz - algumas até registradas aqui com 'preço ridículo' - sempre deixaram-me a forte sensação de estar a fazer boas aquisições. 
   Minha percepção de que a capacidade financeira de Enoeventos é algo limitada está bem expressa na variação de seu portfólio, conforme tenho percebido no correr dos anos. Já esteve bem forte em franceses, logo na inauguração, capitaneado pelos Ferratons. Manteve algo em espanhóis e italianos, desviou para uma boa força nos portugueses, de onde vieram os Chedda, Lavradores da Feitoria, Cabeças do Reguengo e outros, oscilou novamente para franceses, tem sempre um pé na Itália, atualmente com a Donatella Cinelli, e atualmente está forte nos espanhóis. Don Flavitxo espantou-se com o bom preço de seus Capellanes, desde o 'simples' Joven até seu ícone El Nogal. Não bebi qualquer um deles, mas a palavra de Don Flavitxo é - de longe, muito de longe - mais do que suficiente para que eu aposte em algumas garrafas desse produtor. Com o Korem, consegui amealhar umas 12 garrafas ao longo do ano passado e deste. Agora Korem está on demand, a cada seis meses vou desfrutar de uma. Estou 'trabalhando' atualmente os Capellanes. Recebi há pouco, vou demorar para postar. Bem, capaiz (sic) que arrisque queimar uma garrafa em curto prazo. Se o leitor duvida de que esse é o vinho que estou acumulando no momento com vista a oscilar com o Korem (outro rótulo que tenho são os portugueses da Romaneira, comprados em 'promos' da Lovino), então #ficadica:

Tem um easter egg na foto. Quem conhece, vai identificar. Capaiz (sic! rs!) que apareça nos comentários...

24 comments:

  1. Rapaz, aquela caixa lá em cima, à direita, parece tanto com o Parcela el Nogal...rsrs
    eu mesm

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    1. Matou o easter egg... parabéns... vou te chamar pra beber... só não tenha pressa...

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    2. Obaaaa!!!! Obrigado! Um vinhaço! Parabéns pela aquisição. Prometo levar um branquinho para abrir os serviços (não-nojentinho, claro...rsrsrsrs). Esse Parcela el Nogal tem que brilhar sozinho na noite! Bem, não é difícil faze-lo. A propósito, se abasteceu de Capellanes, hein? Que beleza!

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    3. Então... se conseguir eclipsar o Nogal, não ficarei nem um pouco triste... pode ser uma tarefa sobre-humana para sua adega baseada em branquinhos nojentos e tintinhos sem-vergonha, mas vai que vc em algo escondido... 😜

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    4. Bem, eu conheço bem o Nogal, e sei que é dificil bate-lo...rs. Mas sei qual é a intenção da provocação..rsrsrs. Mas pode deixar, que neste dia levarei um brancão... Mas não pode demorar...

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    5. Respondido abaixo... porque esta, a primeira, chegou sim...

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  2. Eu fiz um comentário mas acho que não foi...
    É difícil eclipsar o Nogal, pois é um belo vinho. Mas também, não é impossível. Mas não farei isso...rsrs. Sei qual é a intenção com a provocação...hahahaha. Deixarei o Nogal reinar soberano! Mas olha, não vai demorar 300 anos, né?

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    1. Difícil, mas nada como tentar, né?
      Teje intimado.

      Não, não pretendo demorar tanto... mas também não dá pra queimar, né? Abrimos nas sua bodas de ouro, que tal?

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    2. Devo ter pelo menos uns 50 vinhos que batem o Nogal na adega... Mas é um lugar honroso ele se colocar entre os melhores 50. Os que empatam, são em maior número. Mas não levarei nenhum deles, pois não quero tirar o brilho dele...rs. Não adianta provocar...rs.

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    3. Não há dúvida que é honroso...

      A única pergunta que fica é: com tanto vinhobão na adega, por que você sempre comparece com branquinhos nojentos e tintinhos ser-vergonha alguma? 😂🤣 E não é uma provocação... é uma 'constatação'... 😨

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    4. Bem, os últimos "tintinhos sem-vergonha" que levei para bebermos juntos foram: Muga Prado Enea Gran Reserva 2005; Quinta da Leda 2011; Paul Sauer 2008 e San Vicente 2006. Se você considera tintinhos nojentinhos, vou fazer o que? Talvez os seus leitores possam julgar se são ou não...

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    5. Vixe... Leda e Paul Sauer tirou do baú...
      Aquele outro Cabernet Franc, muito mais recente, vc escamoteou... o do Loire.

      Mas na verdade estava bom, só peguei no pé para não perder a forma...

      E os branquinhos também eram...

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    6. Ué... Mas foram os últimos tintos que bebemos juntos...rsrsrs. Coloquei todos na lista...rs.
      Mas prometo que no dia do Nogal, vou levar um branco que o justifique. Pode deixar!

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    7. Tá bom... Já que você não gosta de um bom borgonha branco, levo outro.

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    8. Mas aí não costuma ser branquinho nojento!
      Olhalá (sic) quem tava falando de Montrachet com a boca cheia...

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    9. Mas há como não falar de Montrachet sem ser com a boca cheia? Mas "Montrachet", eu só bebi uma vez, fruto da bondade e desprendimento de um amigo abonado...rsrsrsrs. Provavelmente, nunca colocarei um desse na cesta...rsrs. Mas uns belos Puligny eu até tenho na adega. Mas vai que levo e vc fala que é um branquinho nojento? Acho melhor não expor o coitado... rsrsrs.

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    10. No, no, no. Montrachet tem que ser tratado genericamente. Não pode haver dúvida quanto a isso. Você diz que bebeu um Romanée Conti não quer dizer que bebeu m um DRC. Pode ser qualquer um deles. Se bebeu um Le Montrachet, parabéns. Só bebi 'Montrachezinhos' das vilas. Pode servir comigo vendado - retribuindo aquela vez que vendamos você. Se eu disser que é branquinho nojento, pago a garrafa.

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    11. Puta merda... Montrachet tem que ser tratado genericamente... Tenho que ouvir isso. Bem, mas como o médico disse para não contrariar, não vou fazê-lo.
      Aquela vez que vendaram foi para ver se eu era capaz de discernir um branco de um tinto, às cegas. Só que deu com os burros n'água, né? matei de cara no nariz. E era um Corton-Charlemagne, se não me engano.
      Se eu servir um desses brancos, com você vendado, certamente não dirá que é um branquinho nojento. Dirá que é um tinto, com o paladar apurado que tem...rsrs. Como coloca aquelas carinhas de gargalhadas mesmo?

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  3. Ah, para não passar vergonha, vai dar uma estudadinha rápida para ver o que significa falar "Le Montrachet" ou apenas "Montrachet", a localização em relação à Chassagne-Montrachet e Puligny-Montrachet. Mas como você é teimoso que nem uma mula empacada, vai arranjar alguma classificação nova.
    A propósito, fique aqui matutando: Quer dizer que se eu beber um Romanée-Conti não posso dizer que bebi um vinho do Domaine Romanée-Conti (DRC)? Me explica esta, por favor.

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  4. 😣 Quanta confusão...
    Vc dizer que bebeu um RC não significa que bebeu um DRC.

    Um desenho não ficaria melhor do que essa frase... 🤣😆

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  5. Veja o que vc escreveu! A confusão foi sua. Vc insiste que se disser que bebeu um Romanée Conti não quer dizer que bebeu um vinho do DRC?
    E sobre o "Montrachet"? Não tem nada a falar? Ou vai fugir? rsrs

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    1. É análogo!
      Vá beber um RC desse, https://www.superadega.com.br/vinho-romanee-conti-romanee-saint-vivant-grand-cru-2006/p, depois fique dizendo que bebeu um DRC...

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    2. Se você beber um Romanee Saint Vivant deste que citou, estará sim bebendo um vinho do DRC! Assim, como se beber um La Tache, também estará bebendo um vinho do DRC! Mas se disser que bebeu um "Romanée Conti Grand Cru", também produzido pelo DRC, aí sim estará se referindo ao mais famoso deles.

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