Saturday, March 6, 2021

Queimas, queimas...


Introito

   A pandemia, além da clara e óbvia tragédia que se abate sobre a nação, tem causado nas classes abastadas - aqueles cuja renda mensal é superior a R$ 5,000,00(!), 900 dóla(!!) - os problemas ditos comezinhos. Durante mais de uma década planejei ter uma adega razoável. Implementei um programa (rs) de compras em oportunidades, fosse aqui, fosse , onde a constância era beber na semana a semana (não bebo no dia a dia...) os vinhos mais simples, enquanto comprava vinhos um, dois ou três degraus melhores. Claro que com a confraria eventualmente lançava mão de algumas 'reservas estratégicas' e fazíamos um bom rega-bofe. A cada dois meses alguém colocava um vinho melhor - tipo USD 50tão - e intercaladamente duas ou três vezes por ano fazíamos um verdadeiro pega-pa-capá (sic) com ticket. Usualmente o ticket era uns 100 dóla por garrafa. Saudades do dola a R$ 2,20-R$ 2,50... 😰
   A adega cresceu, maturou... e veio a pandemia! Vai que estou tendo (sic!, 😱) de literalmente queimar algumas coisas que vinha guardando há tempos para tentar degustar com confrades. Tudo bem que eles também poderiam ser menos medrosos, mocinhas (😂) ou prudentes. Navegar é preciso, viver não é preciso. A frase quer dizer que navegar é um ato de precisão (de acuidade, não de necessidade), enquanto viver não é um ato de precisão. Simplesmente porque de repente chega  a Roda Viva, e carrega o destino prá lá... entendeu, eu preciso desenhar? 😳
   Sei mesmo que resolvi espantar essa tal de roda viva e comecei a queimar meu estoque um pouco mais amiúde. Até porque os vinhos reba praticamente acabaram - outra jornada de uma década, consumi-los todos... Então vamos lá, queimas, queimas... sem dó nem piedade, porque Thanatos já é visível no horizonte. Tudo bem que caminha a passos lentos, e a cada passo dele eu também recuo um. Mas é quase certo que um dia ele me alcança... Saibam que ainda tenho uma última cartada na manga! Não conto porque senão podem tentar na minha frente, e quando chegar a minha vez ele estará... estará... estará... vacinado. Aliás, alguém sabe da vacina? 😆

Principal Reserva 2007

Já falei da Quinta Colinas de São Lourenço quando bebi seu vinho mais icônico, o Principal Grande Reserva 2008. Principal Reserva é um vinho da Bairrada, corte indicado de Touriga Nacional, Cabernet Sauvignon e Merlot, sem indicar as proporções. Sua sugestão de guarda é de até 20 anos, e faz jus. Analisado com duas horas de abertura, mostrou ótima fruta, um tostado e especiaria. Na boca a especiaria se repete, mas não tem a picância de ponta de língua que para mim caracteriza os exemplares mais facilmente reconhecíveis da Cabernet Sauvignon. Os taninos amaciaram, a acidez está harmonizada, tem boa persistência a retrogosto bem presente. Pode beber, e não é 'sem susto'; é com muito prazer mesmo. Paguei cento e algo, tá, há uma década, dóla de R$ 2,20. Não sei na mão de que importadora esse vinho foi parar, mas taí um vácuo que também pode ser uma oportunidade. Olho para minha Prateleira Celestial - modesto espaço onde cabem cinco ou seis garrafas do que tenho de melhor - e noto que ainda tenho outra garrafa dessa mesma safra. O Humberto, simpático representante da importadora à época, vez mesmo um belo trabalho de divulgação do produto, porque acabei comprando um Grande Reserva e dois Reservas... e talvez devesse ter comprado três...

2 comments:

  1. Esse negócio de pica na ponta da língua, tô fora.

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    1. Um mero recurso estilístico para ver quem presta atenção no texto... 🤣

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