Saturday, April 24, 2021

O colonialismo e o último dos moicanos

Introito

O Último dos Moicanos, escrito por James Fenimore Cooper, foi lançado em 1852 e é uma das obras-primas do romantismo norte-americano. Por aqui, e na mesma época, entre 1852 e 1853, Manuel Antônio de Almeida lançava, em folhetins, seu excelente Memórias de Um Sargento de Milícias. Ele tinha apenas 22 anos. O Último dos Moicanos teve diversas adaptações para o cinema, mas só assisti à última, que gostei muito. Também achei a música tema excepcionalmente bem composta. Vai que virou clichê referir-nos por o último dos moicanos a qualquer lata de cerveja em churrasco, quindim no balcão da padaria ou o torresmo que caiu no chão no bar onde todos estão bêbados e que ainda assim o mais rápido pegou e não se fez de rogado. Nós, enófilos, às vezes nos referimos ao último dos moicanos quando abrimos a garrafa derradeira de um vinho que compramos em bom número.

Visconde de Borba Reserva 2009

Como relatado, comprei uma caixa com três safras do Visconde de Borga Reserva: 2007, 2008 e 2009. A 2007 foi degustada quando o blog estava quase finado, a 2008 é a que foi resenhada, e agora chego à última das moicanas (rs). Após uma hora e meia de aberta, apresentou nariz com boa fruta vermelha, toques terrosos e de madeira e especiaria. Boca com aquele doce típico português, especiaria, fruta vermelha repetindo o nariz e taninos bem presentes. Com a acidez bem marcada, caracteriza um vinho de bom corpo, com final igualmente bom. É um corte de Alicante Bouschet, Trincadeira e Tinta Caiada, 14,5% de álcool, com estágio em madeira. Um bom conjunto. Lá fora (EUA), está entre USD 20,00-22,00 (safra '16), com os impostos. Como no caso postado anteriormente, parece-me que existem melhores opções nessa faixa de preço. Por aqui, está entre R$ 130,00 (Banca do Ramón) e R$ 269,00 (😖) na Vinho e Ponto. Estava em 'promo' há algum tempo, mas parece que acabou a alegria. Ou a Banca do Ramón subitamente mudou para uma as melhores relações custo-benefício do mercado (não é minha impressão, mas não acompanho muito), ou algo está errado. Um leitor comentou-me por uátizáppi (rs!) que tem preferido os espanhóis. Comprei alguns em ótimo preço recentemente, até comentei em alguma postagem: os Capellanes. O que degustei na última quinta-feira deixou-me entusiasmado. Então, é isso: estamos sendo colonizados demais, pagando, algumas vezes, preços abusivos por vinhos relativamente simples - apesar de bons - que não resistem a uma comparação de preços no mercado. Espero que nosso destino não seja igual ao dos índios nativos das américas, que sofreram principalmente com as doenças trazidas pelos colonizadores e menos com a pólvora de seus bacamartes. Da minha parte, vou brandir meu tomahawk (ou minha borduna, para os mais nacionalistas), e sentar porrada na cabeça de energúmeno. Porque resistir é preciso.




16 comments:

  1. Então, como um dos últimos moicanos que defendem publicamente a justa relação preço qualidade, diferente de alguns leitores de passagem que criticou essa postura do blog ( gosto de criticar mas não nesse aspecto..rsrs), essa diferença de preço incomoda. Também vejo muita diferença de preço n web, o que nós dá ainda alguma folga para as boas práticas de oferta de mercado. Por último, a qualidade dos vinhos do pessoal da metrópole hispânica me dá mais vontade de arriscar alguns dos meus últimos reais moicanos. Tenho dito. Luidgi.

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    1. Olá, Luidgi, obrigado pela participação.
      A web de fato mostra essa diferença sim.
      Algumas postagens atrás comentei o fato de estar, neste momento (e quando possível), comprando justamente alguns espanhóis. Uma opção no momento está na Enoeventos, principalmente (mas não só) nas linhas Capellanes e Juan Gil. Veja também a postagem sobre o Baron de Ley Gran Reserva.
      []s, e obrigado
      Eonochato

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  2. Tomei este vinho uma vez. Não gostei. Não vale nunca o valor cobrado, nem o menor deles.

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    1. O menor, acho que vale. Claro, cada um com sua opinião. De qualquer maneira, mais uma importante participação anônima que só reforça alguns comentários deste Enochato.

      Obrigado!

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    2. Digo isso comparando com vários outros portugueses do alentejo. Você já bebeu o Rapariga da Quinta Reserva? Consigo aqui no nordeste por 110 e é muito melhor que este Visconde de Borba. O Adega de Borba rótulo de cortiça pego por 150. Também é bem superior.

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    3. Não, não conheço esses. Aqui em S. Carlos a oferta é pouco variada, e muitas vezes compro pela internet na oferta que consigo. Às vezes podem não ser os melhores vinhos, mas o preço está mais condizente. De qualquer maneira, obrigado pelas dicas!

      Apenas vou extrair um trecho de sua mensagem, "Consigo aqui no nordeste por 110 e é muito melhor que este Visconde de Borba" para reforçar que muitos vinhos são vendidos no Brasil com margens muito altas, e isso depende da importadora. Se a margem fosse menor - e o custo também! - então a equação estaria mais fechada, paga-se menos por um vinho inferior. Mas saber que aí você pega um vinho melhor, e por preço menor, desanima de comprar desse importador...

      []s, e obrigado,
      Carlos

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    4. Estou de acordo. Eu já andei a comparar preços praticados aqui e em São Paulo, e fiquei surpreso. Os preços dos vinhos portugueses aqui são bem melhores. Pode parecer estranho, devido à alta temperatura do nordeste, que apreciemos vinhos tintos. Mas isso acontece, principalmente com os vinhos portugueses. Há larga tradição no consumo desses vinhos por aqui e contamos com uma ótima importadora que nos traz muitos deles, a bons preços. Conheces a Licínio Dias?
      Abraços,
      Paulo Mendes

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    5. Olá, Paulo.
      Como sempre denuncio, estamos nas mãos de grupos grandes, que representam milhares de rótulos, e praticam o que chamo de margens 'pornográficas', dominando o mercado por meio de representantes e lojistas desavisados.
      Ainda assim encontramos boas opções em algumas importadoras pequenas, que podem não possuir o melhor catálogo (em termos de 'medalhões'), mas possuem produtos comparativamente mais honestos.
      Apesar da temperatura, não estranho a disseminação do vinho no Nordeste, porque o bom gosto habita em todos os lugares. Aqui em S. Carlos chega a fazer 35 graus. Vou para a adega e bebo meu vinho no ar-condicionado. Em Ribeirão Preto, cidade próxima e com temperaturas mais altas, o hábito se repete.

      Não conhecia a importadora Licínio Dias, e já lamento o falecimento de seu proprietário no final do ano passado - a internet é uma ferramenta poderosa, não é mesmo? Uma pena; tenho a idade dele, e notamos que tudo o que diferencia o fato dele ter-nos deixado e eu estar vivo é um 'mero acaso'. Viver não é preciso, como dizia o poeta...

      Quanto está 'valendo' um Herdade dos Grous por aí, saberia dizer-me?

      []s,
      Carlos

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    6. Caro Carlos,
      Primeiramente, perdão por ter comentado como anônimo anteriormente. Por vezes, evito me expor, por motivos particulares.
      Realmente, foi uma perda lamentável do Sr. Licínio. Mas ele deixou um grande legado.
      Quanto à sua pergunta, a qual Herdade do Grous se refere?
      Abraços, Paulo

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    7. Olá, Paulo. Não há problema que permaneça no anonimato. Vale mais a boa conversa.
      Verdade, não fui preciso... sempre bebi o Grous mais simples, o "Herdade Dos Grous". Apreciei algumas garrafas há muito tempo, e gostava bastante. Depois - já era um tanto caro - subiu demais por aqui e procurei outras opções.

      []s,
      Carlos

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    8. Caro Carlos,
      Este Herdade do Grous de entrada eu compro aqui por 90 Reais. é um vinho que costumo beber sempre. O Reserva, custa bem mais caro, na faixa de 250 Reais. Eu bebi um 2015 recentemente e estava excelente.
      Abraços, Paulo

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    9. Olá...
      😖 veja só... aqui está R$ 170,00, em boa oferta, mas em vendedores onde ainda temos que pagar o frete...
      O Reserva, experimentei uma vez em degustação. Muito bom. Aqui está entre R$ 300,00 (nem tão ruim, em comparação) e... R$ 500,00!
      []s,
      Carlos

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    10. Olá Carlos,
      170? É caro.
      Em relação ao Grous Reserva, 300 não está ruim. Se você encontrar neste preço, pode adquiri-lo, pois pelo que pesquisei, está bem acima disso. Os 250 que pago parece ser um valor bem abaixo do mercado.
      Abraços, Paulo

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    11. Olá novamente.
      Pois é, muito caro. E o Reserva, não está ruim mesmo. Difícil mesmo está ser encontrar 'coragem' (rs) para investir tanto em um vinho nesses tempos difíceis de pandemia. E sim, concordo: esses R$ 250,00 estão realmente bem empregados...

      []s,
      Carlos

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    12. Olá Carlos,
      Vi agora no lugar que compro sempre e o Herdade dos Grous Reserva passou para 330. Se encontrares aí por 300, acredito ser uma boa compra. Como disse, bebi o 2015 recentemente e está espetacular.
      Abraços, Paulo

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    13. 😖 estamos ficando cada vez mais pobres...
      Deus tenha piedade de nós...

      obrigado!
      Carlos

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