Saturday, April 17, 2021

O dia da Malbec

Introito

   - É o marketing, estúpido! 
   Por um segundo pensei que poderia ter ter cunhado outra frase na esteira do James Carville, mas essa soou um tanto óbvia. Minha frase anterior era menos evidente. Pesquisando, descobri que o Nizan Guanaes já a havia lançado. Apenas mais um exemplo de que este Enochato foi plagiado novamente quando tomamos o sentido inverso do tempo 😂. Voltando, é dia dos pais, das mães, dos namorados, sob pressão tem até coelho botando ovo, e assim caminha a humanidade. Eis que chegamos ao Malbec Day, um dia para a celebração dessa cepa que (parece) desapareceu da França com a filoxera e depois foi replantada a partir de mudas Argentinas. O mais curioso é ver alguns (pseudo)críticos falarem maravilhas da delicada Malbec enquanto por aqui lançamos um perfume masculino com esse nome. Um ogro morador de caverna com piso de madeira usando um... delicado perfume Malbec... tá... 🤣.

Alta Vista Alto 2006

   Alta Vista é tida como uma das mais importantes vinícolas da Argentina. Mesmo seus vinhos de entrada - pelo que me lembro, e pelo meu 'treino' de então - são de boa qualidade. O bebedor poderá encontrá-los superiores a similares chilenos e à grande maioria dos demais argentinos, na faixa de preço. Já havia bebido, há muitos e muitos anos, seus três Single Vineyards Alizarine, Serenade e Temis, em momentos diferentes. Não postei nenhum deles, acho, mas todos muito bons. Após guardá-lo por mais de 10 anos, chegou a vez do ícone Alto. 
Alto 2006 chegou aos 15 anos em plena forma. Nariz marcado por fruta intensa, baunilha evidente e algum açúcar, que cede depois de duas horas, quando aparece o trio que sempre me confunde (rs), chocolate-café-couro. Escrevendo agora, mais de duas horas, a boca inicialmente um pouco doce também se equilibrou: o álcool diminuiu (escapava só um pouco), a madeira esta bem presente mas sem excesso, o dulçor está bom, e a impressão de chocolate amargo permanece por um bom tempo na boca. A acidez surpreende para um sul-americano, é média. Melhor do que Chiantis mais simples do nosso mercado, por exemplo. No meio a tudo isso, os taninos apresentam-se muito amaciados - mas pudera! 15 anos... - Sem presunção, é um dos melhores sul-americanos que já bebi, ao lado dos Bramares, da Cobos. Para um corte 75% Malbec 25% Cabernet Sauvignon, a Cabernet lembra um Bordeaux elegante: não tem a picância típica que ela apresenta na maior parte dos vinhos; é muito discreta. Um vinhão, o melhor que podemos chegar a dizer de opulento para um vinho destas bandas. Alto você pode colocar debaixo do braço e ir para a Europa mostrá-lo como um representante do lado de baixo do Equador. Ele vai até levar uns tabefes, mas deixará olhos roxos em troca. Principalmente pelo preço 'lá'. Esse talvez seja o maior problema. O 'correto' é esperarmos que o vinho em seu pais de origem tenha bom preço. Na linha dos chilenos, Alto custa cerca de USD 100,00 na Argentina e no Brasil, USD 88,00 nos EUA e USD 73,00  na Europa, vide abaixo. Então ficam perguntas que não aceitam ser caladas:
* Por que o consumidor Argentino precisa pagar tanto por um vinho nacional que custa mais barato lá fora?
* Notamos que o vinho custa aqui praticamente ao mesmo preço da Argentina, apesar da nossa tão bem conhecida taxação excessiva. Tolice dizer que 'é Mercosul'; a taxação interna por aqui é sabidamente muito grande. Quero dizer: o pirmeiro ponto repete-se aqui! O pobre cidadão argentino corre o risco de pagar aqui um preço menor que em seu país!
* Alto sai da Argentina, pega o navio (sic) e aparece nos EUA ou Europa custando até USD 80,00! Peraí (sic! rs!), saiu da Argentina por quanto? Ô cambada desordeira! Alguém me explica por que não é mais patriótico vender o vinho a seus conterrâneos pelo mesmo preço que exporta (tá, acrescente os impostos nacionais. Mas desconte também o custo do frete internacional!) e incentivar o turismo regional onde turistas possam levar o produto a um preço mais atraente, em vez de explorar os nativos e vizinhos e sentar no colinho dos gringos. Porque na hora de falar mal dos ianques os argentinos querem aparecer em primeiro lugar!
* Finalmente, e não menos importante, o vinho chega na Europa/EUA, o pobre (sic) importador ainda tem custos de armazenagem, marketing, distribuição a restaurantes (sic), e vemos o vinho lá custando mais barato do que por aqui, como defendem os energúmenos de plantão destas terras. Novamente a pergunta: saiu da Argentina por quanto? Se os argumentos dos energúmenos valem, deve ter saído por 1/4 do preço de lá, menos de USD 20,00... Será? Que saiu mais barato, acredito. Tão mais barato, suscita a pergunta inversa: e os europeus, saem de lá por quanto menos?!, para custar o que custam aqui?




















2 comments:

  1. Vinhão, Big Charles! Bebi o 2005 há exatamente 9 anos, e na época, eu coloquei na postagem que era vinho para aguentar tranquilamente mais 10 anos. Confirmado!
    E você se empolgou tanto que apareceu até um Aalto na postagem...rsrs.
    Abraços,
    Flavitz

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    1. Olha a gafe do Aalto... provavelmente digitei com minúscula, fui revisar e encalacrou tudo 😅.
      O vinho está mesmo em ótimo momento para beber. Aguenta mais um tanto, um, dois anos com tranquilidade, mas lembraria sua máxima 'melhor um ano antes do que um dia depois'.
      obrigado.

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