Sunday, May 23, 2021

Rescaldos de uma degustação bem fadada

Introito

A degustação da Enoeventos que acompanhei no Bistrô Graxaim continua rendendo assunto. Lembram quando disse que tinha levado um vinho de minha adega? Pensei (tudo errado 😖) em um tinto mais simples para começar os trabalhos. Sisqueci (sic) que a entrada seria com branco... um tinto de entrada atravessaria a batucada. Claro que abri e deixei em espera. Vinho que sobra nunca é demais. Você só nota algo estranho quando ele falta... quando sobra, o máximo que pode acontecer é os bebuns saírem chorando, enquanto o anfitrião vibra porque no dia seguinte poderá degustar dos exemplares mais oxidados e acompanhar sua evolução. Um must, como diria alguém... simplesmente um luxo, como diria outro...

O chef Gustavo também se tocou lendo a última postagem e enviou duas fotos de seus preparos. Aí gostei... O Ghidelli deu uma sugestão que faz todo sentido: para não correr o risco de que o grão de bico não ficasse um pouco duro - na opinião dele estava - uma alternativa seria servi-lo em forma de purê. Se estava mesmo, não sei; estou pouco acostumado a essa iguaria e meus dentes ainda estão bem presos no céu da boca (no céu... porque no chão (sic), um deles balançou, uns poucos anos atrás. E foi embora. Era um dente de leite...), de maneira que estou sob suspeição. Mas voltando, se o grão de bico estava um pouco duro, não posso dizer. Mas se estamos conversando sobre isso, quando a assunto principal é vinho, então o assunto despertou interesse dos degustadores. O próprio Ghidelli disse que era um detalhe, e que a comida estava muito boa. Sempre acho que críticas (procedentes) ajudam mais do que elogios. Se ele não comentar com o Gustavo, fica o registro. 

MOB Lote 3 2017

 O vinho que tinha levado para a degustação foi o MOB Lote 3. O nome deriva da associação de três grandes produtores portugueses que juntaram em um projeto comum: (Jorge) Moreira, (Francisco) Olazabal e (Jorge Serôdio) Borges. O primeiro já produzia o Quinta da Poeira; o segundo, nada menos que os Meão, e o último - mas não menos importante! - é responsável pelo Pintas. O projeto conjunto focou em parreirais na sub região Serra da Estrela, localizada no Dão. MOB estava muito fechado, na quinta-feira. Expressou pouca fruta; a boca também estava fechada, mas notava-se taninos pegados, acidez presente. Na sexta-feira também não abriu - eu que abri outro vinho - e hoje, sábado, continua irredutível. O vinho não está estragado ou comprometido. Se estivesse, acho que teria decaído bastante nesse tempo. Não foi o caso. Vinhos do Dão sempre apresentam alguma aresta, talvez característica do solo vulcânico da região. Ora, nesse contexto não podemos considerar 'aresta' como 'defeito'; é algo que pode sobrar, mas no caso dá justamente a nota do terroir da região. Claro, tudo o que você leu aqui pode estar errado. Li isso em algum lugar, não lembro onde... Acho que Richard Bach. Para quem sabe, a referência basta. Não é um vinho complexo (no preço): cerca de USD 11,00. Seu corte é composto por Touriga Nacional, Jaen e Alfrocheiro, com modestos 13% de álcool. Não consigo dizer se o futuro dele será glorioso, se minha garrafa simplesmente 'miou' ou se o vinho é um ledo engano. Na verdade, pela trajetória dos produtores, é impossível que seja ruim; descartaria a terceira opção. Sei que está à venda na Adega+ por R$ 119,00. Custando 'lá' USD 11,00 (R$ 60,00), é um preço bem convidativo. Comprei três garrafas, e acho que é o caso de guardar mais tempo. Três anos? Quatro? Talvez compre outra garrafa com o tempo, e se o preço continuar assim; arriscaria guardar as três por um tempo. Ah, em outros lugares o vinho está... R$ 199,00... próximo dos pornográficos 3x, o que já é um acinte. 

Seismic 2015

Na sexta-feira, enquanto escrevia sobre o evento da quinta, estava acompanhado por um vinho da Saronsberg, que é um produtor da região de Tulbagh, na África do Sul. Seismic é um corte 42% Cabernet Sauvignon, 16% Petit Verdot, 27% Merlot, 10% Cabernet Franc e 5% Malbec. Escrevo no segundo dia. Mantém nariz com boa fruta, a madeira permanece evidente (mas contida; nem sombra do que eram os chilenos da primeira década, madeira que espetava), algum outro toque cuja conexão insiste em fugir e não consigo interpretar. Boca com leve picância da Cabernet, bons taninos, acidez média, embora um tanto ligeiro no final, mas deixa uma boa marca na boca. É um vinho de 150 Rands Sul-Africanos, o que dá uns R$ 62,00, ou próximo a USD 11,00. Aqui começa a bateria de testes - nesse caro, necessária. Seu preço no Savegnago S. Carlos é R$ 146,00. Dá 2x mais um tanto. Está no limite de ser uma boa compra. É importado pelo grupo Verdemar, a quem já cedi loas, inclusive em postagens recentes. Fui conferir o preço por lá, e está... R$ 192,00! Aí não! Voltamos aos pornográficos 3x. (batendo palmas): E aí, Verdemar, o que aconteceu?! Vendeu o voto e alma pro diabo?! Onde vos conduz essa indolência? Olhei o sítio deles estes dias, para ser surpreendido com diversos vinhos reajustados a preços acima da variação do 'dóla' entre 2020 e 2021 - os tais 40%. Repetindo, diversos vinhos, nem todos. De qualquer maneira, uma margem próxima a 3x, para um grupo supermercadista, é indesculpável e inaceitável. Como sempre, vale a sugestão que não me canso de registrar no espaço: ao pensar em realizar sua compra, principalmente para um vinho de maior valor, consulte o wine-searcher e verifique as margens. Para a do Savgnago, como disse, está no limite de valer a pena. Embora os Falcoaria pareçam-me compra mais vantajosa, por R$ 99,00. Pela acidez ainda é um vinho que bate os sul-americanos na faixa de preço do Savgnado. Para chegar a R$ 200,00, já há compras de franceses, e aí o chão afunda.

No comments:

Post a Comment