Monday, August 9, 2021

Vinho de supermercado

Introito

   Comentei tempos atrás que as redes supermercadistas estão 'indo atrás' e importando por conta própria. Nosso mercado pode estar algo loteado, com os grandes produtores representados pelos tubarões de sempre, mas ainda existem mais rótulos do que os mal-intencionados podem abarcar. O leitor seguramente não encontrará um primeiro vinhedo de Bordeaux nessas redes - mas convenhamos, supermercados também não são lugar para tal. Nem Gran Crus da Borgonha, ou muitos outros similares. Mas pode sim encontrar Premier Crus borgonheses, ou Cru Bourgeois e até Cru Bourgeois Exceptionnels. Duvidou? Vide aí...

   É desse mesmo grupo, o Verdemar, que andam jogados aqui em S. Carlos, nos corredores do Savegnago, Chiantis, portugas, Crozes-Hermitages, Brunellinhos, Plugias e outros. Acabei com vários 😑. Não por levado tudo, mas sim por pegar as últimas garrafas... Alguma tranqueira também tem, porque os supermercados de S. Carlos não limitam-se a comprar de apenas um grupo importador. Tem que ficar atento. No mais, viva a diversidade, e eventualmente vamos experimentando um aqui, outro ali.

Chianti Classico Coli

Já tinha notado a garrafa no Savegnago desde o final do ano passado. Do meu lado, estoques reguladores baixando, garrafas remanescentes correndo para baixo da mesa sempre que abro a porta da adega, na maior aflição... o leitor imagina como é... Bem, resolvi arriscar acreditando na competência do importador: comprei o Chianti Classico Coli 2016 planejando degustá-lo no jantar, com meu já famosíssimo filé ao molho gorgo. Abri enquanto começava a preparar as batatas, e desanimei com o primeiro contato. Nariz um pouco fraco, boca até pior. 'Melhor deixar', pensei comigo, enquanto voltava a atenção para alguma notícia da internet e as batatas entravam no air fryer. Primeiro round das batatas, carne na frigideira, daí para o forno, preparo do molho gorgo... normalmente são vinte minutos. PF - eu não falei polícia federal! 😖 - sentei e fui ao segundo ataque. Tinha melhorado um pouco, mas não muito; na refeição, não foi tão agradável. Nagib chamou do Chile, reforçando o convite para passar as festas por lá, e conversamos por boa meia hora. Por volta das 22:30 voltei novamente atenção ao vinho. O milagre ocorrera: o bouquê encontrou o paladar e a harmonia estalou os dedos. Não me ocorre com muita frequência, mas tinha nota de cereja bem marcada. Algo terroso ou couro, não peguei bem. Boca equilibrada, fruta, acidez média, taninos pegando um pouco. Os 13% de álcool bem comportados, final um pouco ligeiro mas com um retrogosto mais presente; uma característica diferente. A safra '16 foi muito boa na Toscan, e o exemplar pode estar um pouco novo. Para um Chianti básico (é um Classico! - sic! rs!), está bom. Mas precisa de ar, e por uma hora e meia, pelo menos. Seu preço 'lá' está em USD 12,00. Paguei R$ 88,00 aqui. Subiu um pouco no sítio da Verdemar (R$ 96,00). Com um dóla a R$ 5,00, daria R$ 60,00. Esse vinho entrega. Veja, é um vinho básico, com bom custo-benefício para nosso mercado. Mas ainda são 88 moedas. Isso dá quase 10% de um salário mínimo, o que obviamente torna-o impensável para a grande parte dos brasileiros. Como os vinhos do mercado interno nada entregam por digamos 20 moedas, o consumo não vai deslanchar. Não na atual gestão do Senhor. Calma. Faltam somente uns 10 quatrilhões de anos até a próxima. Alguns dizem que será muito mais tarde. Tanto faz...






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