Sunday, August 8, 2021

Torre Oria 80 anos Vinhas Velhas

Introito

   Contam que Isaquias Queiroz, medalhista olímpico que conquistou o ouro na canoagem, começou a remar porque precisa de um meio de locomoção da sua pequena Ubaitaba até Ilhéus. Henrique Flory, escritor que não teve o devido reconhecimento até hoje, contou-me certa vez a estória de quando ficou hospedado na casa de um pescador em alguma praia do Nordeste, trabalhando como ajudante de pescaria em troca da moradia. Saiam de madrugada para pescar. Às vezes os filhos do titular dormiam um pouco, e depois precisavam alcançar a jangada, que ia longe em alto mar. E vaziam-no sem muita dificuldade, para a completa surpresa do Henrique. Ele se pensava quantos e quantos nadadores de ponta não estariam perdidos nas praias brasileiras, sem a devida oportunidade. Festejo a medalha do Isaquias sem me esquecer dessa estória, e a do próprio Flory. Tanto talento, sempre desperdiçado. Darlan Romani também; parece apenas outro exemplo de atleta que quase no limite da subsistência ainda consegue amealhar um quarto lugar no arremesso de peso, contra todas as probabilidades. Estes e outros tantos nos representam.

Torre Oria

Já bebi alguns vinhos desse produtor Valenciano da DOP Utiel-Requena. O que mais gostei foi o Torre Oria Gran Reserva, safra 2011. Desta vez experimentei o Torre Oria 80 anos Vinhas Velhas 2015, um corte de Bobal e Monastrell. A Bobal aliás é nativa da região, sendo portanto sua principal cepa. Antes considerada pouco adequada para vinhos de qualidade, vem ganhando espaço e reconhecimento nas mãos de bons produtores. A Monstrell é nossa boa e velha Mourvèdre com outro nome em solo espanhol. Já havia experimentado de Vinhas Velhas em alguma degustação anterior da Vinho e Ponto, que propagandeia tê-lo como rótulo exclusivo. Nem tanto, como veremos. A experiência havia sido boa, pelo que me recordava. Recém-aberto, exibiu de imediato fruta com um fundo de açúcar. Boca com açúcar se repetindo, corpo médio, taninos discretos, permanência e final curtos com acidez baixa. Não é a melhor tradição espanhola, parece-me. É um vinho que pode entusiasmar ao primeiro gole - ou de outra maneira, fazer alguma presença servido comedidamente em degustação -, com o bebedor imerso em uma boa confraternização, mas não sobrevive a um olhar mais técnico. O problema é que... falta-lhe. Falta-lhe alguma personalidade e mais corpo para acompanhar um bifão, por exemplo. 

É um vinho de 10 dóla. Está no limite do que um vinho preci$a para começar a ficar bom, mas não alcança o padrão. Aposta na apresentação de uma garrafa grande, mas a rolha de aglomerado adianta que o vinho pode não ser o que se espera. Veja ao lado a rolha dele e do Cedro do Noval, um vinho dos seus 18 dóla. Poderão dizer que Noval custa 80% a mais, o que é verdade. Mas esses 80% representam 8 moedas, e Cedro entrega. Já perguntei se Vinho e Ponto tem um sommelier? Pois é. Às vezes parece que compram a partir de catálogos coletados em feiras internacionais, quando ficam bebendo vinhos nos melhores estandes dos produtores já fechados com a concorrência e deixam de rodar a feira. 
   Seu preço:

   Acho mais complicado a franquia fazer propaganda de que seus vinhos são exclusivos. Bem, nesse padrão, nem precisariam. E não são mesmo. E não é que somente esse vinho não é exclusivo. Já comentei do Peyrabon? Pois então, também não é...




   O vinho custa R$ 166,00 na V&P, o que dá 3x se comparado com o valor fora, de USD 10. No concorrente, dá um pouco mais de 2x. Existem muitas opções melhores entre R$ 140,00 e R$ 170,00. Precisaria espremer bem esse preço para situá-lo na faixa de 'boa compra'.

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