Monday, November 22, 2021

Armando, o bom italiano

Introito

   Conheci o Armando há alguns anos, quando ele tinha uma loja de vinhos. Natural da Langhe, conhecia os vinhos de sua região. Já ouvira falar (rs) da Toscana (um rótulo de Biondi Santi nada disse-lhe, mas foi rápido em apontar um Pio Cesare como grande produtor), e alguém comentara algures que a França também produzia vinhos. Pessoa um pouco formal de início, revelava-se afável e engraçada quando o primeiro passo da polidez era superado, e, ainda, dominada a dificuldade da língua na comunicação entre as partes. Octogenário, está no auge como piadista de bom gosto. Afirma que não é nada demais; todos os italianos são como ele. Uma surpresa... Mas daí que, para abrir sua loja, procurou um importador com características da península itálica, a Italy's Wine, de onde veio sua primeira linha de produtos. Encontrou ainda alguns franceses e um rótulo de chileno. A ideia era boa, só faltou combinar com o ilustre consumidor. Os consumidores de S. Carlos estão, após anos soterrados com informações desencontradas, ruins e de baixa qualidade, soterrados, sufocados e finalmente domesticados por compostos da família da pirazina muito presentes em vinhos sul-americanos. Não aceitam forasteiros com facilidade (vinhos europeus, quero dizer). Vai que, ano após ano, tenho encontrado em diversos lugares como restaurantes, postos de gasolina, cafés e bares - mas não em lojas de vinhos de S. Carlos - confrades de eventos pretéritos que não mais compram por aqui. Eles não hesitam em vir conversar comigo e repartir a boa nova de estarem comprando vinhos em S. Paulo, ou pela internet. Ouço com satisfação suas descobertas, e quando comento algo do meu blog, invariavelmente dizem-me que vão ler. Não vão. Não são leitores típicos, e muito menos serão meus leitores. Não há problema. A satisfação de ver que estão descobrindo o caminho por suas forças e iniciativas já enche-me de alegria. Outra informação já foi comentada aqui, mas não é demais repetir: grupos supermercadistas estão começando a importar vinhos de qualidade razoável e vendendo-os com margem superior a de seus produtos mais básicos mas muito menor do que a das importadoras ditas tubaronas. Saber que importadores energúmenos e lojistas tolos estão com seus dias contados e que aos poucos as pessoas estão encontrando os caminhos da boa compra bastam-me. Já escrevi aqui...

  E foi há nem tem tanto tempo (abril deste ano), mas gerou comentários engraçadíssimos de um tolo desocupado que patrulha a rede querendo briga em vez de argumentar como gente. Apenas não podemos nos esquecer, porque esquecer-se é a desgraça do homem...

El-Cantàra

El-Cantàra, ponte em árabe, é uma vinícola da região do Etna, na Sicília. Por conseguinte o território tem solo vulcânico, e dentre suas cepas autóctones temos a Nerello Mascalese e a Nerello Cappuccio (tintas) e as Carricante, Catarratto e Minella Bianca. Seus rótulos são modernos, e na maior parte das vezes os tintos requerem alguma aeração. Meia horinha básica (sic! rs!, como é mesmo a estória da meia hora?). Já experimentara La Fata Galanti, um 100% Nerrello Cappuccio que achei bem simpático. Desta vez encontrei na adega um Lu Veru Piaciri 2012, corte não especificado de Nerello Mascalese e Nerello Cappuccio. Está bom para consumir, e acredito que no limite. A fruta - que recordo mais viva em garrafas outras garrafas já degustadas - diminuiu bem. Mantém especiaria, que repete-se na boca, onde o álcool destaca-se um pouco e a madeira está presente e marcada. Não é um conjunto desarmonioso, mas é um tanto rústico; tem suas arestas que são compensadas por uma acidez presente e alguma persistência. O corpo é médio e o final não se estende muito. Mas o que podemos querer de um vinho de USD 10,00? Aqui comprei por uns R$ 60,00-R$ 70,00 no tempo do dóla (sic) a uns R$ 3,00-R$ 3,50, o que dava bem o famoso 2x na relação preço lá-preço cá. O Armando tinha margens modestas, conforme descobri mais tarde. Estando um pouco mais caros em outras lojas, seriam vinhos no limite de compráveis (2.3x-2.4x); Nessa faixa - acima de 2x - o bebedor compra uma vez, experimenta, conhece e basta. Na faixa de 2x, é um vinho que o bebedor pode querer mostrar para amigos, confrades e até sacanear um bebedor de sul-americanos boca torna como os que temos em quantidade aqui pelo interior.

2 comments:

  1. Uma coisa que me lembro que o Sr Armando falou foi: vocês são loucos no Brazil, comem pratos quentes degustando uma cerveja gelada. Vai nos entender....

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    1. Pois é... ainda assim ele tem seus detratores...
      Obrigado pela leitura.

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