Thursday, December 23, 2021

Encontro Vinho e Turismo

 Introito

   Vinho e Turismo é um encontro promovido em São Carlos pelo Shot Café/Vinho e Ponto e pela agência de viagens Caminhos do Turismo. O Shot Café tem atuação cultural extensa, apoiando diversas manifestações artísticas na cidade; recentemente recebeu o autor Vinicius Gomes no lançamento de seu livro Cadafalso, na loja da 9 de Julho. Mensalmente, vem hospedando o evento Vinho e Turismo onde os participantes assistem a uma palestra sobre turismo e degustam o vinho de um determinado país. O próximo encontro versará sobre vinhos da Itália. Sei que não conta muito... mas eu vou!

Vinhos pelo mundo

O último encontro versou sobre vinhos e turismo pelo mundo. Os principais destinos foram rapidamente apresentados, junto dos produtores mais conceituados; uma recapitulação de encontros ocorridos ao longo deste ano. Já havia promovido uma degustação dirigida com a confraria Novas de Baco por ocasião do aniversário da vestal Luciana, quando provamos dois vinhos do mesmo produtor mas de qualidades distintas. Aproveitando a deixa do assunto, propus ao Jairo (do Shot) e ao Eduardo (do Caminhos do Turismo) uma brincadeira focando outra característica de vinhos. Eu levaria um às cegas, e propus a eles outro, que seria servido também às cegas para os ouvintes.

Iniciamos os trabalhos (rs) degustando um espumante Glamur Brut da Peterlongo. Como nota introdutória, destaco a grafia é essa mesma, Glamur. Corte Trebbiano e Riesling, é produzido na Serra Gaúcha. Não tem a expressão mais conhecida da Riesling, aquele toque de óleo Singer, como costuma destacar o Akira. Observe, não é qualquer óleo. É o Singer. Preciso concordar que é assim mesmo. A Trebbiano, nunca experimentei. Glamur tem notas cítricas na frente, e alguém mais sugeriu algo além, mas não guardei. Perlage melhor do que a de muitos espumantes que existem por aí - bolhas menores, que não estufam as bochechas mesmo em um pequeno gole - mostrou boca rápida, corpo leve, acidez baixa. É mais ou menos a média do que podemos esperar de um espumante nacional. Sim, existem melhores, mas em nenhum dos casos o preço convence. Espumante nacional é dito o segundo melhor do mundo, perdendo apenas - e olhalá (sic!) - para as verdadeiras Xampas francesas. Depois acusam o pobre bolsonésio e o sem vergonha do sapo barbudo de mentir até para a própria sombra... Se os preços caíssem para 1/5, eu teria em casa. Nem que para abrir estourando a rolha e mirando na fuça de algum cunhado, canalha ou desavisado em geral. Falando sério: a preço razoável, faria frente a espumantes de 5 Euros que chegam aqui a preços quase similares. Mas o brasileiro gosta de acreditar em mentiras, e vai aceitando essa precificação além do razoável.

Na sequência serviu-se um branco, às cegas. O cítrico veio na frente, mas alguém comentou outra nota - não guardei (😕). Boca com acidez média a baixa (mesmo para um branco), um tanto ligeiro, terminando rápido. Acho que alguém comentou Chardonnay. Reparei melhor. Um fundo salgado no final chamou-me a atenção e arrisquei Sauvignon Blanc. Depois que citei o travo salgado outras pessoas também notaram. E, para meu desespero, era um Chardonnay mesmo... 😖 Orfila Chardonnay 2019 é um vinho argentino que está na faixa dos seus R$ 80,00, algo assim. Há algum tempo encontrei algumas 'promos' de borgonhas - Chablis, na maioria das vezes - a partir de R$ 120,00. Prefiro menas garrafas (sic! rs!) e mais vinho. Sul americanos não sabem fazer tintos. O que dizer de brancos. Em seguida vieram às cegas dois tintos que conduzi a apreciação. Sugeri que os ouvintes bebessem um e depois o outro, e depois de algum tempo invertessem a ordem, reparando nas características básicas de vinhos: álcool, tanino, açúcar e acidez. Alguns notaram, quando questionei, que o primeiro vinho, no segundo tempo (ao ser degustado depois do segundo) apresentou uma boca mais doce do que da primeira prova. O primeiro chegou com perfumes à fruta e especiaria, boca com taninos presentes, acidez não tão marcada, madeira discreta e final rápido. O segundo mostrou fruta um pouco mais contida, algo herbáceo - acho que o Jairo associa com um lodo de fundo - madeira discreta, boca com taninos leves, acidez bem presente, final e permanência médios. Claramente não um grande vinho, mas que chama a atenção pela completeza: tem tudo, e está equilibrado; para seu estilo, nada falta ou sobra. O primeiro era um Irurtia Tannat Reserva 2015, 12,6% de álcool, e o segundo um Bouchard Pere & Fils Bourgogne Reserve 2014, 12,5% de álcool. Comparar sul-americanos com um borgonha pode parecer covardia, mas eu queria provar da força da Tannat contra a sutileza da Pinot borgonhesa. E deu o que eu apostava: a Tannat não sobrepujou a Pinot! Pelo contrário, recuperando o comentário do segundo tempo: provado depois, o duro e pegado Tannat ficou um tanto doce... quase virou uma menininha (rs) correndo no parque para fugir do lobo mau. Eu queria na verdade ter experimentado o Irurtia Tannat Gran Reserva, com seus 13,5% de álcool. Aposto que ainda não teria sobrepujado o borgoinha. O quesito preço não pode entrar na comparação. Borgonhas são vinhos mais raros e caros. Um Bouchard, mesmo simples como o degustado, custaria cerca de R$ 350,00, contra R$ 120,00-R$ 170,00 dos uruguaios. É o preço de um Borgonha (agora sim, com "B") de bom produtor. Resumo da ópera: não adianta ter tanino, álcool e madeira. Isso não é potência... para falar em potência precisamos sim deles, mas com acidez. Sem ela, um concorrente com menos desses três, mas mais equilibrado na acidez se mostrará mais potente. Para quem está acostumado com a acidez e sabe reconhecê-la, claro. Mais uma desinteressa reflexão deste Enochato em prol dos demais interessados que estão trilhando os primeiros passos nessas lides.

No comments:

Post a Comment