Saturday, January 1, 2022

Esbórnias de fim de ano II e a doce Ph.D.

Introito

   Conheci a Angelina por questões profissionais: ela encontrou-me em uma lista de prestadores de serviços e entrou em contato. Apenas não sabia - ainda - que precisa tanto de mim. Mas isso é trabalho, e este espaço é dedicado ao hedonismo - quando possível - e à Pátria sempre que necessário. Acontece que às vezes o multiverso colapsa em um ponto; provo comentando que a filha da Angelina mora em S. Carlos, e, ainda, é quase vizinha. Podemos nos ver pela janela, acreditem. Vai que, em alguns momentos, visitando a filha, ela escolheu realizar algumas reuniões presenciais durante o ano que passou, quando acertamos detalhes monótonos demais para comunicar por e-mail. Sempre reguei as reuniões com um queijo e vinho ou quetais. Ao final de ano, por simpática e doce retribuição, convidou-me para um prato especial em Campinas, onde reside atualmente. Prometeu uma experiência inesquecível avisando que seria comida de restaurante - eu traria o vinho. Falou o nome, fui procurar e assustei com a responsabilidade. Nããããããooo... Sabe de nada, inocente! Pra que existe o Google? 😂

Vinho e massa

A iguaria proposta é especialidade da Cantina Fellini, o Gnocchi a Carolina: molho napolitano, branco e ao sugo, manjericão, calabresa, Catupiry, muçarela e gratinado com parmesão. Tenho quase certeza de que fui a esse restaurante há tempos, sob recomendação e imposição (😆) do Jacimon, tão entusiasmado que estava por mostrar-nos sua descoberta. Bebemos um portuga '65 lá, dentre outros (não postei). Foi bão... mas voltando, para harmonizar um vinho com massa, devemos olhar para os acompanhamentos, uma vez que a massa em si é neutra. No caso o item mais marcado seria a calabresa, e ela pode muito bem ser acompanhada por um Chianti. Tinha um especial... infelizmente, conversando, beliscando entradas e bebericando desde antes de partirmos para o principal, não terei a foto com prato montado, mas remexido... 😖 Conto com a indulgência do querido leitor. A Angelina ficou afirmando - com toda razão - que a culpa seria só minha...

Capraia Chianti Classico Gran Selecione Effe 55 2013 é produzido em Gaiole, um das três cidades que inicialmente deram origem à denominação. É um Sangiovese 100% envelhecido por 18 meses em barricas de 3.200 litros e outros 12 meses em garrafa. Respirou por cerca de uma hora e meia antes iniciarmos o almoço. A cereja, típica da Sangiovese, estava lá. Ligeiramente herbáceo, algo na direção de couro ou chocolate. Boca equilibrada, taninos mordendo um pouco atestavam que poderia envelhecer mais. Ou deveria respirar um tanto a mais, quem sabe... Ah, quem sabe é a Angelina, porque o vinho ficou com ela! Depois vou perguntar! Ainda com fruta e especiaria, ótima acidez e final longo. Boa permanência. A safra 2013 foi muito boa em Chianti, e vinhos bem feitos dessa região possuem bom potencial de envelhecimento, veja o Berardenga 1999 que bebi em janeiro de 2021. Mas quis o destino que a jornada desse Capraia fose abreviada, talvez pela metade. Não ouvi soluços ou reclamações...
   Por sobremesa, tivemos uma adaptação da torta Banoffee, sobremesa inglesa de banana e toffee, que fotografei mas inadvertidamente acabei apagando sem perceber... não conhecia, e convenhamos que a culinária inglesa não é exatamente famosa... mas essa torta é espetacular. Quem puder, prove...


Esta postagem foi tocada com a metade que sobrou de ontem do Xisto Cru 204, um Douro já degustado aqui. Por descuido, no dia 30 fui ao centro da cidade e tomei alguma chuva. O banho quente ao voltar para casa não impediu um mal estar com febre e dor no corpo. Medicado, na noite do dia 31 não tinha mais nenhum sintoma, mas desconfiei que nariz e boca estariam afetados. Escolhi um vinho mais simples para a virada de ano, e não deu outra: ele estava diferente mesmo. Insosso, 'pouco de tudo'. Hoje - comigo bem melhor - já demonstrou mais fruta vermelha e boca com especiaria. O travo doce português está lá, também. Boa permanência e final, mas claramente ainda não estou recuperado dos efeitos secundários do mal estar. Uma pena não poder falar mais desse vinho, que é muito bom e merece atenção por parte do leitor. Preferencialmente comprado em 'promo', porque seu preço cheio é salgado.

19 comments:

  1. Carlos, parabéns pelo excelente blog.

    ReplyDelete
  2. A Covid causa estes sintomas que você relata ao final de seu post. Deve ficar atento.

    ReplyDelete
    Replies
    1. Olá, obrigado pela leitura e pela preocupação.
      Já tenho coleta marcada para hoje. Com isso não se brinca...
      []s.

      Delete
    2. Não mesmo. Eu já tive duas vezes, e passei muito mal.

      Delete
    3. 😣 todo cuidado é pouco. Que não pegue uma terceira.
      obrigado.

      Delete
  3. https://veja.abril.com.br/coluna/veja-gente/viralizou-ed-motta-fala-sobre-ignorantes-cariocas-e-enochatos-paulistas/

    ReplyDelete
    Replies
    1. Obrigado pelo compartilhamento. Recebi por uatizáppi (rs) e já tinha visto. Pensando cá comigo agora (rs), lembra algo assim: de tempos em tempos alguém 'causa' com algum comentário para polemizar. É o custo da liberdade da internet. Quem lembra daquele idiota da 'folha' e sua ridícula estória (não creio que seja verdadeira) sobre a troca de vinhos em algum restaurante, onde nem o casal agraciado com um vinho 10 vezes mais caro do que haviam pedido se surpreendeu com sua qualidade nem os amigos que dividiam um 'vinhão' e receberam um '10x mais simples' também não notaram? O comentário está em algum lugar no blog...

      http://oenochato.blogspot.com/2020/10/eles-atacam.html !

      []s,
      Oeno
      🤣

      Delete
    2. A história do vinho trocado é verdadeira. Pena que não tenha sido comigo. E esta do Ed Motta é a mais absoluta verdade. Ele definiu muito bem o comportamento dos bebedores paulistas e cariocas.
      Abraços

      Delete
    3. Olá. Admito que essa estória seja verdadeira, sem polêmica quanto a isso. Já escrevi meu ponto de vista sobre ela (acabei de atualizar, fui reler e encontrei dois ou três erros banais).

      Não sei como funcionam os cariocas. Já os paulistas, sei que tem de tudo. Das várias confrarias que participo, nem de longe aparece algo similar com a afetação descrita pelo Ed. Sim, ele estereotipou os comportamentos, mas acho que uma pequena parcela de mascarados joga um cobertor de má estima sobre todos os apreciadores. Faz parte do pacote.

      []s,
      Oeno.

      Delete
    4. Sorte sua, caro amigo, pois não há nada mais chato que esta turma que tem o comportamento que ele citou. Que Bacco me mantenha afastado delas.
      Abraços

      Delete
    5. Não tem emoji do sujeitinho rezando... (risos!) mas o leitor entendeu bem...
      []s,
      Eono

      Delete
    6. Mantenha-se afastado desta turma chata, caro amigo.

      Delete
  4. Olá,
    Você tem interesse em ser representante de vinhos pelo Instagram? Se possui interesse, te escreverei em particular para tratar do tema.

    ReplyDelete
    Replies
    1. Olá, leitor, grato pela mensagem.
      Não, não tenho interesse em representar vinhos. Acho que isso compromete a independência do blog. Ainda que por mágica eu pudesse representar apenas os vinhos dos quais gostasse/desejasse/pudesse falar bem, ainda me sentiria comprometido.

      Obrigado pela oportunidade, de qualquer maneira.
      Oeno(chato)

      Delete
    2. Mas você poderia usar um codinome. E o faturamento é muito bom. A média de faturamento de nossos colaboradores é entre 25-30 Reais mensais. Além disso, os colaboradores sempre recebem garrafas para avaliação. Mas agradeço a sua pronta resposta.

      Delete
    3. Lamento, mas nada muda. É uma questão de foro íntimo. Aliás, também não aceito garrafas para avaliação; compro meus vinhos para que a isenção seja simplesmente '100%'. São pontos inegociáveis. Espero que entenda.
      Obrigado novamente.

      Delete
    4. Compreendo sua posição e agradeço. Mas acho que você não entendeu a questão das garrafas para avaliação. Não é necessário que comente sobre elas em seu blog ou instagram. São rótulos que a central envia para os colaboradores darem suas opiniões sobre eles, para tomada de decisão sobre importação/venda.

      Delete
    5. Olá.De fato, eu me expressei muito mal em nossa comunicação, pelo que peço desculpas. Vejamos se conseguirei desta vez. Demanda escrever mais, mas não tenho medo (rs).

      É verdade que eu não conseguiria vender um vinho que considerasse ruim. Mas também não conseguiria vender um vinho com preço exagerado - sei quando é. Algumas importadoras praticam margens muito altas, algo que já critiquei muito no blog e até preciso voltar a criticar, pois é a tônica do espaço. Dessas importadoras (de quem no passado até já comprei em 'queimas', quando a margem desce a níveis razoáveis), quase nem compro mais, por melhores que sejam as ofertas: Via Vini, Zahil, Vinci, Mistral, Ravin, Wine Brands, Decanter, Qualimpor e outras. Nada contra elas, mas contra a política de preços delas. Quando tiverem políticas melhores, voltarei a comprar, sem nenhum problema.

      Por outro lado, tenho comprado de importadoras que praticam margens melhores: Enoeventos, De la Croix, Chez France, Casa do Vinho (Famiglia Martini, MG), Lovino, Vinhos do Comendador, etc., e algumas lojas que, parece-me, pegam alguns vinhos com descontos muito bons - parte da cadeia, você sabe bem a que me refiro - e vendem a preços mais realistas. Não falo de queimas; os vinhos ficam à venda por meses e meses: Vinhobr, Adegamais. Ainda: conforme já comentei no blog, grupos supermercadistas estão importando vinhos de boa qualidade, e até repassando-os para outros grupos. O Grupo Verdemar (Minas) tem abastecido parte da adega do grupo Savegnago (que tem loja em S. Carlos), onde encontro várias boas ofertas (e outras nem tanto, como sempre digo devemos ficar atentos). Esso é só um exemplo, outros grupos supermercadistas estão importando, e 'bem'.

      Então chegamos a um outro ponto: avaliação, para tomada de decisão sobre importação e venda. Por partes: avaliação para tomada de decisão na venda 'não existe' - a menos não para o avaliador do vinho. A importadora deve praticar uma margem razoável e pronto. Querer vender o vinho por mais do que uma margem 'razoável' permite, apenas porque ele agradou a um grupo de degustadores locais, significa colocar a importadora no rol das 'tubaronas' que citei acima. Não, o avaliador não colabora nesse ponto. E não, não vou colaborar com isso, também. Por outro lado, se o(a) senhor(a) disser-me que os vinhos serão vendidos com margem 'razoável' - é fácil verificar pelo Wine-Searcher - e gostaria de uma avaliação, então não apenas posso ajudar, como ajudarei gratuitamente. E mais: posso convidar algumas outras pessoas que conhecem muito de vinho - até mais do que eu, e quando digo 'conhecem' é porque conhecem mesmo! - para avaliar também, e produzirei um relatório com cada opinião em separado. A confidencialidade da tarefa fica para futura discussão. 

      Assim, não nego-me a colaborar com uma iniciativa que eu venha a considerar 'boa' e que favoreça o consumidor. Desnecessário dizer, mas sempre bom registrar: não almejo ganhar dinheiro com vinho - ou quando resolver fazê-lo, assumirei essa posição no blog. Portanto descarto qualquer oferta comercial, mas ajudo gratuitamente e com o maior prazer quaisquer boas iniciativas.

      Agradeço desde já a leitura e compreensão.

      Delete