Introito
Dia de festa, ontem. O Armando, pelo terceiro ano seguido, chega aos 81. Não sei o que vai na cabeça das pessoas. Particularmente, se contasse algo, teria parado nos 79. Talvez 8 + 1 = 9, noves-fora, 0, o que dá (sic!) uma conta correta! 🤣, indicando que o Armando em sua singeleza é uma pessoa muito mais sábia do que podemos supor à primeira vista. Dona Orlinda positivou na Covid (sic) começo da semana, então permaneceu em casa cuidando da saúde dos pais nonagenários igualmente infectados. Ninguém com sintomas graves, ainda bem. A título de tentar um vinho multipropósito (sic), uma vez que eu iria de massa branca com camarões e gorgonzola e o Armando de carpaccio e salmão, decidi arriscar algo diferente. Bateu na trave, mas como o chute foi com força, terminou por sair do estádio 😖. Harmonização é um assunto complexo...Domaine Jean Marie Haag Gewurztraminer 2018
A Gewurztraminer é uma uva italiana - arredores de Tramín, no Trentino-Alto Ádige, quase fronteira com a Áustria. É conhecida como uma uma cepa amiga do frio, e sua maior expressão é encontrada na Alsácia. É semi-seco, portanto um travo doce estava na conta. Sua ficha foi procurada no sítio do importador - Chez France - onde a harmonização com queijos mais pegados estava indicada. Ora, camarão e massa são neutros, quem conduz é o molho, e carquei gorgo nele! 🙄 Nope. O Armando disse que casou bem com o salmão, que é outra sugestão forte. Nariz muito marcado, floral - mas não estou habituado e distinguir notas florais em vinho, claramente uma deficiência deste Enochato - com um doce que se repete na boca, nunca enjoativo. Tem algo de cítrico também, e ótima acidez. Os 14,5% de álcool não se sobressaem; no fim é um vinho bem balanceado se o bebedor aprecia o estilo um pouco mais doce. Completam-no boa permanência e bom final, e acredito que possa ser um bom coringa nas mãos de quem souber harmonizá-lo de fato. Por sobremesa pegamos uma mistura delas no buffet, e para mim casou bem com o bombom de morango. O Armando gostou muito com doce de casca de laranja em calda - tem nome, isso? Foi comprado na bléqui fraid do ano passado direto do sítio do importador, quando o preço caiu a menos de R$ 100,00. Olhei antes, e lá fora custava cerca de 11 Euros. Não precisa fazer conta para perceber que estava muito bom, tanto é que esgotou-se. Gastei algum dinheiro naquela bléqui - o recente 5 Terrores (sic) veio de lá - mas tem valido a pena, para produtos abaixo dessa marca fatídica de três dígitos. Na foto, peguei o aniversariante de surpresa, enquanto ele apreciava a sobremesa. Não fez má figura... Feliz aniversário, Armando!PS1: Melhor pesquisador do que eu, o Romeu comunicou-me por uatizáp a fonte da ilustração da postagem passada. Ela pertence ao cartunista britânico Leslie Gilbert Illingworth e foi publicada no jornal Daily Mail em 29/10/1962, em plena crise dos mísseis. Agradeço a gentil atenção.
PS2: O leitor Dionisio deixou um comentário na mesma postagem, sobre a Dolcetto. Comentou que a cepa de fato tem um amargor no retrogosto, típico dela.
Um aniversário de 81 anos merece um vinho de alto calibre.
ReplyDeleteParabéns ao seu amigo Armando.
Os cumprimentos serão transmitidos, obrigado.
ReplyDeleteSem querer desmerecer o Armando - até porque é meu amigo - para o vinho com o qual ele está acostumado, foi. Em seu Piemonte natal, para onde ele está desejoso de voltar - seus vinhos são de 3 ou 4 Euros. Ele gosta muito de Barbaras e Arnéis; seus amigos bebem vinho desse padrão. Aprenderam assim, e passaram a vida inteira assim. Sua companheira não pôde estar presente no dia oficial, e apenas resolvi levar mais simples para a completa surpresa dele. Já já voltaremos à carga, com um italiano...
obrigado
Já que ele completou 81 anos, eu levaria um excelente vinho de 81 Euros. Afinal, um amigo sempre merece o melhor. Ainda mais, nesta idade.
ReplyDeleteO leitor não conhece as manias do Armando... 🙄
DeleteEle não aprecia que eu leve vinhos mais caros. Diz que não aproveita o vinho, é um desperdício. Não adianta repetir para ele o que já escrevi aqui:
Abro vinhos com pessoas que gosto. E cada um aproveita do vinho como pode.
Ele não aceita, fica constrangido. Desta vez, fez questão de comprar uma garrafa, indiquei um Chianti de R$ 85,00 - já bem acima do padrão que ele bebe. Levarei um Sauternes para acompanhar a sobremesa, porque ele não conhece os detalhes desse tipo de vinho, e sei que ele gosta - já serviu-se generosamente várias vezes no passado. Não reclamo. Quando ponho a garrafa na mesa com um amigo, está tudo 'calculado'.
obrigado pela leitura
Mas veja, ele não conhece o Sauternes e serviu-se generosamente várias vezes, como você disse. Sauternes bom não é barato. Isso demonstra que ele tem bom gosto e se serviria generosamente de um vinho de 81 Euros. E se ele não conhece detalhes de um Sauternes, dificilmente conheceria de um outro vinho, desde que não fosse Barolo, Barbaresco, Brunello ou outro assim.
DeleteOlá. Sauternes bom não é barato, concordo. Serviu-se de um Guiraud 2005 quando eu tinha, e desta vez levarei um Doisy-Vedrines Haut-Barsac. Eu mesmo comentei que "...em sua singeleza é uma pessoa muito mais sábia do que podemos supor à primeira vista". Ele percebe quando bebe um vinho de qualidade acima da média que consome - que é baixa: R$ 30,00, vinho que custava R$ 19,00 há um ano...
DeleteNo caso de tintos, disse-me textualmente que ficaria constrangido se eu levasse algo muito superior ao que ele bebe. Ele conhece Barolo, mas bebeu uma ou duas vezes na vida. Certa feita, mostrei-lhe uma garrafa de Biondi Santi e perguntei se ele conhecia. Com cara de paisagem - mas de maneira honesta - disse-me que não...
Não regulo colocar vinho 'bom' na mesa. Uma vez servi um Nebiollo do Pio Cesare - esse produtor ele conhece. Para ele estava bom, até ele perguntar-me o preço. E olhe que comprei em 'promo'. Posso dizer-lhe que Sauternes é 'baratinho', mas não conseguiria mentir-lhe duas vezes... complicado, não é mesmo? Aventuras e desventuras de um Enochato que não mede com quem bebe! 😆