Sunday, February 13, 2022

A Ucrânia e o Dolcettão

Introito

Um leitor próximo comentou, via uatizápi, que acha a situação na Ucrânia muito tensa para que nada aconteça, e espezinhou-me sobre minha posição de risco zero para um confronto. Um momento. Risco zero é a ocorrência de uma guerra nuclear entre as potências, conforme defendi na postagem passada. Não abordei o caso de uma guerra localizada, que até pode acontecer. Vamos recobrar e ajuizar os fatos. Seguramente o leitor não está bem certo do que vem por trás deles. Nem nossos 'jornalistas', acredito. Na Primeira Guerra Fria, como venho chamando, o episódio dos mísseis de Cuba envolveu os presidentes John F. Kennedy e Nikita Khrushchev (que já deram o ar da graça por aqui) e começou um pouco antes, com a instalação de mísseis americanos na Turquia, a cerca de 2.700 km de Moscou. O sr. Khrushchev pegou meu fio desencapado de algumas postagens atrás e ameaçou socá-los bem socados no Kennedy: começou a instalar mísseis em Cuba - vem daí o nome ca crise, portanto -, distante apenas 150 km da costa da Flórida e cerca de 1400 km de Washington. É assim: os americanos - como sempre - adoram meter o nariz nos fundilhos dos outros, mas na vez deles não querem abaixar a cueca. Daí que meu fio desencapado nas mãos do camarada Khrushchev deixou-os literalmente chocados 😂. A crise acabou com as retiradas dos mísseis soviéticos de Cuba e americanos da Turquia, reestabelecendo o balanço nos tempos de alerta no caso de um ataque nuclear de parte a parte. Agora, com a Ucrânia entrando na Otan - e portanto podendo receber mísseis da aliança - Moscou estará a apenas 750 km dos mísseis inimigos. Ao fim e ao cabo, se o leitor ainda não percebeu, são novamente os americanos - sempre via Organização - espezinhando os sofridos e inocentes russos, povo pacífico e benevolente que jamais sequer imaginou interferir na política dos outros países, e isso é tão verdade quanto o julgamento do Lula foi uma completa armação e a tentativa de golpe do bolsonésio no 7 de Setembro último não passou de uma baita mentira, intriga da oposição. A estratégia de Putin é forçar uma zona desmilitarizada que estenda-se a muitos e muitos quilômetros 'Europa Oriental adentro', chegando provavelmente às proximidades da antiga Europa Ocidental. Ele não deixará por menos. E nem pode. No lugar dele, eu invadiria a Ucrânia e dormiria tranquilo. O Ocidente não deseja essa invasão? Basta recuar os mísseis (ou de outra maneira, comprometer-se a não instalá-los nos países da antiga Cortina de Ferro, ou mesmo na Turquia). Não sisqueça (sic): é a Otan quem força a Rússia a uma posição ofensiva, e a mídia ocidental ou está promovendo um engodo global (fazendo-nos crer que o malvado da estória é o Putin), ou é estúpida mesmo. A escolher. Faz sentido?
PS: A internet está lotada da imagem acima; não localizei a fonte original para citá-la.

Um Dolcetto

Dolcetto é uma cepa piemontesa. Seu nome significa docinha, mas é tontinho (rs) quem imagina doces os vinhos originados dela. Pelo menos é o que diz metade da internet. A metade que consultei (rs!), bem entendido; vai que a outra metade diz o contrário... De maneira geral, seus vinhos são ditos tânicos, de alto teor alcoólico mas de baixa acidez. A região de Dogliani é dita como o lar dessa cepa, embora há quem diga ser a França sua terra original. Sei mesmo que muitos grandes produtores do Piemonte cultivam-na, então não deve produzir vinhos ruins nas mão certas. O problema é que os 'grandes produtores' da região estão, em certa medida, nas mãos das tubaronas de sempre. Como sempre digo,

Paciência e sentar-se à beira do rio e aguardar o corpo de seu inimigo passar boiando

   Saibam: diversas importadoras tubaronas diminuíram consideravelmente seus portfólios, devido à crise desde Dilma e agravada pelo governo bolsonésio. Comprei vinho italiano que estava anteriormente em uma casa tubarona e 'migrou' para o concorrente, que vendeu-o a menos da metade do preço. A detratoria sempre acredita ter vários argumentos para explicar isso, mas nenhum resiste à discussão. Se for para repetir as tolices de sempre, melhor não parecer...

Produttori di Govone Dolcetto 2019

Produttori, até onde saiba, é como os italianos designam uma cooperativa. Vai longe o tempo em que vinho de cooperativa poderia ser sinônimo de vinho ruim. A Produttori del Barbaresco (no próprio Piemonte) e a La Chablisienne em Chablis são apenas dois exemplos de cooperativas com vinhos de excelente qualidade. O leitor pode acompanhar diversas resenhas de vinhos da La Chablisienne aqui no blog. Escrevo com vinho aberto há duas horas e meia. Abri e deixei respirar pouco tempo (10 minutos?) para pegar sua expressão desde o início. Puááááá... 🤢 onde estava aquela outra metade da internet que não consultei? Travo bem doce e acidez baixa. Tinha lá sua fruta, nada marcante. Agora, zero hora, mostra a mesma fruta simples no nariz. Na boca, o dulçor diminuiu bem - bendita aeração - a fruta parece escura e algo de amargo persiste. Não, não é aquele amargo de vinho mal feito, quando as sementes são esmagadas no processo e seus taninos amargos contaminam o líquido. Não sei se é amargor típico da cepa ou de alguma parte do processo, mas está lá. Tome como uma característica, não como um defeito. Decididamente não passa em madeira - a fruta reina sozinha. Comprei hoje na Mercearia 3M, ao preço de R$ 100,00. Olhei no Wine Searcher, e o preço está em USD 13,00. Olhando direto, aqui está um preção. Contudo... só encontrei na Inglaterra. Em nenhum lugar da Itália. Não posso deixar de comentar que é um valor superestimado pela qualidade. Por exemplo, por R$ 115,00 estava comprando os (aproximadamente) USD 12,00 MOB3 e Cedro do Noval, para citar dois. Eles dão um baile no Govone. Certo, outros vinhos, outras cepas, mas o leitor que faça suas comparações e me diga. Govone talvez valha a metade, USD 6,50. Aí o preço 'cá' entorta, pois cai na faixa do 3x. Tenho um pouco mais de experiência com Chiantis. Os bons - veja este - são muito melhores do que os Chiantezinhos mais simples que posso comprar para beber regularmente. Talvez Dolcettões - por mais pornográfico que pareça esse aumentativo - sejam proporcionalmente melhores. Sem comparar, será impossível saber. Preciso dar uma solução a isso. Onde está minha confraria?! Alguém com um Dolcettão, apareça!

Atualização

Melhor pesquisador do que eu, o Romeu comunicou-me por uatizáp a fonte da ilustração da postagem passada. Ela pertence ao cartunista britânico Leslie Gilbert Illingworth e foi publicada no jornal Daily Mail em 29/10/1962, em plena crise dos mísseis. Registro e agradeço!

7 comments:

  1. Se for beber Dolcetto, escolha aqueles produzidos por bons produtores de Barolo e Barbaresco. O Dolcetto é um vinho leve, frutado, fresco, para ser bebido jovem, ainda que alguns de melhor qualidade possam ser guardados por mais tempo em cave. Possui boa acidez para acompanhar bons pratos italianos. O leve amargor no retrogosto é típico dele.
    Dionisio

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    1. Dionisio - em pessoa! - aparece para colaborar com o blog e tirar-nos da ignorância. Dica importante, comentário final esclarecedor. Tenho um Dolcetto de qualidade melhor - Pecchenino Bricco Botti - que sim, produz Barolo, embora pareça estar estabelecido em Dogliani. Achei que experimentar um vinho mais básico poderia apresentar boa proposta de comparação com produtor mais clássico. Vamos ao Pecchenino em breve.

      Obrigado!
      Oenochato

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    2. Agora você já mudou a conversa. De Dogliani saem ótimos Dolcetto. O Pecchenino Bricco Botti Superiore é muito bom.
      Dionisio

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    3. Ah, bom saber. Mas acho que não é muito "sadio" você começar com um vinhão - de qualquer tipo. É interessante conhecer a expressão mais simples, para poder comparar e até 'entender' para onde caminha o vinho. Claro, se a expressão for muito simples, como pareceu ser o Govone, a experiência pode ficar um pouco perdida. Mas vamos lá, de qualquer maneira.

      obrigado!

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    4. Acabei repetindo um pouco o que tinha escrito antes (😣), mas fica claro o propósito...

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    5. Mas não podemos dizer que o Pecchenino é um 'vinhão'. Ele é um bom começo para quem quer conhecer vinhos melhores feitos com a uva. O outro é que não é.

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