Saturday, June 4, 2022

Uma visita inesperada

 Introito

   Pensava que nos píncaros da idiotice estavam os importadores tubarões e seus asseclas energúmenos espalhados pelos quatro cantos da internet, assaltando à mão desarmada e enganando com ladainha de fazer inveja às sereias. Meu erro grosseiro foi de orientação vetorial, posto que píncaros indica uma altura máxima, da qual não é possível ir além, como o Sétimo Céu, o Nirvana e outros exemplos de serenidade máxima. Mas não, é nas fossas da idiotice que eles se encontram. Na primeira aproximação, a fossa abissal; na segunda, a séptica. Porque sempre podemos ir mais fundo - basta cavar mais um metro - ou, de outra maneira, jogarmos mais um quilo de dejetos ao que já está ruim para piorar tudo um pouco mais. Mas há algo abaixo - ou com mais budum - do que importadores e seus asseclas: políticos. Dia destes um grupo de PTelhos ajuizou ação contra o juiz Moro, segundo a qual suas ações causaram prejuízos à Petrobrás. Ficou assim: a Lava Jato recuperou algo como 6 bilhões de reais desviados por empresários e funcionários da alta cúpula da empresa, valor estimado em apenas 25% das fraudes, segundo o TCU. E Moro é o culpado. Tá. Que tal em vez disso chamar a Dilma, cuja política de controle de preços forçou prejuízos de 100 bilhões à mesma Petrobrás, em apenas dois anos? Lembre-se dos nomes dos perpetradores da ação: Rui Falcão (SP), Érika Kokay (DF), Natalia Bonavides (RN), José Guimarães (CE) e Paulo Pimenta (RS). Já já pedirão seu voto. Comprove sua estupidez, vote neles.

Uma visita inesperada

   Romeu liga-me para marcar um vinho e logo avisa: O Rodrigo está aqui. Rodrigo del Río é pesquisador e químico chileno e mantém intercâmbio com a UFSCar em São Carlos, para onde vinha todo ano até a pandemia. Foi ele quem trouxe-me as últimas garrafas de Don Melchor (safra 2006) antes do fantástico aumento pelos quais os vinhos passaram em 2008 ou 2009. Eu estava devendo para o Romeu, se o leitor lembra-se do malfadado Chianti de algumas postagens. Ele não perdoou e mandou uma provocação, Desta vez eu levo o vinho. Aí não... 🙄 a proposta estava clara de antemão: precisaria de um representante que não exorbitasse no preço e pudesse competir com qualquer petardo que o Romeu disparasse em minha direção. Nem precisei pensar muito, sabia ter a resposta adequada. Adequadíssima, aliás.

Avisara o Luciano Osório - o evento aconteceu na terça-feira imediatamente posterior à visita dele - que compareceu ávido para acompanhar o embate. Ele conheceu o Romeu no início dos 2000's quando trabalhamos todos juntos em um projeto editorial, e o reecontro gerou conversas animadas entre todos nós. Não houve vinho às cegas, no primeiro momento. Apresentei o Korem 2015, da Argiolas, produtor da Sardenha. Corte Bovale, Carignano e Cannonau, foi servido com cerca de uma hora de respiro, mostrou nariz explosivo muito rico em frutas vermelhas, café (chocolate?), toques terrosos e mais. Um nariz tridimensional, como costumo dizer. Boca com boa acidez e taninos, álcool a 14,5% bem discreto, não notei a madeira (tem!), corpo médio, bem como seu final e persistência. Esse vinho era vendido pela importadora tubarona a USD 118,00, R$ 720,00 com o dóla a R$ 6,00 de 2021, enquanto Enoeventos vendia a R$ 265,00 (com choro) naquele mesmíssimo período. Romeu chegou com seu Robert Mondavi Cabernet Sauvignon 2015 - uma feliz coincidência de safras - do Vale do Napa. Nariz com fruta um pouco mais contida, especiado, madeira mais evidente, mostrou boca mais pegada e firme, com taninos bem presentes e um pouco menos de acidez, motivo pelo qual apesar da combinação tanino e madeira não 'derrubou' Korem. Sorri satisfeito: Korem 'guenta' muita coisa boa que você possa tacar (sic) pra cima dele. É um vinhão. Não que o Mondavi seja menor, mas como o demônio mora nos detalhes, podemos dizer que Korem ganhou por meia cabeça. Ambos custam por volta de USD 35,00 em seus países de origem. Monvadi CS aqui está por R$ 690,00 (quase o mesmo valor do Korem em importadora tubarona) mas dá pra encontrar a R$ 340,00 (😣), veja abaixo. O Akira chegou atrasado e recebeu a primeira taça às cegas. Cafungou, balançou a cabeça num 'não' e foi certeiro: Italiano. No segundo, ficou em dúvida. Descartou Itália e França, e ficou em dúvida entre um espanhol diferente e um novo mundo, destacadamente EUA/Austrália. Com a arma na testa, declarou que 'possivelmente americano'. E enfatizou: ambos muito fechados (😨); chamou-nos de infanticidas e daí pra baixo - lembre-se do referencial adotado no Introito! Não nos importunamos; àquela hora estávamos todos felizes...

Na primeira visita do Luciano, desejoso de chegar à narrativa final com abraços, choro e troca de uatizápis que tão brilhantemente bolara (sic), não comentei a sobremesa: servi-lhe uma taça do Tokaji Aszú 2003 da Oremus, produzido pela empresa húngara propriedade da espanhola Vega Sicília. Corte Furmint, Harlesvelu, Zéta e Sárgamuskotály, mostrou nariz com folha de laranjeira muito proeminente, que para mim mascarou o que pudesse vir depois. Está um pouco oxidado (aberto em novembro de 21), mas mantém o frescor, com o travo doce contrabalançado pela ótima acidez. É um vinho com grande persistência e ótimo final; após engolir e salivar ele continua em boca enquanto vamos salivando e tornando a engolir a saliva, comprovando ser mesmo um grande produto. Havia comentado que o Luciano dedicou-se profissionalmente à fotografia? Pois é, a foto ao lado foi realizada por ele, com esse enquadramento, sem corte ou recorte deste que escreve. Se notar, dá para ler 'Bodegas Vega Sicilia' no contrarrótulo da garrafa... Ia servir dele aos convidados do dia seguinte, mas a conversa estava animada até o momento em que Romeu e Rodrigo resolveram que a quarta-feira seria puxada e saíram mais ou menos de susto. Não, não foi uma deixa para este Enochato miguelar (sic) uma taça aos convivas. Se o Rodrigo voltar ainda este ano, conforme comentou, a parte dele estará garantida.




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