Monday, July 18, 2022

Três dedos e um fundilho

Introito

Lulalelé com as suas: diz que o orçamento secreto é “a maior bandidagem que já fizeram em 200 anos de República” (fonte da foto e crédito da informação no vínculo!). Mas que memória curta, heim? Não saber o que os outros fizeram pode ser dito ignorância, mas sisquecer do próprio passado sem estar caduco tem outro nome: cinismo. Certo, o Orçamento é uma bandidagem tal que de fato eclipsa o Mensalão, o Petrolão e os 500 milhões devolvidos por diversos diretores da Petrobrás que, mesmo ganhando altos salários teriam de trabalhar 100 anos para amealhar tal montante. Mas não precisa forçar... Enquanto três dedos em riste preparam-se para cravar fundo um acesso forçado pelo fundilho já carcomido do leitor desavisado, o foguete sem rabo - ou sem ré, não sei direito - vai se ajeitando esperançoso no que acredita será uma votação expressiva. Eu mesmo votei nele, mais como protesto. E Merlin avisou: never! never again! Motivo? Ora, o cidadão de bem torna-se bandido quando associa-se a bandidos. Pobre da borboleta que considera-se foguete.

Desforra do sábado

Tivesse bebido o último vinho no dia de hoje, estaria bom. Algo leve para fechar o domingo, encarar a segundona de cara lavada e olhar esperto, e pronto. Mas acordar no domingo lembrando de experiência tão fraca teve efeitos secundários. Tipo descer para a adega logo de manhãzinha disposto a escolher algo para reparar o equívoco. E já estava de olho nele. Domínio de Atauta 2006 é um Ribera del Duero produzido com 100% da cepa Tinto Fino (nome local da Tempranillo) em alta altitude. Alta para o padrão europeu, claro; são cerca de 970 metros, bem pouco quando comparados aos 2 mil metros de vários vinhedos sul-americanos. Bem... vemos que altitude sozinha não faz milagres... aberto um pouco antes de começar a cozinhar, o primeiro buquê já mostrou fruta generosa, principalmente vermelha, toques de carne e couro e possivelmente chocolate (café?). Envelheceu bem e ficou deliciosamente complexo; se não do tipo que nos faça transcender os tempos difíceis pelos quais passamos, pelo menos o suficiente para projetar-nos acima da nuvens escuras que nos assolam. A fruta também aparece na boca, junto de bons taninos já amaciados, álcool pegando de leve (14%), acidez elegante e madeira presente. Boa permanência, final agradável de média duração. Acompanhou bem o filé ao molho gorgo ao som, dentre outros, de The House of the Rising Sun, dos Animals (sic) e Dust In The Wind do Kansas, que ouvi justamente em uma execução de 2006. É um vinho de USD 30,00 lá fora. Felicidade engarrafada. Esteve à venda por aqui nas mãos das tubaronas de sempre, ao mórbido preço de USD 117,50. E não adianta falar que viu no Enochato e tentar levar por USD 117,00; lá não gostam de mim. Na verdade, também acabou... de repente volta nas mãos de alguma importadora honesta.


Fonte aqui.


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