Saturday, March 11, 2023

Uma homenagem ao Akira: conclusão

Introito


Para ser franco, havia conversado bastante com Don Flavitxo para fechar o encontro. Todo mundo conhece bem o gosto do Akira por borgonhas; ele apresentara-me o primeiro vinho digno da denominação há 10 anos, descrito na postagem Meu Primeiro Valisére, e cuja menção até hoje provoca risadas quando comento o título. Assim, disse ao Flávio que abriria um, e ele ficou de pensar em sua escolha. No momento de experimentar sua prenda, cafunguei devagar como fazem gatos e cachorros diante da comida desconhecida: uma, duas três fungadinhas curtas e rápidas. Antes de prosseguir, devo comentar a sempre presente canalhice nata de Don Flavitxo; suas maiores artes consistem em trazer vinhos de uma região que lembram outras - particularmente que remetem à borgonha... e tem espanhóis, gregos e italianos com essa característica. Então, cafunguei e cafunguei. É borgonhesco - comentei - mas não sei de onde veio. Jean Chauvenet Nuits Saint Georges Premier Cru 2009 é um borgonhão encorpado e escuro, bem diferente dos borgonhas facilmente reconhecíveis e com os quais tive contato. O Pommard tem mais tanicidade, o Corton tem mais corpo, e outros podem ter maior acidez, enquanto esse Nuits mantém um conjunto de chamar a atenção. Nariz com muita fruta e mais toques (não guardei), bons taninos e acidez esperada para um borgonha, boa permanência... Depois da confirmação de ser mesmo um borgonha, fiquei maravilhado pelo contato com mais essa face que não conhecia da região. Para quem não sabe, em Nuits St. Georges não existem Grand Crus. Aparentemente, quando os vinhedos estavam sendo designados, ali pelos anos 30, os produtores da região optaram por não inscrever-se nessa categoria para evitar pagar os impostos mais altos da denominação Grand Cru. Por isso, não estranhe se encontrar os preços de certos Premier Crus de Nuits St. Georges compatíveis com os de muitos Grand Crus de outras comunas. Meu vinho foi o Corton Clos du Roy Grand Cru 2005, do Antonin Guyon. Tive a grata oportunidade de experimentar outros dois Cortons Gran Cru antes desse. É outro estilo, outra 'catxiguria'... mais complexos, mais tânicos, ótimas acidez, permanência e final... Requerem aeração - abri esse por volta do meio dia, e foi o último vinho provado; foram umas boas 10 horas aberto. Nariz com fruta abundante, café, mais notas que não peguei, creio que mentol também. Tenho feito, recentemente, uma ligação do mentol com a tridimensionalidade às vezes citadas em certos vinhos que provei a longo da vida. Não sei se vem daí, mas essa característica 'me pega', e esse Corton tem... Borgonhas desse tipo ficam na boca depois de degustados; a permanência é longa de fato - e não 3 milissegundos de sul-americanos que os sommerdiers de plantão atribuem aos vinhos daqui como 'permanência longa'. É outro comprimento de onda, e fechou bem a reunião. 

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