Thursday, August 3, 2023

A Paduca e mais um

Introito

Agora nós estamos em guerra com a Lestásia.
O inimigo sempre foi a Lestásia.
Eurásia é uma nação aliada.
1984, de George Orwell

Amigo de longa data e igualmente de esquerda - apenas um tanto mais recatado - envia-me vídeo da rapaziada do MBL onde, segundo ele, nova edição de imagens é feita pela trupe direitosa. Um traveco de reitor (da UFPR), na qualidade de presidente da Associação Nacional de Dirigentes das Instituições Federais de Ensino superior, é apresentado desdenhando de maneira desavergonhada do rapá que estragou diversas obras de arte desenhadas nas paredes da UFSC e acabou levando um corretivo - com muito amor - por causa disso. Ora, nenhum Magnânimo Reitor se prestaria a tal situação, de onde o vídeo claramente apresenta um impostor. Vejam por si:


   Abaixo, reportagem do sítio da prestigiosa Instituição (UFPR), com foto do verdadeiro reitor. Basta comparar para ver que não são a mesma pessoa!


   Você acompanhou a estória do corretivo em seu meio de comunicação preferido? Não? Talvez devesse rever sua predileção... vinhos, por exemplo: revi as minhas várias e várias vezes.

A Paduca reunida

Paduca - Paulão, Duílio e Carlos - é uma confraria de caras batutas que se conhecem há mais de 20 anos. Desta vez veio o Fernando, amigo dos confrades de mais longa data. Vale a pena falar deles; diversos dos leitores se identificarão com suas perspectivas sobre vinhos. O Paulão (na câmera) é meu mais fiel seguidor (rs). Bebemos juntos mais vezes, ele conversa, pergunta, vem notando essa tal de acidez da qual sempre falo e a tem distinguido dentre os vinhos. De barba ao fundo, o Duílio é o mais faltoso (rs) da Paduca, e bebe sem maiores compromissos senão o de ligeira contemplação e com maior interesse na conversa. O Fernando está entre um e outro; cansou de vinhos sul americanos e tem procurado por europeus. Em comum eles não conhecem muitas marcas ou produtores e guiam seus gostos um pouco pela curiosidade, sem preconceito nem medo em arriscar um rótulo diferente em supermercados. São tipicamente os bebedores comuns, adoradores do vinho pelo vinho, sem saber de pontuações ou tendências de mercado. Leitor, reconheceu-se em algum deles?

Trinca de portugas

Paulão prometeu trazer um vinho reserva 😀. Cumpriu 😄. Só que não... 😟. Seu Vinho Regional de Lisboa era o Portada Reserva 2020, meio seco. Mostrou-se muito simples, com excesso de fruta vermelha logo de cara, típico de inox - ou seria típico de aromatizantes artificiais? - e sem traço de madeira. Sem acidez e aquele doce enjoativo - surpreendeu negativamente nesses pontos -, e mesmo sendo meio seco esse dulçor desagradável não se justifica - foi muito rápido na boca. É um corte Shiraz, Alicante Bouschet, Caladoc, Tannat e Touriga Nacional sem qualquer diferencial; poderia passar por um sul-americano sem susto (sic). Seu produtor é a DFJ Vinhos, cujo volume de produção atinge 10 milhões de garrafas ano, provenientes de 250 ha de vinhedos próprios e outros 600 ha de produtores de uvas. Segundo o sítio, estagia três meses em barricas novas (não acredito!), e... um mês em garrafa(!), seguindo para a distribuição. É isso? Três meses em barricas novas e um mês em garrafa? Um tremendo desperdício de barrica! Fernando trouxe o alentejano Ciconia 2018 (Casa Relvas), também com muita fruta vermelha e um pouco tostado, mostrando a madeira. Um vinho alegre, corte Touriga Nacional, Syrah e Aragones, melhor equilibrado, boca com alguma especiaria, acidez baixa a média, corpo e taninos flertando a médios, foi um dos meus preferidos no início de minha transição dos sul-americanos para os europeus. Este Enochato ofereceu o já conhecido na confraria Quinta de Chocapalha 2016, mostrando que os vinhos regionais de Lisboa salvam-se sem dúvida alguma. Corte Touriga Nacional, Tinta Roriz, Touriga Franca, Castelão e Alicante-Bouschet, tinha fruta vermelha, notas como chocolate/café e mais toques. Mais corpo em forma de taninos redondos e bem presentes, melhor acidez, claramente maior persistência dentre os três, para mim destacou-se bem. Não representou uma unanimidade entre os bebedores, mas o gosto é livre. Lembremo-nos: são todos mais ou menos neófitos, para quem importa mais uma reunião regada a piadas, futebol, política nacional, cinema, discussões existenciais, mulheres, vinho, política local e comida, não necessariamente nessa ordem. Saíram todos prometendo repetir. Vejamos... 😒

Preços

   Portada Reserva é vendido pela Evino a R$ 194,00 por três garrafas (unitário = R$ 65,00). Na Garrafeira Nacional custa € 4,25, ou R$ 23,00. Dá quase 3x. Aqui a questão da madeira. Uma barrica nova custa quanto? Chutemos 500tão (dólas/Euros). O custo de armazenamento fica em USD 2,00, e estamos falando só dele. Há ainda os custos da garrafa, rolha e o restante da produção. E chega ao consumidor a € 4,25? Não acredito. Ciconia custa lá fora € 4,00, e por aqui pode custar entre R$ 50,00 e R$ 80,00, e na comparação, por R$ 50,00, é uma barbada (dá pouco mais de 2.2x; pelos 80tinha fica em 3.8x 😖). Enquanto isso, Chocapalha é um vinho na casa dos € 9,00 (R$ 48,50), e seu valor oscila entre R$ 105,00 e R$ 150,00 (facilmente vemos estar entre 2x e 3x). Bem comprados, Chocapalha vale o dobro de Ciconia? Para mim, vale. Se o leitor não estiver disposto a gastar tanto em um vinho, e bebe-o nas condições dos confrades, seguramente ficará satisfeito com Ciconia. Se um Pérgola custa cerca de R$ 25,00 - e nem é vinho; será que alguém pensa que é? Teria de ser muito idiota... - Ciconia bem comprado transforma-se de fato em ótima escolha.

Outra reflexão: vem de há muito a ideia de comprarmos vinhos bons na Europa por € 2,00 a € 3,00. Gostaria de lembrar: a moeda estrangeira também tem inflação; a depreciação do Euro em 20 anos foi de 62%; somente entre 2019-2023 foi de 25%(!). A calculadora de inflação do Euro está aqui; tente replicar os valores. E essa é a inflação média. Os vinhos subiram mais, nesse período. Tomando por baixo € 3,00 corrigidos em 20 anos daria  € 4,86, no mínimo. Por esses valores (atualizados!), nem Portada nem Ciconia seriam considerados bons vinhos. Chocapalha, sim! A matemática não mente...






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