Saturday, August 12, 2023

A Paduca novamente

Introito: They Don't Care About Us e lives matter

Agora nós estamos em guerra com a Eurásia.
O inimigo sempre foi a Eurásia.
A Lestásia é uma nação aliada.
1984, de George Orwell

A introdução ficou um tanto longa, é verdade. Pule. Ou leia, caso não se importe de ficar indignado. Se puder, confira com seu rol de informações. Seu canal de televisão favorito tratou do assunto? Compare com este ângulo.

   Há algum tempo ('95) Michael Jackson deu uma passada no Rio para gravar um clip. Com a desenvoltura peculiar, deambulou pelo Morro Dona Marta sem a menor importunação por parte do tráfico. Outro Rio, outro Brasil... acredite o leitor que também põe fé no Saci, na Mula Sem Cabeça, em bolsonésio e outros tantos. Salvem-se os crentes do NAP. A maior polêmica da época - eu estava lá! - foi a negociação, à revelia da polícia, do staff da produção com os Senhores locais. They Don't Care About Us saiu muito bonito, embora em minha opinião o verdadeiro tour de force foi da galera dos tambores. Mas voltando: em '95 alguém - mesmo um astro pop - deambularia em uma comunidade rebolando para quem quisesse ver. Deambularia? Tá... Saci!, Mula!, apresentem-se!
   Às vezes bandidos infiltram-se junto às forças policiais. O resultado é estarrecedor; veja por si e diga-me se não. 

O direito autoral pertence ao UOL mas está em área livre do Youtube; é importante demais para o assunto em pauta caso a fonte original se perca, por isso reproduzo acima. 

   É comum nesse caso o trigo livrar-se do joio; os mal profissionais muitas vezes acabam expulsos da Corporação. Em vários casos, isso aconteceu graças à pressão da imprensa, aquela turma da qual já recomendei cautela, veja aqui. E convenhamos: esses pelegos nada fazem além da obrigação, assim como os políticos, com a diferença significativa de não terem sido eleitos nem terem mandato definido. Cuidado com eles.

   Estes dias um herói anônimo ganhou as manchetes pelo lamentável fato de sua execução por um franco-atirador a mando do crime organizado. Patrick Bastos Reis, policial militar de 30 anos, foi alvejado no cumprimento do dever. Seguiu-se operação policial na região, resultando na morte de 16 pessoas. Tudo indica tratar-se de criminosos cuja resistência às forças da lei - legalmente constituídas, portanto - foi combatida com resposta firme da PM. Dias depois, o que acontece? Uma reporter (sic) é flagrada sozinha à espera da entrada de um contingente policial em alguma comunidade. Como é? Uma mocinha, nos dias de hoje - não são mais nos já perigosos anos '90 - rebolando para quem quiser ver, em lugar onde estranhos são invariavelmente recebidos à bala? Se em '95 a entrada de estranhos em uma favela já precisava ser negociada, o que dizer de hoje? E ela estaria lá por qual motivo? Supostamente flagrar violência de agentes da lei? Num momento de imensa tensão entre criminosos e Estado? É isso mesmo?

   Só estou tentando entender. Não tenho televisão, e minhas... minhas... minhas fontes dizem ser assim. Se alguém tiver outra versão, olharei. E, sendo o caso, até posso refazer meu ponto de vista - isso sempre acontece aqui, e leitor bem sabe. Inegociável é o fato de, no confronto do bandido com a polícia, sempre torcerei pelo último. Mesmo sendo necessário jogo sujo por parte dos agentes legais, e até haver lei proibindo-me disso. Abandonei de vez o black lives matter. Em vez disso, lives matter. E apenas as do bem. Ah, só mais uma pergunta: quando um agente da lei foi morto na primeira operação, e foi a única baixa do dia, não houve consternação - a menos, claro, da família, da Corporação e das pessoas de bem, uma minoria, parece. Por qual motivo a comoção quando 16 discípulos do Capiroto são desencarnados e mandados para suas valas no inferno? Sete policiais foram mortos em 2023, apenas na Baixa Santista, veja aqui. Isso tem nome: chacina. Estamos perdendo para o crime. Faz tempo, aliás... certo, NAP?

A Paduca novamente

   O pessoal parece ter se entusiasmado... 😃 vejamos quanto dura... 😕 (risos). Desta vez reuniu-se apenas o núcleo duro, Paulão, Duílio e Carlos, este Enochato, e ofereci duas garrafas às cegas. É-me divertido ver as divagações dos bebedores, e notar como elas repetem-se pelas confrarias. "O Carlos não serve vinho Chileno/Sul-americano"... "O Carlos sempre serve um francês"... "O Carlos gosta de vinho com acidez alta"... Enfim, ideário que eventualmente não me descreve bem. Acidez discreta é parte de muitos vinhos, e não há mal nisso. Ela não pode mesmo é faltar... e tal gosto descreve-me bem. Ao fim e ao cabo, o bebedor deve analisar o vinho ao bebê-lo, sem levar em conta quem o serve. O vinho pelo vinho...

Servi um, e deixei a turma solta. Duílio foi o primeiro a invocar um ditado, e recusou-se a aceitar sua própria sua intuição. No final, ainda saiu-se com esta: "Se não fosse servido pelo Carlos, diria ser um Cabernet chileno". 😂 Era... Ainda, é possível o Paulão ter dito do segundo ser francês, depois reformou para português. No Chile, cansei de beber vinho à temperatura ambiente em restaurantes e mesmo nas festas do Nagib. Como não faço isso há quase uns 20 anos - quando já passara dos primeiros passos do Aprendizado - de fato não me tocara como a temperatura pode influenciar na acidez. Ria, mas não considerei o assunto a sério em passado recente, e isso caiu-me quase como uma revelação. Donna Maria Cabernet Sauvignon 2016 é produzido pela Viña Falernia, com uvas do Vale de Elqui. Seu CS é monovarietal, e passa 6 meses em barrica; a ficha técnica traz a recomendação de servir a 18 °C - aí gostei. Desde o início chamei atenção dos convivas para a presença bem pegada de Tabasco, e uma indelével picada na ponta da língua. Como apreciadores convencionais, eles ainda não pegaram esse traquejo, e deixaram passar, mas a percepção do Duílio mostrou como eles estão no caminho certo. Nariz com fruta vermelha além da especiaria, e na boca os taninos estavam redondos. Envelheceu bem. A madeira apresentou-se integrada, e os 14,5° de álcool não agrediram. A acidez baixa deixou alguma marca, e final estava discreto. Don Flavitxo apresentou-me o vinho há muito tempo (5 anos+). Queixou-se de custar caro aqui, R$ 200tão+ à época. Trouxe de lá esta safra 2016 (acho que em '17, ou '18). Paguei 10 Luca, o que então daria uns R$ 60tão. Custava o mesmo que um Tarapacá Etiqueta Negra; não é mais vendido aqui, e também não encontrei à venda no Chile. Cedro do Noval 2016 é um Duriense já referido no blog algumas vezes. Chegou ao nariz com muita fruta, alegre e uma picadinha de especiaria; boca com taninos redondos, álcool discreto, corpo médio, acidez presente, e isso o diferenciou crucialmente de D. Maria. Tem retrogosto e é mais persistente. Ganhou por meio corpo (risos), embora os convivas tenham preferido a presença marcante da Cabernet e deixando de lado a melhor acidez do Cedrinho. O problema é que Cedro custa cerca de USD 10,00 em Portugal, contra USD 20,00 de D. Maria no Chile. Voltando aos confrades, o ponto de vista deles é compreensível; estão trilhando os primeiros passos em direção a europeus de maneira geral, podem apreciar o que lhes agrada mas falta-lhes maturidade para uma análise mais técnica. Lembra da postagem passada, quando comentei um pouco sobre as perspectivas da turma com relação ao vinho? É isso: cada qual na sua, sem cobranças nem julgamentos por parte deste Enochato. Sempre repetindo, bebo de tudo, e com todos. Saúde!

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