Monday, January 1, 2024

Comemoração da Paduca e um Borgonha de final de ano

Introito

Final de ano: época de excessivos excessos (rs! sic!), este escriba ladeira abaixo e sem breque - com a breca! - confraternizando em todas as confrarias disponíveis cuja agenda permitiu ao menos uma reunião. Espero poder recuperar oportunamente um ou outro encontro não postado ainda. Com a Paduca, a combinação estava acertada desde o início do mês, para evitarmos conflitos, e o jantar aconteceu no dia 30, na casa do casal Cláudia e Paulo. Na foto, Paulo, o Enochato, Cláudia, Duílio e Eva. Fernandinho precisou ficar de plantão e cuidar de sua mãe, com idade avançada e algum problema inoportuno de labirintite. Esses contratempos acontecem... mas não nos sisquecemos de brindar a ele durante a noite.

Começamos experimentando às cegas dois espumantes, o Freixenet Cordon Negro, já comentado aqui, por exemplo. Frescor habitual, toque cítrico, boa acidez... seu oponente foi o Casa Valduga Extra Brut Premium, corte Chardonnay e Pinot Noir, é elaborado pelo método tradicional e mostrou toques cítricos mais discretos, alguma acidez e boca mais ligeira. Agradou, mas preferência da maioria recaiu sobre Cordon Negro. Valduga é um produto mais caro (R$ 99,00 na loja do produtor, contra uns R$ 75,00 da Cava), e isso absolutamente não pode... Freixenet vem de longe, tem um intermediário no meio do caminho (o importador) enquanto o produtor nacional vende para o lojista diretamente, e ainda assim nosso espumante é mais caro... para uma qualidade ligeiramente inferior. Teria de custar - olha lá, sou generoso e reconheço a quantidade de impostos das terras tupiniquins - R$ 50tão. Com esse exemplar de espumante nacional, e após a degustação da Mercearia 3M de outubro, dou por encerrada minhas compras de tais produtos domésticos. Não deixarei de experimentá-los em degustações, mas até melhorarem - e o preço cair - não preciso mais comprá-los. Verdade, degustei relativamente poucas marcas, mas elas não mostraram aprimoramento com relação a outras experiências passadas, e o resultado final é-me muito claro.

   Nos tintinhos, também às cegas, começamos com um Dame de Boüard 2017, produzido em Montagne-Saint-Émilion, uma apelação satélite de Saint-Émilion onde impera a Merlot, na companhia de Malbec, Cabernet Franc e Cabernet Sauvignon. Este é o segundo vinho do Château Clos de Boüard, um 100% Merlot com curioso toque de morango na frente de tudo, eclipsando outras notas. O quanto durou, permaneceu um tanto plano no nariz. A boca mostrou acidez discreta, corpo médio, um travo doce não enjoativo e final um tanto ligeiro. De Ribera del Duero veio o Pagos de los Capellanes Joven 2019, 100% Tempranillo e já degustado aqui. Ribera produz vinhos elegantes, e Pagos de los Capellanes não foge à regra, mesmo nesse exemplar mais simples - Joven - com seus 5 meses de madeira muito bem integrados às demais características: o nariz é rico, esbanja fruta, tem mais notas - chocolate? - e a boca peca pela acidez não acompanhar os taninos pegados. Mas para isso, vá no próximo vinho da 'escala', o Crianza; ele entrega mais. Por isso (acidez um pouco baixa), o corpo médio acaba num final algo ligeiro, desapontando um pouco pelo prenúncio do nariz. É um bom vinho, com personalidade, e vale a pena, para seu padrão de custo. Com seu Dame de Boüard a Chez France vem escalando os degraus da tubaronice: em promoção permanente de R$ 329,00 por R$ 246,00, custa lá fora algo como USD 20,00. Dá uns R$ 100,00... Capellanes está um pouco melhor: a cerca de 15 Euros, R$ 80,00, custa R$ 200,00 aqui. Está 2.5x, o limite da compra, e fora da proposta original da Enoventos em oferecer vinhos a preços realmente competitivos; durante muito tempo suas margens estiveram abaixo de 2x, e como já apontado ela tem se rendido um pouco à tubaronice. Cuidado e Wine Searcher sempre. 

A sobremesa ficou por conta do Duílio: banana caramelizada com casca de laranja, Cointreau e Cassis, com sorvete de creme. Para acompanhar, o Paulão ofereceu dois Jerez e um Madeira 3 anos; chamou-me mais atenção esse último - nunca havia provado vinhos da Ilha da Madeira - e suas características marcaram mais. Eles possuem uma vinificação singular, e vale saber um pouco mais. Leia aqui. Nariz de um caramelo e notas de frutas secas, 19% de álcool (é fortificado), boca doce contrabalançado pela boa acidez, deixa boa marca acompanhada de bom final, persistente. Não é um grande Madeira, mas como introdução ao estilo agradou muito. Se procurar, encontra na faixa de R$ 120,00.

Feliz 2024...

Para comemorar a passagem do ano abri um Borgonha de Gevrey-Chambertin. Essa comuna fica no distrito de Côte de Nuits, próximo a Dijon. Achei um mapa da região bem interessante aqui, https://bourgogne-maps.fr/, e na resolução de 300 metros pode-se acompanhar todo o recorte dos vinhedos ao redor das comunas. No mapa inicial, não se esqueça: faça o zoom com o ponteiro do mouse dentro do quadrado da Côte de Nuits, logo abaixo de Dijon. O viho em questão é o Les Cazetiers 2010, do négociant Luis Jadot. Les Cazetiers é um dos vinhedos Premier Cru mais importantes da vila de Gevrey; produz vinhos bem tânicos que, aliados à ótima acidez e bons taninos resultam em ótimo volume de boca. Com 13 anos, está em bom momento para degustação; redondo, com grande maciez a despeito dos taninos e acidez. Depois do último gole o movimento de mastigação mostra como ele permanece em boca. Eu não falei do nariz... é graciosamente complexo, a fruta vermelha vem na frente e é seguida de mais notas misturadas a um toque herbáceo. Um bom olfato pode se divertir muito desnudando suas nuances. O meu, infelizmente, deixa a desejar. Mas a boca muito bem marcada compensa as deficiências olfativas, e posso dizer ter sido uma ótima abertura de ano. Deixei metade da garrafa para o almoço de amanhã. Feliz 2024, e obrigado pelas leituras.

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