Tuesday, January 16, 2024

O segundo dia do Chambertin e mais

Introito

Feliz com o início do ano, banho tomado - de ontem, último de '23 - vamos a algumas experiências atrasadas cuja descrição será movida ao segundo dia do Chambertin. Manteve muito bem a força no nariz, mas da fruta antes disparada na frente aconteceu um de dois: ou ela caiu um pouco ou algo que possivelmente já estava lá antes subiu e passou a competir com ela. O chato foi não conseguir distinguir, mas estava lá, diferente, algo como couro, mas não era... a acidez, maravilhosa, persistiu: passeando com ele na boca, nota-se a provocação nas laterais da língua, ao fundo, e a salivação aumenta incontrolavelmente. É bem seco; o açúcar quase não é percebido, sobrepujado pela acidez. O tanino continua pegado, e os 13,5% de álcool pouco aparecem, bem integrados. A permanência é realmente boa, agradável, longa, longa de verdade, não aquelas mentiras contadas para descrever sul americanos ou europeus de 5,00€ e usá-los na definição de milissegundos. Ter a oportunidade com comprar esse vinho nos tempos do dóla a 2,X foi gratificante, e contar com a paciência em mantê-lo mostrou a devida recompensa.

Outras degustações

Nunca sisqueça (sic! rs!), estamos no brasio. Terra onde tubarões caminham (sic) pelo serrado, pela caatinga e pela Mata Atlântica, acompanhados de seu parceiro e mentor, o capiroto em pessoa, ladeados por um séquito de lacaios soprando flautas amaldiçoadas de onde saem sofríveis notas em tenebrosas melodias. Contra eles, clamemos pela força do Senhor, pelo símbolo da Cruz, para a crueza do Verbo a exorcizar e para a potência da oração, dadas pela Santa Internet em geral e pelo Wine Searcher em particular. Invoque-os sempre, sem medo e com fé; sua alma pode não notar a diferença, mas seu bolso... Assim, acompanhemos em três pinceladas certeiras o esboço do quadro do comprador desarmado de informação em terras canarinhas (preço cá sem 'promo', preço cá em 'promo' e preço lá). Aconteceu de Mário estar fora, da Débora estar ocupada e quem se reuniu, bebeu; a Liu veio conhecer a adega deste Enochato, e maravilhar-se... 😂
   Ela talvez tenha se enganado no valor pago pelo seu vinho (servido às cegas) em loja da cidade. Não deve ter sido próximo a R$ 200,00, como ela disse. Apenas não duvido; só acho que ela se enganou ao pegar essa garrafa junto de outras. Vamos lá.


   Para proporcionar à Liu uma boa experiência, escalei um velho chapa, o Cedro do Noval 2016, enquanto ela chegou com seu Château C?. Sim, a foto não ajudou tanto, e deu (algum) trabalho encontrar o vinho, pois já havia dispensando a garrafa. Château Calet 2019 provém de Blaye, uma apelação de Bordeaux situada em torno da cidade homônima, com cepas predominantemente Merlot, Cabernet Sauvignon e Cabernet Franc, com notas de frutas, boca com acidez baixa a (talvez) média, taninos leves, final um pouco rápido. Caro, para R$ 200,00. Passei na loja uns dias depois, para conferir... estava algo como "de R$ 115,00 por R$ 99,00". Pela 'promo' abaixo, R$ 200,00 no interiorzão não é difícil, pois seu preço inicial seria R$ 149,00:

   Mas de repente encontramos 'promos' melhores: praticamente R$ 80,00, com R$ 70,00 na caixa de meia dúzia:

   Então procuremos seu valor 'lá': 6,90€...

... ou nem tanto...


...e se está à venda lá por 4,50€, com algum lucro para o lojista, vem a pergunta de sempre: saiu de lá (preço FOB) por quanto? Bem, 4,50€ perfazem R$ 25,00. R$ 200tão dá 8x. O R$ 150,00 do preço aferido sem 'promo' dá 6x. E R$ 70,00 na caixa de meia dúzia dá perigosos (quase) 3x. E ainda precisa repetir um vinho simples outras 5 vezes. Haja confrade pra desovar, heim? Não faria isso nem com a Paduca... 😣 Por sua vez o Cedrinho mostrou as qualidades já conhecidas pelo leitor, da fruta inicial ao bom final; garrafas compradas por cerca de R$ 115,00 dão prova do quanto a boa compra preserva nossos suados Reais e nos provê vinhos melhores e bem mais complexos. O paladar agradece. Não quer gastar tempo pesquisando vinhos? Acompanhe os blogs de sua confiança 🤣... embora creia mesmo ser melhor você beber cerveja... 🙄 Ao fim e ao cabo, Cedrinho levou Château Calet no peito, sem muita chance para o francês. Claro, a diferença de preço entre eles (2x) manda Cedrinho bater o segundo com franca margem. Ele apenas faz isso... Saúde, Liu!

A volta das sumidas...

Estes dias recebo uma ligação da Isabela, amiga de outras taças. Ela tinha um vinho cujo primeiro exemplar fora comprado por indicação do Akira. Gostara tanto que não tivera dúvida em voltar na loja e arrematar a segunda garrafa - a despeito do preço. Queria beber aquela com a Bete e D. Neusa, pessoas com as quais nos reunimos no passado, para celebrar a memória do Akira. Os comentários sobre o primeiro exemplar não foram postados - época de quando o blog andava meio finado... de qualquer maneira, foi legal sentar-me novamente com com todas elas e recordar dos momentos com nosso amigo. Na foto, Elizabeth, o Enochato, D. Neusa e Isabela.

Escultor é produzido pela Monte do Pintor/Sociedade Agrícola da Sossega, baseada no Alentejo. Produz quatro vinhos: Pequeno Pintor, Monte do Pintor, Monte do Pintor Reserva e Escultor, seu ícone e corte Trincadeira, Aragonês e Petit Verdot. O encontro aconteceu no final do ano passado, e não anotei as notas dos vinhos. Escultor 2012 está em ótimo momento para ser degustado: os taninos estão amaciados, tem boa acidez, do nariz saltam frutas e outras notas. Apresenta boa permanência e final, todas as características de um bom vinho. Se puder, experimente. Cuidado com a safra: atualmente disponível na 2017, talvez mereça alguma guarda. Está caro lá fora - não creio que valha 70,00€. Valendo - mas não vale... - seu preço aqui está barato: encontramos até por R$ 400,00. Muga Reserva 2018, devidamente aerado por cerca de 4 horas, veio com muita fruta e mais notas no nariz, boas acidez e persistência, e ótimo final: um conjunto adequado para desafiar Escultor, e digo apenas que o páreo foi bom. Tivemos ainda um argentino, o Trivento Malbec Reserva 2020. É um vinho mais ligeiro, deixando a desejar principalmente pela falta de acidez. Nariz com fruta bem viva - é novo - não fez feio, mas ficou bem aquém dos demais: final curto e sem muito diferencial, embora não esteja desalinhado quando comparado a similares sul-americanos. Certo, custa mesmo uma fração dos demais, mas reputo não dar no couro contra europeus na faixa de preço. Só não conte comigo para fazer essa comparação...

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