Wednesday, March 6, 2024

Paduca em noite de acertos

Introito

A reunião da Paduca nesta terça foi animada e divertida, repleta de acertos e alguns enganos engraçados. O duro, analisado friamente, foi constatar o quanto tais erros pouco tinham a ver com a interpretação dada aos vinhos - um deles estava mesmo muito diferente do esperado. Começou com a proposta de dois vinhos às cegas capitaneados por este Enochato, mas como os ânimos estavam animados acabamos consumindo três garrafas. O acompanhamento foi providenciado pelo Duílio, com seu já popular (rs) quibe assado. Desta vez o Paulão trouxe um mato estranho e ainda tentou fazer-me crer ser ele bem popular entre os naturebas. Rúcula, acho que era isso. Não é nem um pouco popular aqui em casa... 

Com Paulão e Duílio, servi o primeiro vinho fora da temperatura adequada - mas pelo menos tínhamos algo nas taças... 😣 O primeiro cafungou e lançou um já bebi desse vinho... ele está ficando viciado nisso (rs). Samba, suor e ouriço nas conversas - principalmente ouriço - sirvo o segundo, em temperatura já adequada. No rastro, servi novamente do primeiro. O Paulão não se fez de rogado: O primeiro parece português. O segundo, sulamericano. O Duílio viu Cabernet Sauvignon no primeiro, e alguma espanholidade (sic, rs) no segundo. Chega o Fernando esbaforido, vindo de viagem, e mal cafunga já manda, de cara: Este segundo é sulamericano sem dúvida, o outro parece.... italiano. Dizemos mais uma rodada, as opiniões mantiveram-se. Saia o quibe e voltou a conversa inicial, samba, suor e ouriço - principalmente ouriço - e observamos a harmonização. Chocapalha casou bem com o quibe, os convivas ficaram satisfeitos. Já mostrara e comentara os dois primeiros vinhos aos confrades quando percebi os apetites insaciáveis, e convoquei a terceira garrafa. Essa todos viram logo de saída qual era...


O primeiro vinho foi o Quinta de Chocapalha 2017, um corte 65% Touriga Nacional, 10% Tinta Roriz, 10% Alicante Bouschet, 10% Touriga Franca e 5% Castelão, produzido na região de Lisboa. Com 14% de álcool, fruta bem evidente e mais notas - achei café, Paulão disse toques de terra, herbáceo - com boa permanência, acidez quase média, taninos macios e bem integrados ao conjunto, realmente casou com o quibe ao azeite. Final algo curto, mas razoável para seu preço. O segundo foi o Tarapacá Gran Reserva Etiqueta Negra 2020, um Cabernet Sauvignon que nada guarda com as edições mais antigas de quando eu era fã da marca. Seu doce de entrada no nariz - goiaba - surpreendeu negativamente e sequer lembrou o exemplar de mesma safra degustado no Chile ano passado, por ocasião do aniversário do Nagibim. As versões mais antigas apoiavam-se bastante na madeira, enquanto nas novas safras essa característica ficou em segundo plano. Verdade seja dita, a fruta enjoativa cedeu um pouco com a temperatura mais baixa - ou teria sido a aeração? -, mas deixou um quê de decepção. Tem sim outras notas de frutas, todavia seu dulçor ainda competiu muito com os taninos. Acidez? Baixa... nada como ter a comparação de taça ao lado... final? Oh, Lord... para ter final precisa ter início... Servi a terceira garrafa sob os olhares atentos do Lemão.

Cafungávamos da terceira garrafa quando comentei meu propósito na reunião:
- O que eu queria era um vinho europeu para comparar com o Tarapacá, e que o batesse no menor custo possível, dentre o que tenho aqui na adega.
- E conseguiu justinho! De fato o Chocapalha bateu o Taracapá! - apoiou o Duílio, enquanto abria um sorriso largo ao dar-se conta da proposta e do objetivo. Os demais confrades concordaram com a avaliação, unânimes. O Fernando disse que o terceiro talvez fosse o vinho mais fraco, opinião não compartilhada. E ao final ficou claro: este acabou, enquanto o Etiqueta Negra sobrava em pouco menos de meia garrafa. Já escrevi algo como os melhores vinhos encontram as taças antes dos demais. É isso aí... La Garnacha Salvaje Del Moncayo é um dos exemplares do Proyecto Garnachas, baseado em La Rioja e com o intuito de resgatar essa cepa - conhecida como Grenache na França e Cannonau em algumas regiões da Itália - em diversas regiões do norte da Espanha, apresenta expressões do Priorato, dos Pirineus, de Aragão e da Serra da Cantábria - próxima a Rioja. Tem nariz com fruta bem vermelha, boca redonda com 14% de álcool, madeira discreta, acidez presente - não tão alta, mas não desaponta - e final condizente. Agrada, e não deixou por menos: conforme já relatado, evaporou na frente do Etiqueta Negra. 

Os preços

Quinta de Chocapalha está por volta dos 10,00€ em Portugal, o que dá lá seus R$ 54,00. Tarapacá custa no Chile entre 15.000 e 20.000 Pesos, o que dá entre R$ 75,00 e R$ 100,00. La Garnacha Salvaje custa 9,00€, ou R$ 49,00, na página do produtor. O preço de 20.000 Pesos é o normal, e temos a promo com desconto. Verdade, seu valor lá oscila bastante - bem como de outros vinhos mais premium, o que só reforça a tensão para cima do valor pedido por eles. Grosso modo vemos um chileno a 2x do português e do espanhol, levando couro de ambos! E note: Tarapacá é rotulado como Gran Reserva, enquanto os outros são apenas vinhos simples, sem qualquer 'ostentação'. Chocapalha pode se encontrado aqui por até R$ 100,00- (menos de cem reais!), enquanto La Granacha estava uns R$ 110,00, para pagar no pix, o limite da compra; em seu preço normal, é tubaronesco. Já Taracapá pode, com muita sorte, ser encontrado a R$ 170,00. Seu preço normal antes das 'promos' pelas quais anda passando é uns R$ 230,00, embora possa esticar a até R$ 320,00(!). Vinho sul-americano está caro... mas onde você já leu isso, mesmo?

Preço do Chocapalha, lá e cá.



Preço do Tarapacá, lá e cá:




La Garnacha, lá e cá


3 comments:

  1. Fala, Big Charles!
    Gosto bastante deste Garnacha. Muito fresco e nada a ver com aquela coisa horrorosa inesquecível que você nos serviu anos atrás… Um tal de Evódia… rsrsrs. Comprei esses dias em oferta, por 60 moluscos maduros.
    Abração,
    Flavitz

    ReplyDelete
    Replies
    1. Don Flavitxo, duas vezes canalha! 🤬
      Uma por não avisar da 'promo' da Garnacha, outra por expor meus podres assim sem mais, perante meu séquito de seguidores...

      Na verdade, o Evódia veio como indicação de um sommelier de loja conhecida da cidade. Não tenho - ou não tinha tanta - resistência em aceitar sugestões de lojistas. Isso foi-se alterando com o tempo. Atualmente é bem assim: sugestões sul-americanas, não mais.

      Obrigado pela leitura.

      Delete
    2. Na verdade, o Evódia veio como indicação de um sommelier de loja conhecida da cidade. Não tenho - ou não tinha tanta - resistência em aceitar sugestões de lojistas. Isso foi-se alterando com o tempo. Atualmente é bem assim: sugestões sul-americanas, não mais.

      Delete