Monday, March 4, 2024

O segundo dia do Jonata

Sem introito

   Esta vai curta mesmo, para relatar o segundo dia do La Sangre de Jonata 2007. Mas antes uma reflexão. 

   Os vinhos mais simples realmente decaem após abertos, de um dia para o outro. Grandes vinhos podem beneficiar-se da aeração de 12 ou 24 horas, e subir. Outros grandes vinhos podem simplesmente manter-se, dentro da abordagem de um Enochato deficiente nasal como este. Exemplo típico de vinho cujo serviço requer 24 horas de aeração é o Numanthia, espanhol de Toro, para safras com 10 ou 20 anos - veja aqui para uma safra com 20 anos. Don Flavitxo já confirmava essa estória bem antes da minha experiência, veja aqui, abrindo um mesmo Numanthia com 11 anos. E como ele mesmo enfatiza nessa postagem, grandes Barolos e Brunellos também precisam de muita aeração para se revelarem. Até brincamos, abrir Barolo (principalmente novo) e beber chama-se... Barolicídio! E não, não existem taças super poderosas (risos!) que possam aerar o vinho em segundos (sic). Grandes Barolos abertos com 15 anos apresentam taninos muito duros, e a aeração não vai ajeitar esse meio de campo. Digo com alguma (uma única) experiência: não foi postada, mas pegamos certa vez um Domenico Clerico Ciabot Mentin Ginestra 2001, para abrir em algo como 2018. Aerou por umas seis horas, e o Akira levou-o ao nariz. Olhou para todos, com a taça ainda encostada aos lábios e mandou, impassível: - Está verde...

Aquele tom de melaço em La Sangre preservou-se. É uma característica que o Akira associava a muitos Rhônes de corte GSM, típicos do sul da denominação. Certa vez abri um, às cegas, com o próprio Akira e o Romeu. O primeiro identificou a característica e falou brevemente sobre ela, sob o olhar atento do segundo - e meu próprio - e matou a procedência só no nariz. Coisa que o Akira fazia regularmente, tirando certas procedências como que do bolso - do nariz, na verdade... O Romeu só fez olhar para mim, surpreso, e jurou: tentaria aprender... Voltando da digressão: o melaço preservou-se, e a baunilha também. Discretos. Eram mesmo frutas escuras, couro e tabaco, não tinha chocolate. Brincar com La Sangre em boca, sorvendo um pouquinho de ar e movimentando-o a gosto pelo palato e abaixo da língua continuou igualmente prazeroso. O final sempre vinha largo, não aquela estória de largo dos chilenos ou mesmo europeus de baixa acidez conforme lemos em resenhas mãos e bocas tortas por aí. Engula, movimente a boca como se mastigando o nada e sinta como fica algo lá, quase que energia se criando do vácuo (risos), que é um fenômeno bem conhecido da ciência. Há muito tempo um amigo perguntava se um vinho de R$ 100,00 valeria mesmo a pena. Era início dos 2000, bebíamos vinhos de R$ 25,00. Até ele comprar um - o Tarapacá Etiqueta Negra, a R$ 120,00/USD 50,00, 'preço cá' à época - e conferirmos que sim, valia a pena investir mais em vinhos melhores. Bebíamos mal, heim? Mas evoluímos, tejem certos (sic! rs!). Voltando novamente (rs): se alguém ainda tem dúvida da longevidade dos Napa, basta olhar a foto e procurar algum atijolado nesse vinho de 16 anos. Vemos apenas um negro profundo, bem característico da Syrah, aliás. Muito pouca borra no final...

3 comments:

  1. Faaala, Big Charles!
    Pois é, tem vinho que só o tempo mesmo. Sem taça mágica… 🤣🤣🤣
    Enfim este Jonata entrou no saca-rolhas? rsrs
    Abraço,
    Flavitz

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    1. Olá, Don Flavitxo, obrigado pela leitura.
      Pois é, entrou e a rolha estava esplêndida. Ainda tenho outro, para algum momento neste ano.
      []s
      Oeno

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    2. Não sei porque isso ficou na moderação... Mas pois é, entrou. E tem outro na fila!

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