Friday, March 22, 2024

Paduca (n)on the rocks

Introito

Os paduquentos são - todos eles - pingaiados do primeira. E ninguém jamais tentou esconder isso... portanto minha ideia, no final do ano passado, de começar a comprar uma garrafa de uísque por mês junto dos vinhos e degustá-las em algumas ocasiões, não foi prontamente aceita; foi imediatamente implementada! Com quatro garrafas estocadas, marcamos nosso primeiro encontro. O dilema inicial foi programar a ordem de serviço. Cada bebedor apresentou sua ficha corrida, digo, suas credenciais: Fernandinho conhecia todos - pingaiado-mor. Duílio conhecia dois - pingaiado-experiente. Paulão nada conhecia: pingaiado-neófito. 🙄 precisei render-me, estava na mesma condição. Tenho vivido os últimos anos à base de algum Chivas ou Buchanan's, com escorregadelas para um Singleton - os dois primeiros blends, o último, single malt, todos 12 anos. Já fui de Joãozinho Andador também, e provei aqui e ali uns Chivas 17 e 21, algum Macallan e outras tranqueiras similares (rs). De uns tempos para cá, noto como beber uísque está ficando mais barato do que beber vinho... (batendo palmas): Alô, alô, importadores de uma figa! Se for embora, não volto nunca mais, heim!

Os atores

Começamos pelo The Chita Distillers's Reserve, um single grain da Suntory Whisky. Se entendi bem - meu japonês está bem enferrujado - a Suntory começou suas atividades há um século, e à destilaria principal foram-se juntando outras; The Chita é uma delas. Seus 43% de álcool estão bem presentes (risos), com nariz diferente, mas sem deixar de lembrar nossa boa e velha cachaça. A boca também é pegada, guardando a mesma similaridade com nossa campeã nacional. É um pouco mais fino - um pouco - e fiquei pensando se vale os quase 400tão pagos por ela. Tem envelhecimento em barricas de Sherry e Bourbon durante (dizem, internet) 3 anos. Na sequência veio o Glenmorange The Original 10 anos. Single malt envelhecido em barricas de Bourbon de primeiro e segundo uso, seus 40% de álcool pareceram mais equilibrados em nariz e boca, e para um 10 anos não fez feio - nem um pouco. No meio das conversas o Duílio comentou - piscando para os colegas - sobre fazer gelo usando água de coco e misturar com a bebida, para dar uma 'quebrada'. Eu já mantivera as garrafas na geladeira para resfriá-las, e as servi duas a duas. Meu comentário democraticamente acabou com a questão:
   - Aqui se bebe uísque non the rocks...
   A primeira rodada ainda suscitou comentários bem favoráveis do Duílio para o Glenmorange, e no geral mais gélidos para The Chita; fá declareado da linha Joãozinho Andador, sua boca babava pela chegada do Johnnie Walker Green Label, para os conhecedores sabidamente um 15 anos. Um blend de 12 single malts, dentre eles Caol Ila, Linkwood, Cragganmore e Talisker, peguei nele o mesmo defumado que às vezes pego nos Chivas. Seus 43% de álcool também são equilibrados, e dentre os três primeiros mostrou um final mais robusto - embora um tanto áspero depois de engolirmos e salivarmos. Mas era um final mais vigoroso, presente. Em quarto chegou um Chivas Regal 18 anos, 40% de álcool, como mencionado um travo de defumado no nariz, boca redonda mas pegando um pouco, como o Green. A boca é mais complexa do que os primeiros exemplares, e o final também é aportou boa permanência. Com preço na faixa do Green (400tão), competem muito bem entre si, e talvez Chivas ganhe por meia cabeça. Não foi a percepção do Duílio; ele propôs darmos mais atenção ao Glenmorange  e ao Green no próximo encontro, fazendo um par entre eles, para comparação direta. Ao final, os Paduquentos estavam quase bêbados - quase -, e seguramente felizes...


...mas tinha um outro 12 anos no meio do caminho...

The Macallan 

Como se faz com os melhores vinhos, ofereci por último a degustação de um The Macallan Sherry Oak Cask 12 anos, um, single malt de minhas reservas estratégicas. Esse, ninguém jamais bebera... Servi os confrades e tirei meu momento para apreciá-lo. Não consegui tirar suas notas, mas é... fino... quando olhei para os colegas, notei o Fernando mirando fixo para o infinito e o Duílio mantendo os olhos vidrados em seu copo. Paulão apenas chorava. A exemplo dos demais uísques da noite, fiz um bico com a boca e sorvi um pouco de ar. Ensinei diversos confrades a fazer isso com vinho, mas é preciso ser muito mais parcimonioso com uísques: a quantidade de álcool é muito maior, e sua vaporização em boca fica bem mais vigorosa. Com Macallan, soou muito mais redondo em comparação com os outros; ainda, a boca, muito macia, tinha um toque com o qual fiquei maravilhado e tentando descobrir o que era. Envelhecido em barricas de Xerez do tipo Oloroso, segundo a ficha técnica seu final tem frutas cristalizadas. Talvez fosse isso, mas não fiz a conexão naquele momento. Sei que enquanto Macallan  tocava o terror nos corações e mentes dos Paduquentos, eu apreciava o quanto ele permanecia em boca: após engolir e salivar, ele estava lá. Engolindo a saliva e salivando mais, ele continuava lá... O Paulão tentou subir na mesa - o teto da adega é baixo - e, não conseguindo, ficou de joelhos em cima dela. Olhos vermelhos de fúria, tentou apontar para meu nariz, mas pela proximidade comigo a posição da mão ficou estranha... então ele pousou ambos os braços na cintura e num ligeiro rebolado disparou: 
   - Você sempre chega no final e quer colocar algo melhor, não é mesmo?! 
   Baixei os olhos por um instante, mas depois voltei-me com tranquilidade: 
   - E diga que não está bom... 
   Todos beberam quietos e felizes até o fim da reunião. Despedimo-nos com abraços afetuosos, calados.

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