Friday, March 29, 2024

As trapaças do Ghidelli

Direto na postagem...

Depois de muita combinação, saiu um encontro na casa do Ghidelli. Ele me liga falando em promover uma noite de espanhóis - principalmente - e menciona o Beronia Gran Reserva 2009. Tá bom... teve um... rosé da Provença, que não deixou lembrança nem saudades; Domaine La Rouillere (não guardei a safra) é bastante leve, nem tão pouco álcool (13%), baixa acidez e desembestado como se fosse a ligeireza em pessoa. Só reforçou minha má estima para com rosés em geral. Para acompanhar camarão com mascarpone veio o J de Villebois Sancerre 2021, um Sauvignon Blanc, como é típico da região do Vale do Loire. Nota herbácea evidente - alguém deu outro palpite - mais corpo, mesmo com menos álcool (12,5%), mineralidade presente, como igualmente característico, melhor acidez e fresco, não combinou como outras provas movidas a exemplares de Chablis - principalmente Premier Crus -, mas fez bom par. O Mas La Plana 2017 veio às claras. É um vinho conhecido dos bebedores mais avançados, Cabernet Sauvignon produzido em Penedès, onde a Família Torres está estabelecida desde o século 16. Penedès fica próximo a Barcelona, à beira do Mediterrâneo, embora tenha 'operações' em Ribeira del Duero e no Priotato. Discutimos sobre a leve picada típica da CS, presente em Mas la Plana de maneira bem discreta, e interpretamos como a expressão da cepa na Espanha. Fruta generosa no nariz, boca equilibrada, corpo médio, acidez chegando a média, com boa persistência. Um toque de madeira deixa o palato marcado, e não enjoa. Para uma garrafa aberta logo na chegada dos convivas, antes do início dos trabalhos, lembrou um pouco o próprio nome: plano, pois não mudou muito durante o percurso. Não sei se foi a garrafa ou se precisa de mais tempo em adega. Pelo preço lá fora, USD 80,00, achei um tanto caro pelo benefício. Fiquei pensando se ele encararia, p. ex., um Fattoria di Felsina Berardenga Chianti Clássico, ou um Fontodi Chianti Classico Riserva/Gran Selezione Vigna Del Sorbo, por exemplo, vinhos de valor similar em safras igualmente jovens, e acho que ele não lhes faria frente. Conversa de Enochato...

A grande trapaça

Um dos vinhos estava às cegas, e o Ghidelli desafiou quem descobriria a procedência - encarou-me com um olhar especialmente artimanhoso (risos). Que canalha... havia-me cantado a bola do Beronia. Cafunguei, comentei sobre ter um toque de ponta de língua mais forte do que Mas la Plana, o que poderia sugerir uma Cabernet Sauvignon. A Elvira concordou de imediato, era um toque mais pronunciado mesmo. Declarei não conseguir identificá-lo, não tinha cara de português, italiano ou francês, e também recusei-me reconhecê-lo como espanhol - a despeito da cantada de bola em particular. No nariz estava maduro, notas na direção de couro e chocolate, e frutas escuras. Boca muito equilibrada, madeira presente mas muito bem integrada, álcool discreto - eram 14%  conforme conferi depois - corpo tocado a bons taninos e acidez bem presente. Ganhou do Mas La Plana com folga, e para minha completa surpresa era um vinho chileno: O Conde de Superunda 2011. Com um sorriso maroto, o Ghidelli passou ao novo desafio: se eu falaria bem dele na postagem. Produzido em Curicó - vale onde, confesso, nunca prestei muita atenção - é uma mistura de cepas chilenas (CS e Carmenère) e espanholas (Tempranillo e Monastrell) elegante, pegado como eu gosto e de muita personalidade. Esta aí, um vinho do qual posso falar bem, sem o menor problema - e falar bem do que é bom, independente da procedência, nunca foi problema neste blog. Veja aqui, quando falei bem de outro chileno. Don Flavitxo há havia comentado sobre ele, há muito tempo. Mas foi numa fase posterior ao meu descontentamento com com os vinhos chilenos, momento em que seu valor já estava alto demais e não passava-me mais pela cabeça comprá-los. Como Mas la Plana, ele custa no Chile cerca de USD 80,00. Acho que ele pegaria Chiantis numa luta com melhores chances, mas também perderia. O Wine Searcher avisa-me: um Domaine du Pegau Chateauneuf-du-Pape Cuvee Reservee (2019) também custa esse preço. Leia sobre ele aqui, e garanto, fica desigual. Conde de Superunda é um bom vinho, mas confirma minha máxima: vinhos sulamericanos estão muito caros.

Por sobremesa, tivemos um... ler rótulos alemães é complicado... bem, um Domdechant Werner 2011, Riesling auslese. Esse último termo indica de alguma maneira o quanto  o vinho é doce, ou algo assim.  Sei mesmo que estava bom, e combinou com uma sobremesa recheada de frutas vermelhas. Mas àquelas alturas não estava mais prestando atenção para notas ou detalhes fosse dele ou do Moscatel Roxo 5 anos da Bacalhôa... lamento...

2 comments:

  1. Vixe! O cara te pegou, hein Big Charles! O Conde de Superunda é, para mim, um dos vinhos chilenos mais elegantes. Às cegas, lembra um ótimo Ribera del Duero.
    Abs,
    Flavitz

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    1. Don Flavitxo, obrigado pela leitura e pela reflexão. Outra abordagem para o Conde, um Ribera. Não consegui fazer essa ponte na hora. Sinal de que preciso beber mais vinhos dessa região... 😞

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