Sunday, September 13, 2020

La Cave des Hautes-Côtes Beaune 2014

Introito

   Dizem por aí que Borgonhas são vinhos para "iniciados", jamais para iniciantes. O primeiro contato mais sério que tive com eles está descrito na postagem Meu primeiro Valisére. Não que o tenha usado, não, não... não é isso. Foi só uma comparação. Quem leu, sabe; quem ler, saberá. Os detratores que às vezes invadem o espaço, podem chamar-me de traveco. É o mais próximo de um argumento que conseguirão arguir: - Se usou sutiã, é traveco (refiro-me à pobre discussão levada a cabo por um detrator. Primor do discurso vazio). Voltando... a Borgonha é onde produz-se o melhor vinho do mundo. Não, o melhor vinho do mundo não é o Sassicaia , como pretendem alguns - tipo aqueles que comentam que o seu Sassicaia está estragado se você não fala absolutamente bem dele na postagem. Pow deve ter uns 300 Borgonhas melhores na frente dele. Brancos, claro. Imagine tintos. Voltando novamente... A Borgonha é a região onde nota-se a expressão máxima da Pinot Noir. Dá para aprender muito sobre a região - sua história, desde a definição de terrenos uniformes para o plantio pelos monges Cisterciences até os dias atuais - no livro A História do Romanée-Conti, do Maximillian Potter. Na verdade, nunca vi um livro tão laudatório como esse, verdadeiro exemplo do pior pseudo-jornalismo possível. Mas os dados históricos devem ser precisos - o NY Times pode não ser lá grande coisa, mas não erraria tanto ao dar a visibilidade que deu ao livro. - Precisava (sic) fazer uma resenha dele, qualquer hora. A ideia de lê-lo novamente é um grande motivador para que isso não aconteça... neeeeext!

Hautes-Côtes de Beaunes

Hautes Côtes de Beaunes é uma denominação genérica na Borgonha. Criada recentemente (década de 60), abarca as terras altas, depois das escarpas da Côte d'Or. O problema dessa AoC, que não possui qualquer vinhedo Premier Cru, está ligado à posição geográfica, que impede o completo amadurecimento das uvas e, portanto, seus vinhos não possuem todo o caráter e estrutura de borgonhas melhores. Nem por isso trata-se de uma região relegada. Produtores consagrados como Thibault Liger-Belair e A.F. Gros produzem vinho com uvas dessa região. 

Nuiton-Beaunoy

Nuiton-Beaunoy é uma cooperativa que conta com aproximadamente 80 membros (aqui). Deixemos claro que os cooperados em si possuem vinhedos Premier Cru, mas Hautes-Côtes de Beaunes não é uma delas. Dentre sua grande produção, encontra-se La Cave des Hautes-Côtes Beaune, um vinho com nariz à chocolate e fruta vermelha. Na boca, tem - para a média de um vinho europeu - boa estrutura, com acidez presente, álcool contido (13% que não aparece), tanino já 'domado', significando que está pronto para beber. É um grande vinho? Não. É felicidade engarrafada? Não. É um bom Borgonha? Não vou responder. "Bons" Borgonhas começam a aparecer a custo de USD 100,00 (lá fora), dizem. O leitor precisa compreender que Borgonhas são vinhos um pouco fora do padrão. Fechando os olhos: dá para reconhecer que Hautes-Côtes de Beaunes é um Borgonha (tem algo da tipicidade). Dá para reconhecer que Hautes-Côtes de Beaunes é um bom vinho. Não arrisco dizer que seja um 'bom Borgonha' em seu sentido mais amplo. Mas tenho certeza - certeza! - de que mata no peito e baixa pro gramado 105% dos vinhos sul-americanos que atualmente são vendidos por até o dobro de seu preço. Recobrando o início: Borgonhas são vinhos para iniciados, não para iniciantes. Nesse contexto, Hautes-Côtes de Beaunes é um bom vinho de introdução aos Borgonhas, para quem nunca bebeu um. 
Esse é um assunto complexo, o internauta interessado deve ter paciência e disposição para entender o que eu - cheio de dedos - estou tendo dizer. O mais dramático é um comentário na postagem Meu Primeiro Valisére, feito por quem entende muito mais do que eu. A postagem é de 2013. O dóla estava cerca de R$ 2,50: Dá para encontrar bons borgonhas abaixo de 200, mesmo que de entrada. Percebe? Atualmente - passados 7 anos, dóla nas alturas - Hautes-Côtes de Beaunes custa R$ 230,00 (e abaixo de R$ 200,00, para sócios do enoclube da importadora). É vendido pela Enoeventos. Tenho falado muito dessa importadora de uns tempos para cá. Comentei o Terres Secrètes Pouilly-Fuissé e os bons Equinócio e Solstício. Apenas enfatizo: tenho comprado vinhos por importadora - as que praticam bons preços. E tenho dados as dicas: a Clarets (do Côte de Léchet) os tem, se você pega na 'promo'. A Cellar tem sempre bons preços (jamais deixe de comparar com o preço 'lá', mas raramente decepciona). A Casa do Vinho de BH também. Idem a Lovino. Sempre, sempre, cuidado. Seja cidadão. Policie. Se estiver alto, deixe na prateleira. 

Ah, sim:  Nuiton-Beaunoy Bourgogne Hautes Cotes de Beaune tem preço médio de USD 26,00 lá fora. Fazendo as contas, USD 26,00 x R$ 4,50 = R$117,00. Note que na minha cabeça, o dóla vale R$ 4,00 + diferença turismo + 6,38% (e agradeça a boa e velha Dilma por isso) = R$ 4,50. Tenho 'estoques reguladores' de vinho, não preciso comprar a bebida se o preço aqui não estiver muito, mas muito bom, bom a ponto de satisfazer essa minha 'exigência' de cotar o dóla a R$ 4,50 e comparar o preço aqui. Portanto, com o dóla a R$ 4,50, esse vinho tem preço 'lá' de R$ 117,00, com preço 'cá' de R$ 230,00/190,00. Boa compra. Se o 'seu' dóla está R$ 6,00, ela fica melhor ainda. E sendo um borgoinha, então...

6 comments:

  1. Big Charles,
    Apesar de eu discordar dessa sua conversão, dóla a 4,50 etc, uma coisa é certa: Se o cidadão pegar qualquer borgoinha genérico, engarrafar e colocar um rótulo brasileiro, com um nominho chamativo, será eleito o melhor Pinot Noir nacional...rsrs.
    Abração,
    Falaveo

    ReplyDelete
    Replies
    1. Don Falaveo, obrigado pela consideração.
      A conversão cotando o dóla a 4,50 é o que me permite avaliar se o preço está bom 'em condições normais de temperatura e pressão' - rs. E está, mesmo nessa cotação baixa e irreal (R$ 4,50). Bem... se nessa cotação já temos um bom preço, o que dizer se fizermos as contas com dóla a R$ 6,00? Muito melhor! Mas... se na cotação a 6,00 o preço for o dobro - o que até seria uma relação melhor do que de muitas importadoras - para o meu bolso, que é muito raso, fica 'caro'. É assim: não tenho culpa de ser pobre... 🙄

      Quanto à qualidade de qualquer 'borgoinha' (sic) com relação ao que temos aqui, comparando preço, então... aí a qualidade dessa compra fica ainda mais clara.

      obrigado!

      Delete
    2. Na verdade, quando eu disse "borgoinha" quis me referir não ao da postagem, mas a qualquer borgonha genérico, que se engarrafado no Brasil seria o suficiente para o povo sair dizendo que é o melhor Pinot Noir brasileiro, que mais "lembra" os borgonheses.
      Abs,
      Falaveo

      Delete
    3. Eu entendi isso! Apenas lamento se meu texto de resposta não deixou sua posição evidente. Achei que escrever 'qualquer borgoinha' seria suficiente para tal. Como vemos, a comunicação sempre enfrenta sutis complexidades envolvendo a percepção do emissor e a do receptor.

      Mas... 🙄 onde foi que já ouvi isso? Digo, alguém engarrafar aqui um borgoinha de fora, para depois ser aclamado o melhor Pinot brasileiro? Devo ter sonhado... ninguém seria tão canalha para brincar dessa maneira com a boa-fé do consumidor...

      Delete
    4. Acho que não fariam isso. Mas se alguém fizesse, às cegas, sem dúvida diriam que é o melhor, o mais borgonhês de todos, mesmo se fosse um borgonha genérico. É a diferença da PN de lá e do novo mundo. Para mim, tirando Nova Zelândia e Oregon, é difícil se aproximar em estilo dos borgonhas.
      Abs,
      Falaveo

      Delete
    5. Também acho que não fariam... 🤥 foi só um comentário algo maldoso acerca do caráter dos nossos produtores. Depois dizem que eu desço o pau sem razão em tudo e em todos... 😕 estão certos...

      Aproximar-se do estilo de borgonhas... barolos antigos? Lopes de Heredia Gran Reserva, um pouco mais envelhecido do que já lançam? Aquele greguinho... qual o nome, mesmo? Miolo Lote 43? Façamos assim: eu teste os primeiros, vc, o último...

      Delete