Saturday, April 3, 2021

Brancos também evoluem depois de abertos...

Introito

   Às vezes fico trocando uns uatizápis (sic) com Don Flavitxo logo depois de comer, enquanto bebo do vinho e antes de escrever a postagem. Depois mando-o chupar seus pirulitos e caio na escrita. Acho que devíamos nos comunicar por alguma dessas plataformas onde tem seguidores, na forma de diálogos. É que ficamos a falar de vinhos e comprara preços cá x lá, o que tem disponível aqui x lá, etc. Acho que facilmente poderíamos ter mais seguidores que o... o... Lula? MamãeFalei? Felipe Neto? Jesus Cristo? Menas... Nas discussões, notamos a disponibilidade de um branquinho nojento de uma obscura região francesa que custa aqui 700tão, e lá fora, 100dólazão. É caro? Sim, aqui e lá. Mas convenhamos, é uma oferta excepcional. E Don Flavitxo jura - jura! - que é um brancos mais pungentes que já bebeu. Convenhamos: não deve ser ruim... Preciso pensar nessa ideia, e convencer Don Flavitxo a participar... e, claro, encontrar alguém que me ensine a usar uma dessas plataformas...

Condrieu

   Já falei um pouco sobre a minúscula região de Condrieu, na França. Seus vinhos são baseados na Viognier, uma cepa branca de difícil cultivo no norte do Rhône, mas que a persistência e tenacidade humanas insistem em levar a cabo. O esforço é compensado: seus vinhos adquirem características únicas e singulares, diferentes do resto do mundo. Por 'diferentes do resto do mundo', entendamos que a Viognier estava quase extinta nos anos 60, como boa parte do norte do Rhône. Foi justamente a insistência de alguns produtores trabalhando no resgate da cepa que, trinta anos depois, despertaria atenção de produtores na Austrália, EUA, Chile e Argentina. 

Les Vins de Vienne

   Les Vins de Vienne é uma casa fruto dos esforços de três bons produtores do Rhône, devidamente identificados no rótulo de seu Condrieu: Yves Cuilleron, François Villard e Pierre Gaillard. É assim: a Europa, açoitada por Filoxera no final do século 19, duas guerras mundiais no século 20, para onde marcharam para a front lado a lado artesãos, pedreiros, agricultores e vignerons, dentre outros - Gaston Huet foi só um exemplo - e passou por uma catástrofe em sua produção quase milenar de vinhos. A estória de 'produção de pai para filho desde 1500 e bolinha' sobreviveu sim, mas para ser comemorada como pontos fora da curva, raros exemplos, meros acasos, não como o caso a ser seguido. Já comentei sobre a Batalha de Somme, na Primeira Guerra. Também nessa época, a vizinha Reims - apenas um dos centros mais importantes de Champagne! - foi completamente pisoteada, regada a gasolina e óleo cru, coberta de pólvora, enxofre e gás mostarda. Sua recuperação demandou anos e anos... Quero chegar ao ponto que, no presente caso, a filoxera - apenas uma das sete pragas do Egito (rs!) -  devastou várias regiões da França. E uma delas o trio Cuilleron-Villard-Gaillard se propôs a recuperar em seu ambicioso projeto. Les Vins de Vienne é somente parte dessa iniciativa.

Condrieu La Chambée

   Condrieus são vinhos para ser consumidos jovens. Ao contrário de outros, seu preço decai com o tempo, e decai rápido. Seu ápice ocorre em 4 ou 5 anos após a produção... Podem ser excepcionais, mas foram feitos para brilhar sozinhos. Não são então destinados a doelos, trielos (sic! rs!), com outros estilos. Errei redondamente quando tentei fazer algo parecido. O estilo é único, delicado. E algo delicado tratorar outro igualmente delicado soa estranho. Daí que 'provo' e premissa: delicados podem até se esbofetear, mas nunca se tratoram...
La Chambée teoricamente atingiu seu limite. Nariz com notas bem cítricas (abacaxi?) e algum doce. Na boca, apresentou acidez balanceada - Condrieus são vinhos de acidez considerada baixa - mineralidade característica dos bem poucos que já bebi, alguma especiaria (do carvalho?), corpo médio, final não muito longo. E curiosamente enche a boca. Soa estranho? Sim. Mas... mas... mas... parece que isso é um Condrieu. Sei que soa estranho, mas é o que posso oferecer ao leitor menos iniciado. O mais curioso é que, cerca de uma hora depois de aberto, La Chambée dá uma crescida na taça. Não sei se é pela madeira, mas dá um up.; só percebe-se se o vinho dura tudo isso; não beba-o em confraria. Já havia percebido isso de outra garrafa que degustei com o Akira, e ficamos um bom tempo à sua beira, apreciando-o. Ao apresentar a evolução, no grau e qualidade, surpreendeu a ambos. Experimentei o mesmo desta vez. Por questões de vinificação - a Viognier é uma cepa difícil porque concentra muito açúcar, então para não deixá-lo doce é preciso 'queimar' o açúcar, transformando-o em álcool, é fácil que seus vinhos atinjam 13% de álcool - La Chambée tem 13,5%. É bastante para o padrão francês em uma uva delicada, embora alguns brancos resultem bem mais alcoólicos. Tudo questão de estilo. La Chambée infelizmente está esgotado por aqui. Paguei 300 e pouco para um vinho de USD 45,00, quando o dóla valia R$ 3,00 e algo. É 100% sobre o 'preço lá', o que caracteriza boa compra. Foi uma pena não tê-lo compartilhado com alguém. Problemas de uma pandemia sem solução.

2 comments:

  1. Eu gostei deste Condrieu. E concordo que ele precisa de um tempo para mostrar o seu melhor. É um vinho diferente. Menos floral que os Condrieu que já bebi.
    Abs, Big Charles

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    1. Pois é... minha experiência com Condrieu é pouca - começou com aquele que ganhei de vc, e que estava ótimo. Esse, experimentei uma vez com o Akira, em dois, e deu para notar bem a evolução. Neste também. Teve bão...

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