Wednesday, March 9, 2022

Vinho e burgue de Carnaval 2

Introito

   Putin vem metendo os pés pelas mãos. Não torço por ele. Torço por uma situação de equilíbrio na região. Com uma invasão atrapalhada, perdendo 'moral', não conseguirá formar o escudo de proteção entre os mísseis da Otan e sua capital. O tempo de resposta russo face a um ataque ficará curto. Essa é a situação que poderá levar, até por causa de algum mal-entendido, a uma guerra nuclear de fato. Não agora, nem na semana que vem, mas depois que tudo se acalmar, com a poeira baixa e a Rússia devidamente enquadrada pelos 'mocinhos'. Será como em The Day After (O Dia Seguinte, 1983): ninguém jamais soube quem tinha disparado primeiro. 

Burgue e vinho II - A continuação

Quando do primeiro encontro para degustação de burgue (sic) dos membros do grupo Vinho e Turismo, várias pessoas não puderam participar, por agenda cheia. Mas algumas ainda combinaram um encontro para o final de semana no pós-Carnaval. Eis que para não perder a oportunidade este Enochato imiscuiu-se em mais este evento, para não perder o hábito de louvar a Baco, prática levada a cabo com fervor e dedicação sempre que possível. Assim reuniram-se as vestais Luciana, Dayane e Renata, a Sofia filha da Renata e este que vos escreve. Tínhamos comprado um vinho juntos há certo tempo, e eu ainda pensava em conferir uma opinião que ouvira certa vez. Na foto, eu com a mão na massa e as meninas felizes pelo encontro, fomos todos noite adentro sob recepção da Luciana (esq.) e selfie da Dayane (dir).

Um espumante e dois tintinhos

Como do encontro passado, levei meu já popular Bacio Della Luna Cuvée Brut. A exemplo das degustadoras da postagem anterior, elas acharam-no mais atraente do que nosso conhecido Blanc de Blancs Bacio Della Luna, degustado outras vezes por aqui. Opinaram ainda que seria melhor do que vários espumantes nacionais e, conforme apuramos depois, pelo preço consideraram-no muito interessante. Infelizmente está esgotado... Não repetirei as impressões, que estão aqui. Na sequência nos alegramos com o Château Haut Queyran 2016, um Cru Bourgeois (Médoc, portanto), comprado em uma 'promo' da Vinho e Ponto. Já comentei sobre os Cru Bourgeois aqui. Queyran mostrou nariz com fruta vermelha e especiaria. Discutimos ainda sobre algum café ou couro, se não me engano. Boca com fruta, taninos mais salientes do que a acidez - esta, achei faltar um pouco. Álcool e madeira sem comprometerem, equilibrados. É um corte 60% Cabernet Sauvignon e 40% Merlot com a especiaria da primeira presente. Pede acompanhamento com mais corpo, então não combinou tão bem com o burgue. Foi quando apresentei meu candidato. Ouvira falar que Beaujolais casariam bem com hambúrguer, então lá fui com o meu debaixo do braço. Domaine de Colette Fleurie 2014, 100% Gamay, também com fruta vermelha e para diferenciar-se um travo herbácio, se lembro-me bem. Corpo médio, 13% de álcool, boa acidez, creio ter mostrado fruta e alguém comentou... chocolate? Fumo? Algo nessa direção. Não passa por madeira, e, combinou muito bem com o burgue, para surpresa e felicidade geral. Esse e um dos problemas da harmonização: às vezes um vinho mais simples pode casar melhor do que um mais potente ou mesmo mais complexo. Não que Colette perca na complexidade - achei até mais elegante, pela acidez - mas no preço a diferença é grande. De qualquer maneira, não devemos usar um canhão para matar um passarinho. Sem copiar os preços, Queyran é um vinho de uns USD 20,00, pelo qual pagamos R$ 230,00. Colette vale uns USD 14,00, pelo qual paguei cerca de R$ 100,00. A relação é francamente favorável ao Beaujolais, mas são vinhos diferentes para situações diferentes. Queyran está no limite de 2x, boa compra para um vinho em nosso mercado.

Resenha

A Deliciosa História da França: As Origens, Fatos e Lendas por trás das Receitas, Vinhos e Pratos Franceses mais Populares de Todos os Tempos. Esse é o inusitado título de um livro que nos apresenta a história francesa conectada à evolução dos hábitos alimentares daquela que desde há muito é conhecida como a mais sofisticada cozinha do Velho Mundo. Fico pensando: qual seria o resultado dessa avaliação se tivéssemos à disposição o equivalente estudo realizado na Itália. É uma questão acadêmica, claro. A leitura de seus 52 capítulos é divertida, fluida, bem humorada a informativa. Fica mais instrutiva se o leitor tiver boa memória para guardar tantas datas e árvores genealógicas, o que não é meu caso, mas não torna o livro menos interessante. Sua pesquisa é ótima: as notas de cada capítulo apresentam-se ricas e os autores recuperam detalhes às vezes dramáticos sobre ingredientes tão banais: Tantas lágrimas foram derramadas pelo açúcar que, por direito, ele deveria ter perdido sua doçura (a respeito da conexão entre escravidão e produção açucareira). Partindo da Gália do século I a.C. até o pós-Segunda Guerra, vamos acompanhando como diversos ingredientes foram gradualmente sendo absorvidos pela culinária francesa sem o menor pudor ou preocupação. E, como os autores enfatizam diversas vezes sem a menor vergonha, a grande culinária francesa é uma mistura de influências distintas com os quais a nação teve contato durante toda sua história de 2000 anos. Os vinhos, claro, estão lá, em diversos capítulos. O vin du diable (vinho do diabo), acerca do Champagne, talvez seja o mais engraçado no tocante à nossa bebida predileta, embora outras estórias (Cognac, Absinto) apresentem-se igualmente envolventes. Uma leitura recomendada. Ganhei de presente da vestal Luciana, e foi um uma leitura prazerosa. Se o leitor dá-me licença, chegou o momento da minha hora verde... 

Esta postagem foi tocada (rs) aos restos de um Arínzano Chardonnay e um Pecchenino Dolcetto. Sinta-se ameaçado por eles, para uma próxima postagem...

2 comments:

  1. Quando você fala em especiaria, a que se refere, especificamente?

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    1. Olá. Vai na direção de pimenta, mas não sei se é exatamente isso. Conforme declarado, tenho muita dificuldade em distinguir características que não estejam de fato muito bem claras. O mesmo para café/chocolate, conforme sempre cito.
      Obrigado!

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