Monday, May 22, 2023

Evento da Mercearia 3M - parte I

Introito

Num país desinformado, 
os canalhas mostram-se prestativos.
Dito d'Oenochato

   As últimas considerações acerca do PL da Mentira gerou um e outro comentário de amigos via uátizáppi; o ponto comum versava sobre a dificuldade do cidadão comum acompanhar o trâmite das leis em discussão no país. Sim, é muito pouco acessível e complicado. Uma vez apresentada, a lei pode sofrer emendas (e, não tenho certeza, alterações mais profundas - tais questões são complexas. Sei que emendas e outras alterações não podem mudar o espírito da lei. Por exemplo, a lei Roubar não é permitido não pode virar Roubar é permitido - embora essa frase pareça ser o mantra de alguns políticos muito conhecidos de todos nós). As reflexões seguiram a direção de como saber o leitor estar acompanhando a última versão do texto. Seguramente deve existir uma forma, mas não a vemos estampada por aí aos quatro ventos, por iniciativa de qualquer partido, do governo ou mesmo do Legislativo, a quem, supostamente, deveria interessar a participação popular no destino do país. Quanto ao Judiciário - eram do TRE aquelas propagandas incentivando o brasileiro a votar, evidenciando a importância do sufrágio? Pois é, na ora de encorajar o eleitor a acompanhar a tramitação das leis cuja aplicação ficará sob seu encargo, 'nada' também: o Judiciário cala-se, não orienta. Depois pretende tomar para si a tarefa de legislar, e acredita poder escapar do repúdio da população.
   Uma abordagem deixou margem para a questão: como podemos nós, indivíduos comuns, tomar partido em qualquer lei tramitando no Congresso? Problema difícil, para a qual arriscarei uma solução simplista: veja quem propõe (menos importante), quem está contra (importante) e quem está a favor (importantíssimo). Acreditando os bandidos (sic) estarem a favor, sua posição - sendo cidadão de bem - está automaticamente definida. A menos, claro, de você estar ganhando algum com tal aprovação, e não devo mais designá-lo cidadão de bem. Formar a própria opinião - mesmo não sendo a melhor, ou sendo até um tanto equivocada, mas sendo sua, e sabendo discuti-la com quem sabidamente não esteja claramente tomando partido de um dos lados  - é de suma importância, principalmente em um país desinformado onde os canalhas mostram-se prestativos e prontos para indicar-lhe a boa maneira de votar ou posicionar-se. Faça a diferença: tome partido por si.


Evento da Mercearia 3M

   A Mercearia 3M promoveu uma feira de vinhos de sua importação, com a presença de alguns produtores ou seus representantes. Dentre os mas conhecidos - para mim - estavam as chilenas Ravanal, Perez Cruz e Viu Manent. Defendendo as cores de Portugal, a Vale de Lobos. Com a promessa de 50 rótulos à disposição do degustador, sabia de antemão ser necessário concentrar-me em uma gama restrita. No caso dos chilenos, a proposta sempre tem sido avaliar o estágio da arte de seus produtores e observar se e quanto evoluíram desde minha desistência em comprar vinhos do país andino. Cheguei um pouquinho cedo - fui o primeiro! - e passei fotografando todas as mesas antes de instalar-se o movimento. 

Notei um jovem expositor a falar espanhol; olhei os rótulos - Calcu - do Vale do Colchagua e desconhecidos para mim, com quem puxei conversa. O senhor Cristian Olate contou-me do início da vinícola, com o plantio das vinhas em 2003 e o lançamento dos primeiros exemplares muitos anos depois, enfatizando a evolução dos vinhos nesse curto espaço de tempo. Ofereceu-me seu Calcu Branco Gran Reserva (2020?), corte Sauvignon Blanc-Semillón com nariz cítrico e mais complexidade que não distingui por pura incompetência - mas está lá. O cítrico repete-se na boca com ótima acidez, surpreendente até, de tão marcada, alguma mineralidade e bom frescor acompanhados de final harmônico e muito agradável. Fiquei muito surpreso e para minha admiração tanto as pessoas para quem comentei sobre ele tiveram a mesma impressão de um vinho muito bom quanto outras ao longo do evento vieram conversar e apontaram Calcu Branco Gran Reserva como o melhor vinho da mostra. Se o leitor não acredita mas acompanha postagens do blog, sabe das reclamações quanto aos vinhos chilenos versus seu preço de mercado. Calcu Branco vale quanto pesa e pelos cerca de R$ 90,00 é boa compra. Prova maior está no fato deste escriba ter adquirido duas garrafas ao final do evento, rompendo uma recusa em comprar vinhos chilenos já a durar mais de uma década. Fica posto então o mantra deste articulista sobre honestidade intelectual e disposição em reformar a opinião quando confrontado com as evidências. Não sei quanto ele custa no Chile - vou procurar, até para mostrá-lo aos amigos de lá - mas seguramente ele não raspará no absurdo de um Sol de Sol, certa vez comparado às cegas lá no Chile com um Jadot AoC da Borgonha e ficando em segundo lugar. Detalhe: o melhor Chardonnay chileno, como é vendido na El Mundo del Vinho perdendo para um reles AoC borgonhês cujo preço em seu país de origem era a metade do sul-americano. E comprei ambos ao mesmo custo - 18 mil pesos - com o chileno em promoção(!) e o segundo a valor regular. Voltemos aos Calcu: o Rosé Gran Reserva (Malbec-Petit Verdot?) não convenceu, mas, como adiantara ao Cristian, sou um emérito detrator de rosés (risos!). Nos tintos, dois Reservas Especiais, um de Malbec e um corte - segundo a Internet, 60% Cabernet Sauvignon, 30% Carménère e 10% Malbec. Em ambos, boa fruta, especiaria sem o impacto do pimentão característico da região, madeira discreta e álcool contido. Faltou para ambos a generosa acidez presente no branco, tornando-os um pouco ligeiros no final e portanto sem maior diferencial se comparado aos demais chilenos.


Fui para os Ravanal - nunca esqueci-me da recepção maravilhosa proporcionada pela Pia Ravanal na vinícola, há muitos e muitos anos - e escolhi em primeiro o Cabernet Sauvignon Gran Reserva 2020. O indefectível pimentão está lá, como estava na safra 2016. Explicou-me ela em 2021, quando provamos dele, ser essa uma característica específica do Colchagua. Com o Carmenère ao lado, provei dele logo em seguida. Sim, está lá no Ravanal Carmenère Gran Reserva o mesmo pimentão! Ambos com boa entrada na boca, taninos bem presentes, pecando pela baixa acidez. Final um pouco ligeiro, para quem já aprendeu o verdadeiro significado de um final longo, são vinhos para fazer sim a alegria dos adeptos... apenas o meu gosto mudou, está para o outro lado do Atlântico onde a acidez deixa sua marca indelével na língua e na memória do bebedor. A vinícola estava muito bem representada com 12 rótulos se contei corretamente, mas centrei-me na linha Gran Reserva; havia muita coisa pela frente, ainda. Com tantas opções e pela minha disposição em participar mais pela diversão e reencontro com diversos colegas e amigos, deixei passar em muitos casos as safras (veja os rótulos da Calcu, não as trazem na parte frontal, e isso repetiu-se em vários outros casos) e sem tomar notas mais precisas sobre muito do que foi degustado. O importante, creio, é a impressão geral da feira, a ser complementada na próxima postagem. Obrigado pela leitura e paciência...

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