Saturday, May 6, 2023

Um evento enoetílico (II)

Introito - o PL 2630 e nossos pequenos títeres

   Completamente atarefado na última quinzena, acompanhei passivamente a tramitação do PL 2630 ou PL das Fake News, cuja proposta pretende instituir a Lei Brasileira de Liberdade, Responsabilidade e Transparência na Internet. Não li o projeto, mas ouvi muitos comentários acerca de seus pontos polêmicos. A BBC tratou bem disso; procure outras matérias no sítio deles. Acho sim que as Big Techs precisam ser envolvidas nesse processo. E, se for o caso, vejamos a chance do Governo Brasileiro abrir processo contra elas em seus países de origem e, eventualmente, trancar seu acesso em nosso território. Os usuários interessados usarão VPN? Claro. Mas quero ver a batida no bolso delas, quanto à questão de negócios envolvendo suas operações por aqui. Brasileiros prejudicados? Infelizmente sim. Mas a luta pela soberania é inegociável. Após todo esse preâmbulo, venho perguntar: onde estava o dispositivo legal tratando da clara e manifesta política de suspensão e banimento de membros por essas plataformas? Não vi! Eles chegam aqui, oferecem seus serviços - mesmo gratuitos - e de uma hora para outra podem suspender contas devido à violação de regras não esclarecidas aos utilizadores. Abjuro a tais possibilidades, elas mesmas contrárias ao espírito livre da internet. Seja livre, anárquica até, mas não anônima. Vamos colocar o nome e RG (ou Seguro Social nos EUA, e equivalentes mundo afora)? Ora, como é mesmo o ditado: quem não deve, não teme. Este blog tem o nome e a foto do articulista. O RG (ou CPF) estará à disposição tão logo as autoridades requisitem.
   O maior problema da PL seria, sem dúvida, colocar poderes excessivos nas mãos de tiranetes e seus títeres, e estes existem em todos os níveis da nossa sociedade. Pode ser o professorzinho pelego-comunista a envergonhar diariamente a esquerda de verdade (e que abraço) em suas manifestações délavé e dépassé - onde está a Escola sem Partido? - ou u Ministro Superior (ficou com cara de Igreja) passeando por verdes gramados achando-se o Criador, passando pelo professor-patrulheiro universitário e pelo proprietário-pequeno-burguês de grupos de Uatizáppi: não explicitam regras, adorando criá-las quando lhes convém e esbaldando suas veias despóticas a alimentar desejos animalescos em tornar-se autênticos verdugos sempre apoiados por tal PL. Segundo o deputado Kim Kataguiri, a reação no Congresso em seus bastidores indicava mais de 300 votos contrários. Resultado: adiamento da votação. Seus propositores precisam de vergonha na cara. Tivessem-na, não haveria tanta rejeição entre seus pares.

Um evento enoetílico (II)

   Aos moldes do evento enoetílico I, daquela vez com produtos da linha 'Vin' - não-Vin-hos do Galvão Bueno -, novamente juntaram-se o Edu, da Caminhos do Turismo e o Sommelier Conectado Eustáquio Fragale, desta vez no Bistrô Graxaim, para promover um jantar harmonizado com vinhos franceses. Alguém falou franceses? 🙋 Vamulá... o cardápio proposto era entrada com Souflè au Poitron (abóbora) escoltado pelo Jaffelin Chardonnay (Borgonha); prato principal com Carnard (pato) a la Cordon Bleu casando com o Chateau Barrail Meyney (Bordeaux), e por sobremesa um Crème Brullè à la Gustavo (chef do bistrô). Sisquecendo de experiências anteriores, de boa fé e no maior entusiasmo, cheguei pontualmente e a tempo de ouvir a preleção acerca dos novos roteiros turísticos do Eduardo. A produção regional de vinhos foi abordada em função das vagas para a próxima excursão, e o Sommelier Conectado Eustáquio comentou sobre esses vinhos: bons, mas caros. Um dos motivos suplementares para justificar o alto custo, sugeriu ele, seria a necessidade da dupla poda, cuja utilização permite a colheita das uvas em nosso inverno e é a única maneira a permitir a produção de vinhos em latitudes tão 'altas' como se vem fazendo no brazio. 
   Aqui temos um ponto de discordância: nossa mão de obra é muito barata quando comparada com a europeia. Será possível estarem chamando o Roberto Carlos (cantor, não o futebolista) para fazer as podas nas vinícolas? Sabemos não ser esse o problema, o custo da segunda poda. A questão é faltar vergonha na cara; onde já se viu cobrar 200 moedas (e facilmente mais) por uma garrafa onde vem escrito 'Vinho' mas cujo conteúdo guarda apenas uma pálida semelhança com a bebida de mesmo nome produzida pelos 'Quatro Grandes' da Europa, além de Estados Unidos e Austrália, sisquecendo Uruguai, Chile, Argentina, África do Sul, Nova Zelândia, Peru, Hungria, Romênia, Líbano, Macedônia, Croácia, República Tcheca e mais uns 50 países? Ah, está certo... cobra-se tanto porque nosso vinho é... é... é... único! Em nenhum outro lugar encontra-se tal porcaria! Produtos - vinhos não! - sem acidez, um dos pilares e principal componente da estrutura dessa bebida, responsável pela reconhecida longevidade dos bons exemplares. Aí entendi... só não pago pelo acinte.

A entrada de suflê de abóbora e vinho branco (Jaffelin Chardonnay 2021) misturou um bom prato e um vinho médio sem alcançar conciliação. Sobre suflê de abóbora, já o havia experimentado do mesmo Gustavo aqui, onde a harmonização de três suflês com seis vinhos também não foi atingida em qualquer combinação. Suflê é tido como um dos pratos de mais difícil liga com vinhos. Algumas pessoas com quem conversei concordaram com a opinião de não ter havido harmonização, então fica o comentário: para que insistir com algo tão difícil quando temos centenas - milhares? - de outras possibilidades para explorar? Quem convocamos para apresentar-se e levar uns cascudos (risos!), o chef, pela insistência, o promoter Edu pela repetição (esteve no evento dos 3 suflês) ou o experiente Sommelier (Connectado) pela inocência em deixar os jovens traquinas aprontarem mais essa? Explico o Jaffelin, classificado como médio: estava cítrico como de hábito, mas achei um tanto limitado e sem acidez quando comparado de memória com a safra 2019, degustada duas vezes. Não é ruim, vejam; é médio, como proposto. Não sei foi a safra. Veja as postagens antigas para saber mais sobre ele.

O prato principal foi o pato a la Cordon Bleu com o Chateau Barrail Meyney 2016, um Bordeaux corte 80% Merlot, 15% Cabernet Franc e 5% Cabernet Sauvignon, segundo o sítio da Chez France, importadora de ambos os vinhos do evento. Sei de ouvir dizer sobre a melhor correspondência de pato com vinho: Borgonha tinto. Claro, o molho empregado no preparo pode influenciar muito - pato com laranja sugere Bordeaux, para alguns. Na dúvida fui conferir a ficha técnica, cuja harmonização proposta é "Vitela, pato, camembert, carne bovina, cogumelos e carnes com molho". De fato, a ave está lá, para desacreditar o articulista, mas achei a lista aberta demais... Meyney apresentou ótima entrada de boca, visto os taninos pegados, e a primeira percepção é de bom encontro com o pato. Mas logo a sensação se esvai, pois falta mais corpo ao vinho, provavelmente pela acidez pouco presente: com alguns instantes o efeito mágico inicial evanesce, e ao engolirmos não sobram muitas lembranças da mastigação de instantes atrás; o final é curto e bem pouco marcado. Meyney tem lá sua fruta de abertura e a presença propiciada pelo tanino, mas enquanto vinho francês - Bordeaux principalmente - deixa a desejar pela falta de complexidade. Dirão: mas pretende o quê, por um vinho de 10 moedas? Está certo! Apenas não tentem convencer-me de ser um vinho adepto a harmonizações mais pungentes. Sabe aquele vinho que, em boca, dizemos 'pede comida'? Isso acontece porque sua acidez desperta a língua, fazendo-a salivar - daí o desejo de algo para acompanhar. Não é o caso de Meyney... Não obstante, foi um encontro agradável, seja pelas companhias seja pelo fato dos atores não terem brigado entre si. Dada a complexidade do assunto, não foi lá a pior das minhas experiências.

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