Monday, March 4, 2024

Aberta a temporada de caça aos Napa Valley

Introito

   Retornando à postagem de ontem acerca do Conn Valley Cuveé Right Bank 2005, fui pesquisar sua compra. Aconteceu por indicação do meu amigo (rs) Nick Pagoria, em 2015. Eu iria para lá no ano seguinte, e já preparava meu pacote, antecipando eventual alta do dóla - realmente aconteceu. Comprei minha caixa convertendo a moeda a R$ 2,80, e quando cheguei lá estava R$ 4,00.


Já escrevi sobre a qualidade das indicações e a seriedade do pessoal de lá, ao contrário das indicações sul-americanas em geral e brasileiras em particular. Uma postagem está aqui, encontro que deixou saudades pela qualidade dos vinhos e pelas pessoas presentes, e coincidentemente aborda quão longevos os vinhos americanos podem ser: na ocasião (2020) bebemos um Cain Five... 1998!, também trazido por indicação gringa, e ele estava ótimo. Bem, Conn Valley custou-me USD 60,00. Possivelmente estava pronto para beber, ou talvez a garrafa já estivesse 'premiada', e sua longevidade comprometida. Ao final, tinha algum depósito de borra. Não tanto quanto o Château Meylet - bem mais novo - mas estava lá. Pena mesmo ter faltado vinho.

Aberta a temporada de caça aos Napa Valley

Em vista do fracasso inesperado, resolvi escolher outro vinho para tentar abrir bem o mês. Por que não mais um Napa? Há tempos não bebia um (em bom estado...); até onde lembrava-me, o último fora com a Carol. Um Jonata, aliás. E Jonata é um vinho que repito, se puder. É relativamente difícil de encontrar até nos EUA, e atualmente anda meio caro, quanto mais em safras maduras. Não, não estava pondo em desconfiança os vinhos do Napa, desejava mesmo provar um... então abri a temporada de caça aos Napa Valley!

Jonata 'La Sangre de Jonata' 2007 estava como esperava... aberto, 5 minutos de respiro e taça. Gosta de baunilha? Não a ponto de escorrer pela borda da taça, algo comum em muitos e muitos exemplares da terra do Tio Sam. Bem, a baunilha estava lá, discreta. Melaço - até repetia-se contidamente na boca, e quase nunca consigo notá-lo em vinhos - nem de longe como doce enjoativo, não. Fruta escura madura, couro, tabaco, seguramente outras notas, tudo lá, as principais bem reconhecíveis. Sempre digo: em vinhos simples, é-me difícil discernir os toques. A tarefa fica tão mais fácil quanto melhor é vinho. Narizes melhores, desempenho melhor. Narizes como o meu, só com vinho bão mesmo... e La Sangre o é... Boca: hum, a boca... o melaço, mas discreto, aportando uma pontadinha de doce. Taninos discretos, macios, acidez média - mas média mesmo, nem tentando chegar e ela, nem a mais. Pedindo comida, e meu filé ao molho gorgo fez ótimo par. Ponha um Jonata assim na boca, chupe um pouco de ar e brinque com ele, rodando-o debaixo de língua, no palato, enquanto engole aos poucos... um café no retrogosto, a persistência que realmente dá sentido à palavra: movimentos de mastigação aportam mais café e um doce discreto mesmo depois de todo o vinho já ter ido. É um corte 98% Syrah, 2% Viognier (uma cepa branca!) muito redondo e compensou com larga margem a decepção do dia anterior. Felicidade engarrafada? Sem a menor dúvida! Pelo que custava (USD 100,00+), tem mesmo a obrigação de sê-lo. Mas cumpre, com folga, e faz o dinheiro ter valido a pena. Atualmente ele está muito caro: a safra 2019 custa USD 200,00 (com taxas). A 2020, USD 220,00... Deveria ter verificado antes de abrir... quiçá ficasse melhor! (risos!). Aproveitei o Wine Searcher para olhar suas notas. Oito(!) pontuações entre 90 e 94 - aliás, as quatro disponíveis para não assinantes eram todas 94 - não surpreenderam... a menos dos 94 do CellarTracker, site amador conhecido por reposicionar adequadamente as notas estratosféricas de alguns avaliadores de vida fácil. Aí você me pergunta: Enochato, qual sua nota para La Sangre de Jonata? Ora... 94... quem sou eu para discordar!
   Fechada a temporada de caça aos Napa Valley. Guardarei meu último Jonata - um El Alma 2008 para os próximos meses.

   De propósito - e feliz da vida - deixarei metade da garrafa para o dia seguinte. Se alguém estiver por aí e trouxer um cachorro quente, mando conversar com o Lemão em primeiro. Depois, divido o vinho.

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