Monday, April 15, 2024

Foi massa!

Introito

Alguma parte dos leitores são amigos(as) próximos(as) de confrarias diversas e com as quais tenho a felicidade de compartilhar vinhos, alegrias e risadas. Preferem enviar mensagens diretamente, em vez de comentar no blog. Não é raro receber comentários sobre ter inventado estórias demais ou ter contado muitas mentiras em alguma postagem. É verdade, invento e minto mesmo, principalmente sobre os vinhos(!), mas não adianta reclamar; precisa estar atento e apontar o erro; senão, a mentira fica pela verdade... A respeito da postagem passada, alguém protestou pela invencionice da estória do Raul entrar no palco tropeçando e se enrolando com a bandoleira da guitarra. Bom... vejam só a coincidência: na época não conhecia a Ariane, mas parece que estávamos no mesmo lugar e se presenciamos a cena foi por ângulos diferentes. Então, aconteceu sim! Pena ter perdido o contato do Caio Braga, um dos malucos - em show do Raul? Tudo a ver! - que a certa altura começaram a invadir o palco pela borda e a dado momento lançaram-se sobre o cantor para abraçá-lo com o entusiasmo típico dos grandes fãs, decretando o final prematuro do espetáculo. Lembranças felizes são o que de mais doce uma pessoa pode guardar...

Sexta-feira

Havia marcado com a Liu, o Mário e quem mais viesse (rs) um encontro para sexta-feira. A Lu(ciana) tinha relatórios para entregar; a Débora não conseguiu desvencilhar-se de outros compromissos. Quem veio, bebeu. Mas lembrava-me mesmo de comentário da Liu sobre sua curiosidade com australianos. Vinhos, bem entendidos. Artimanhosamente (rs), saquei meu Vasse Felix Cabernet-Merlot 2011, oriundo de Margaret River e possivelmente produto de entrada do ótimo produtor. Temeroso de não estar bom - cantei a possibilidade antes - servi um tanto na taça logo ao abri-lo e... a fruta tão evidente convidou-me a servir um dedinho para cada confrade, à temperatura ambiente mesmo. O Mário falou do álcool aparente - má qué o quê, Marinho?! Abri e servi! (rs!) - e ainda assim Vasse Felix aportava fruta rica e complexa, diria vermelha e negra. Após a garra resfriar, voltei a servir. Sem o excesso de álcool inicial - 14,5% muito bem integrados quando a temperatura chegou no ponto de serviço, mostrou muita elegância. O nariz tinha mais complexidade, e a boca aportou taninos maduros, aveludados, corpo médio, acidez bem presente, e boa permanência. Estava ótimo. Recomendaria com ênfase, não estivesse nas mãos de importadora tubarona - é um vinho de menos de USD 20,00 lá fora, ao custo de R$ 350,00+ aqui (está esgotado, mas o Shiraz é da mesma categoria e custa isso). De suas viagens aos Andes, a Liu apresentou-nos o Polígonos del Vale del Uco San Pablo Malbec 2020 do também bom produtor sul-americano - para nossos padrões -, a Zuccardi. Bebi muitos exemplares dela no passado, quando aparentemente tinha uma linha mais simples; experimentei várias garrafas do 'Q' e uma do 'Z', dos quais gostei. Este Poligonos tinha menos fruta no nariz, se comparado ao Vasse Felix; por outro lado um bom nariz poderia tirar mais coisa de lá.  A Liu mencionou alguma nota, não anotei. Não identificaria muito com Malbec, mas tenho bebido poucos argentinos bons nos últimos anos, e talvez apenas me desacostumei com o estilo. Tem bom equilíbrio - seus 13,5% de álcool não aparecem - não notei madeira, acidez presente - sem fazer os olhos lacrimejarem de emoção - a fruta do nariz repete-se na boca, e não é tão ligeiro. Bem razoável pelo conjunto, mas seu preço espanta: R$ 350,00, contra cerca de R$ 115,00 'lá'. Novamente, 3x; outra tubaronice. Cadê o tal do Mercosul? A nota engraçada - veja no sítio do produtor - fica por conta de dois vinhos com nota 100 na safra 2019: os Finca Piedra Infinita Gravascal e Supercal. Encontrei o primeiro na faixa de R$ 3.060,00, e nem era da safra agraciada com a pontuação máxima. Consumidor otário, compre mesmo! Deixe para mim os Xatenefinhos lá do estrangeiro por menos de USD 100,00... quando puder ir 'para lá', compro algumas garrafas... e vai ter para mim, uma vez que os tontos comprarão Pedra Infinita com minha aprovação e bênção! E vem cá (batendo palmas): Uou, os avaliadores estão acabando (já acabaram, a bem da verdade) com o sistema de pontuação. Qualquer nojeira agora 'ganha' 100 pontos. Farei a Escala Enochática! Só preciso lembrar-me de passar a pontuar os vinhos. Pizza - massa - foi o acompanhamento principal da noite, e conversou bem com o Vasse Felix. Massa também foi o menu o sábado, mas é outra estória.

O Mário apresentou seu Primus Carménère 2014, um monovarietal cujo rótulo deve ter mudado nas safras mais recentes - ou este Enochato está prestes a cometer outro erro grosseiro em sua ridícula trajetória.  Na safra '14 há a indicação de Colchagua Valley como procedência, enquanto o rótulo de safras mais recentes indicam a procedência como Apalta. Bem, Apalta fica no Vale do Colchagua, então para mim trata-se do vinho pesquisado para comparação de preços. Seu contrarrótulo indica notas de chocolate amargo, ameixas e pimenta preta - nessa ordem! - aveludado e final longo. Por partes... para mim, a pimenta - tabasco, na verdade - veio não apenas em primeiro, mas sozinha (risos!). Aveludado? Chama o Vasse (rs) e vamos comparar... O final é longo porque a pimenta não sai da boca nem lavando-a com creolina!, e o 'macio' não sei de onde tiraram. Primus é um Carménère típico, com tabasco de entrada e saída, acidez baixa e sem muito diferencial com similares na faixa de preço. Provei algum no níver do Nagibin, talvez não tenha postado, na faixa dos 10 'Luca' (10 mil Pesos chilenos), e Primus é mais do mesmo estilo, e pronto. Seu preço lá fica em 12 mil Pesos (R$ 64,00), enquanto aqui é encontrado por R$ 184,00. Nova tubaronice. Então faça assim: volte na primeira foto e veja quanto sobrou do Primus. Tá certo, Dona Liu, toda feliz, distribuiu Vasse Felix a torto e a direito, virando a garrafa alegremente em nossas taças duas, três vezes em seguida. Era a bem-aventurança em pessoa... Ainda, a favor de Primus, posso conceder: tinha sim algo a mais no nariz, mas o tabascão vinha com muita força. Talvez narizes melhores dessem-lhe mais crédito. Desnecessário comentar, a carraspana aqui é para o vinho, e não para o Mário. Ele apresentou-me (mais) uma oportunidade para degustar um vinho que jamais compraria, e confirmar minha percepção sobre a cepa. Ainda, recordo: provei sim um bom Carménère chileno, há tempos. O preço é que não agrada.

Mais uma nota de falecimento

Novamente a indefectível senhora visita nossas paragens. Desta vez levou para um lugar melhor o querido Wamberto Paschoal Vanzo, pai da Daniele, mocinha do grupo que Akira e eu chamávamos 'as meninas' - não confundir com a confraria para a qual utilizávamos o mesmo nome. Doutor Vanzo, advogado cuja carreira estendeu-se por mais de 50 anos, deixou-nos aos 83. Fez jus ao ditado segundo o qual 'dizemos jovem ao homem que partiu e sobraram-lhe algumas garrafas na adega'. Convivi pouco com o Vanzo, principalmente nos aniversários e festas familiares para as quais a Dani chamava nossa turminha. Vanzo sempre mostrava um sorriso fácil, ótimo humor - sempre - e transbordava carisma, ao que posso dizer sem a menor dúvida: conhecê-lo foi massa!

Preços


Poligonos...


Primus...

8 comments:

  1. Noite agradável e cheia de curiosidades dos vinhos e músicas , mas a estrela da noite foi “Canguru” ! Bora experimentar os Australianos🦘 com boa música e amigos, aí como CA diz … “deu bom “ !

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    1. Olá... obrigado pela leitura. Precisa ter cuidado com australinos, principalmente se tiver rabo amarelo... fuja desse...

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  2. Os únicos que gosto da Veramonte é o Primus The Blend e o Ritual Pinot Noir. O Carmenere é ruim. E pago pouco mais de 130 reais.

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    1. Olá. Obrigado pela leitura e pelo comentário. O confrade escolheu o Primus a partir da diminuta gama de opções que temos aqui no interior. E o preço pode não ser competitivo. É o que temos... da minha parte, não compro sul-americanos mas não deixo de bebê-los, para acompanhar a qualidade. São inferiores, pelas comparações que tenho feito, a similares europeus. Como tenho repetido, nossos vinhos - e dos vizinhos - estão absurdamente caros. Comprá-los é a opção de cada um.

      Até a próxima!

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    2. Mas tem Primus diferentes. Só disse que o The Blend é melhor. E discordo que no interior tenha menor disponibilidade. Moro em Campinas e encontro uma gama enorme de vinhos. Se não encontrar em lojas físicas, tem as lojas virtuais.
      Salute

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    3. Entendo o seu ponto quantos aos exemplares de Primus.

      Experimente abrir um - o seu preferido - junto de um Chocapalha 'comum' (https://www.casadabebida.com.br/vinho/quinta-de-chocapalha-tinto-750-ml/). Talvez você até prefira o Primus. Mas compare o preço deles em seus respectivos países de origem, https://ewine.cl/veramonte/cabernet-sauvignon-primus-premium-vina-veramonte-7804620040223-687.html, o que dá R$ 84,00 e https://estadoliquido.pt/vinho-tinto-quinta-de-chocapalha-lisboa, que dá R$ 54,00. Acho que aí você vai entender meu ponto quanto ao vinho sul-americano estar custando muito caro. Sem falar na qualidade.

      Depois, vejamos... População Campinas: 1.200.000. População S. Carlos: 255.000. Onde você espera encontrar maior quantidade de ofertas? Lojas virtuais? Concordo absolutamente! Alguma parte dos bebedores compra pela internet. Mas nem todos - desconfiança ou não querem gastar muito, e aí tem o frete.

      Muitos preferem ir à loja quando precisam e pegam uma ou duas garrafas apenas, ficando 'prisioneiros' das ofertas locais. E aqui entramos em um terro que conheço, e talvez o leitor não - a menos que frequente S. Carlos -: a oferta de vinhos aqui mudou muito pouco nos últimos 10 anos! As lojas trazem praticamente sempre os mesmos rótulos. O bebedor está 'acostumado' a eles, e simplesmente 'não quer' ou 'tem medo' de mudar. Meu caro, temos um longo caminho pela frente, para que o mercado 'dome' o fornecedor... enquanto isso, continuamos reféns, de uma maneira ou de outra.

      Obrigado.

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