Sunday, April 21, 2024

Foi Massa!, 2

Introito

O sábado passado começou com dona Lu(ciana) atiçando para inaugurarmos sua adega e espaço VIP, comigo dizendo Sim, sim... enquanto torcia para melhorar de minha condição clínica tocada a alguns medicamentos ingeridos na tarde do dia anterior. Liu, Mário e Edu Viagens (rs) já haviam confirmado presença e eu na sinuca de bico. Melhorei à tarde e, mesmo sem estar 100%, resolvi descontar; algum vinhobão pegaria a conta. A Lu estava de viagem marcada na terça, e senti a ansiedade em suas palavras digitadas (sic) no uátizzapi: 19:30. Risos! Na foto, a Liu em primeiro plano, junto deste Enochato. Atrás, a partir da esquerda, o Mário de joelhos, a Lu em cima da cadeira e o Eduardo em pé 🤣. Vou então recobrar a introdução da última postagem, acerca das supostas mentiras contadas por este escriba. É clara brincadeira quando digo mentir, inventar ou aumentar os relatos aqui no blog. São todos eles absolutamente rigorosos, honestos e verdadeiros, como este, narrando a dancinha alegre de Don Flavitxo. Ou este e este, narrando degustações de vinhos antigos, oxidados. Assim, para proporcionar aos confrades uma experiência diferente e reafirmar honestidade intelectual da publicação - como se fosse preciso -, resolvi escolher um vinho que pudesse estar parcialmente oxidado.

O espaço da Luciana já era aconchegante. Ficou mais: uma mesona feita para acomodar tranquilamente 12 pessoas, cadeiras confortáveis e cozinha remodelada. Como diriam, chique no úrtimo. Nesse clima o Eduardo compareceu com vinho da Capadócia, produzido pela vinícola Kocabağ, o Misli Öküzgözü-Boğazkere 2020(?). Misli é o nome do vinho; Öküzgözü é uma cepa nativa da Turquia com características frequentemente comparadas às da Pinot Noir, e muitas vezes cortada justamente com a Boğazkere, outra capa turca, muito tânica - a tradução de seu nome significa queimador de gargantas, e por isso pode ter similaridade com a Tannat. Ao contrário desse terrorismo todo, encontramos um vinho leve, corpo médio e olha lá, com muita fruta no nariz e repetindo-se na boca; taninos discretos, já arredondados, acidez deixando um pouco a desejar, nem tão ligeiro nem tão marcado. Um vinho com certa simplicidade, mas onde narizes melhores provavelmente tirariam melhor proveito - o meu anda um tanto ruim. Seu preço segundo o Edu estaria em uns R$ 85,00. 

Depois de viajar para a Argentina, agora a Liu tenta acabar com as maldições trazidas de lá (rs). Brindou-nos com o D.V. Catena Cabernet-Malbec 2021, enquanto a Lu (também participante da viagem coordenada pelo Eduardo) ainda guarda seus medalhões para beber em melhor companhia. O corte é meio a meio, e o vinho passa por 16 meses em madeira numa combinação não linear (sic) de barricas francesas (novas ou não) e americanas. Não entendo esse tratamento para um vinho relativamente simples. Tinha fruta bem evidente e, sendo sincero, ao contrário de um Catena provado anteriormente não estava na goiaba enjoativa; não sei se é questão de safra ou se esse exemplar, mais envelhecido, arredondou com o tempo. Sim, estava melhor equilibrado, apesar da acidez baixa colaborar com a boca ligeira, mas é o que temos para nosso pobre terroir latino americano, sem dinheiro no banco, sem parentes importantes, e vindo do interior... Mas o que tem basta para alguns avaliadores concederem-lhe 93 pontos, embora este Enochato atribua-lhe 83. Convenhamos, é uma nota digna. O Misli, pelo equilíbrio e acidez ligeiramente melhor, levaria seus 85. Aportei às cegas um Amarone Classico 1998 do Allegrini. Esperava fruta mais fresca, mas não encontrei e deixei rolar para ouvir os comentários. O Mário achou estranho, mas sem agredir. Perguntei se ele notava toques de frutas secas, ele disse que sim. De repente a Liu comenta: Couro, bem evidente - um dos sinais de vinho oxidado. Imaginava - somente da minha cabeça - que um Amarone de bom produtor pudesse manter parte da fruta em 20 anos, mas se ela estava lá, não consegui pegar. Tinha uma oxidação equilibrada, sem agredir conforme o Mário repetiu em algum momento, acidez quase média, corpo médio e álcool equilibrado. A persistência não impressionou, e a massa - lasanha prepara pela Lu - não foi um par tão bom, conquanto eles não tenham ido em direções contrárias. Com seus 15% de álcool, se tivesse mantido mais fruta fresca, talvez combinasse melhor. Preciso contar com a indulgência dos confrades para encaixar essa brincadeira na linha de Vino Oxidado, e não em Amarone. E, claro, oferecer-lhes um Amarone mais novo para introduzi-los ao conceito desse vinho. Não tenho outro Allegrini; espero que se satisfaçam com um humilde Tommasi...

Como brincadeira final, balancei o último teco de bebida que restara na garrafa e virei de uma vez em minha taça. Estava lá a borra - já falei sobre ela, aqui. A Luciana providenciou um pão, e todos experimentaram. Houve quem gostou, quem não se pronunciou e quem disse não agrediu (risos!). Eu não havia avisado, e o pão disponível tinha casca macia. Penso se ficaria melhor em um pão italiano, daqueles com casca grossa. De qualquer maneira - espero terem sido todos sinceros - a experiência foi considerada interessante, e dessa maneira este Enochato saiu convencido de ter prestado mais um relevante e inestimável serviço para a humanidade, iluminando com seus magníficos conhecimentos ao menos uma parte dela. Nunca é demais repetir: a borra constitui-se em pequena parte de alguns vinhos, e desprezá-la sem dar-lhe ao menos uma chance pode ser um desperdício. Tente, se tiver oportunidade. Afinal, o bom bebedor deve estar aberto a provar não apenas os mais diferentes vinhos como também aproveitar as dicas que vão surgindo no meio de seu caminho. Com relação à ultima postagem, agradeço ao Roger a paciência em discutir uma concordância capciosa proposta pela minha genialidade sem limites, turbinada a umas boas talagadas de uísque, quase à meia-noite, minutos antes de sua publicação.

A Liu insistiu ter pago cerca de R$ 80,00 pelo D.V. Catena, na Bodega. Não duvido. Mas encontrei oferta dele mais em conta na Argentina: R$ 52,00. Pergunta: se a loja na Argentina vende a R$ 52,00, por quanto sai da Bodega? Sei que aqui ele custa... R$ 230,00. 



Tungas (pobre consumidor)

   Como o leitor deve suspeitar, assino diversos negociantes de vinhos brasio afora. Estes dias recebi uma oferta aparentemente inebriante:


   Veja o sublinhado: 30 dólas lá fora. Isso dá, nada nada, convertendo pelo oficial, sem IOF, R$ 156,00. Olhando o sítio do produtor, confirmamos o valor: 


   Mas olhando no comércio em geral (de 'lá', claro...)


Menos de 20 dólas! Novamente, a pergunta: se no varejo de 'lá' está 20tão, por quanto saiu do produtor? É sobre esse valor que nossos ousados importadores pagarão os escorchantes impostos incidentes em todas as nossas importações. E neguinho tem o atrevimento de cobrar 4x assim, sem mais? Conta de padeiro - até ligeiramente desonesta - se saiu por USD 10,00, pelo mesmo câmbio dá... R$ 52,00! A VinGarde Valise é uma loja com boas ofertas, mas isso não é o bastante. Oferecer um produto superestimando seu valor lá fora é um erro para lá de grosseiro. Fazer o dever de casa é o mínimo que se espera de um bom vendedor. Porque o risco de passar por picareta - mesmo sem merecê-lo! - é grande. E, como enfatizado aqui com frequência, caro consumidor, não confie em seu político lojista predileto! Jamais! Wine Searcher nele! O vinho está mais de 2x? Pague 3x numa cimitarra. E use-a, claro! 🤣 O fio - garantem - dá para 1.000 cortes de cabeças.

   A tragédia, por óbvio, não para por aí. O Honorável Consumidor é atraído para uma semana de ofertas dedicadas à sua nobre pessoa, com descontos de (ate!) 35%. 


Claro, é anunciado em de maneira geral como 'Descontos de 35%' ...

mas quando vamos olhar parte deles está em 20%... 

   E tudo vai ficando pior: o consumidor talvez fique inicialmente satisfeito com o descontão de 35%

   Só que a naba (sic! rs!) repete-se:

convertendo, R$ 101,00! Ou seja, de 5,75x sem desconto fica na 'promo' apenas 3,75x! Feliz cliente desavisado, comprou sem consultar o Wine Searcher? Os acionistas da importadora levantam-se em salva de palmas pelo seu desapego ao dinheiro... Até qualquer hora...

4 comments:

  1. Estava td impecável! A mesa posta as flores, as companhias, os petiscos e “ah “ Lasanha, carinho da Lu, lugar belíssimo de uma sofisticação acolhedora, que honra fazer parte dessa inauguração com vcs. Penso que os vinhos sustentaram os paladares, até do exigente CA! Eis que surgiu a “borra” de 26 anos experiência única degustada por todos, gostei!

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    1. 😲 o pobre, quando vê muita esmola, desconfia...
      🤣😂 obrigado pela leitura!

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  2. Big Charles, o DV Carena CS/Mal custa 30 e poucos Mileis em Puerto Iguazu. É um completo disparate o preço dele na importadora. 🤦🏻‍♂️

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    1. Olá... obrigado pela leitura e pelo comentário. Fiquei em dúvida: 30 e poucos 'Mileis' é muito pouco - o preço que encontrei na internet é 8.600,00 Mileis, o que dá R$ 52,00. Mas 30 mil Mileis seria praticamente o triplo. De qualquer maneira, você confirma que o preço dele aqui é um disparate... o que confirma os ditos deste Enochato.

      Obrigado!

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